Manuel Arouca em entrevista ao Magazine Estado com Arte fala do seu livro autobiográfico “De playboy a peregrino”, onde faz uma compilação de acontecimentos da vida e da sua experiência de fé em Jesus Cristo.
Autor dos livros “Filhos da Costa do Sol”,” Deixei o meu Coração em África”, e ainda “Ricos, bonitos e loucos”, define-se como um escritor “rebelde”, atinge sucesso comercial nos anos 80, mas foi com o guionismo de novelas nos anos 90 para as televisões nacionais que atinge maior popularidade, tendo sido o primeiro guionista em Portugal a derrotar as audiências de novelas da Globo com a novela “Jardins Proibidos”.
Com a conversão ao catolicismo dedica-se à produção e investigação de documentários sobre a vida de santos como Nossa Senhora de Fátima, é também autor de livros de santidade no meio do mundo como Guido Shaeffer e Jacinta.
A reviravolta da sua vida dá-se com o casamento com a sua mulher Cristina, mas “uma sensação de vazio” leva-o a uma peregrinação a pé a Fátima onde foi “à procura do sentido da vida”, animado pelo primo António Pinto Leite.
Manuel Arouca no livro autobiográfico “De playboy a peregrino” quis dar testemunho de vida, e de fé, mas o autor confessa ao Magazine Estado com Arte que a ideia inicial seria fazer um documentário, formato que gosta de trabalhar. Decidiu escrever o livro para contar a vivência de “muitas experiências, muitas transformações tanto exteriores, como interiores, circunstâncias da vida”, os filhos desafiaram-no a escrever este livro, porque “o pai sabe tantas histórias porque é que não escreve?”
Estudou a licenciatura de Direito, entrou aos 25 anos através do exame “ad hoc” na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, foi o seu Professor de Direito Administrativo, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. O primeiro-ministro António Costa foi seu colega, que passava com “aquela diplomacia dele”, mas Manuel Arouca diz que “na altura era mais famoso,” tendo levado 6 anos para tirar o curso.
Entre os 25 e 27 anos escreveu os “Filhos da Costa do Sol”, livro editado aos 29 anos quando ainda estava em Direito.
A escrita surge na sua vida de forma “imprevisível”, aos 12 anos, era disléxico e sentiu muito o choque da vinda de África para Portugal, especialmente o encontro de uma sociedade, Cascais, muito fechada com muitas regras, “estava habituado à selva”.
Pela sua sensibilidade os pais pensavam em inscrevê-lo num colégio interno em Santo Tirso, mas a mãe” viu algo que não estava bem. Recorda a preocupação da mãe que é “extraordinária”, o pai também fomentava muito a leitura com Júlio Verne, os irmãos liam muito, a Mãe percebeu que havia qualquer coisa de errado com o filho Manuel. “Eu era um desastre, não lia, trocava as letras todas em vez de dizer galosina dizia zagolina em vez de dizer licor dizia Leonor.”
Não fez terapia da fala, porque à época dos anos 60 ainda não era utilizada na educação. “Fui ao colégio São João de Brito, que estava muito à frente, os testes deram dislexia, aí perceberam que tinha de ser acompanhado por uma professora fantástica, a Dra. Maria Elisa Vale do Rio, que veio a ser muito conhecida e afeiçoou-se muito a mim, não curei completamente a dislexia, devia ter ficado mais tempo com ela. Ela profetizou o que ia acontecer: o Manuel não precisa mais de vir, há de escrever um livro e ser advogado.”
Carreira no guionismo de televisão
No total fez dez novelas, para RTP contam-se “Os Homens da Segurança” (1988) e “Ricardina e Marta” (1989/1990), para TVI o grande marco foi a novela “Jardins Proibidos”, e para a SIC escreveu a novela “Podia Acabar o Mundo” (2008/2009).
“Gostava de escrever para novelas, sentia-me agradecido, é um trabalho de equipa que vemos nos ecrãs, que chega a muita gente. Para mim foi importante, temos auto-estima, não é falsa humildade, também escrevi a novela de viragem “Jardins proibidos”, numa altura em que a indústria começou a investir nas novelas.”
O trabalho com os realizadores, e atores “foi muito enriquecedor”, mas não é o formato que mais gosta.
Vê esta época de muito sucesso como um tempo de “grande viragem e com sinais muito bonitos”, altura que coincide com o nascimento da filha mais nova.
Ponto de viragem: a peregrinação a Fátima
Tinha ido numa peregrinação a Fátima, 3 anos antes, estava numa fase espiritual, “sentia-se muito sereno”, reconhece que foi “uma fase muito bonita da nossa vida”, recordada com alegria, assume o escritor.
Nos anos 90 começou o documentário sobre Vida do Eusébio, nessa altura casou pelo civil, nasce a 1ª filha, e escreve as novelas “Verão Quente” e “1º amor”, um conjunto de trabalhos de grande sucesso, mas garante que nos anos 80 teve mais sucesso com o livro “Os Filhos da Costa do Sol”.
“O que me leva à peregrinação é um grande vazio interior. Estava casado, mas não me sentia feliz, comecei a ter experiências esotéricas, comecei a ir a uma astróloga que dizia que tinha de sair de casa, fiz tudo o que me disse: separei-me para ter sucesso. Comecei a ir aos encontros desta astróloga, senti tranquilidade, mas estava na agenda uma ida a Fátima a pé, por causa de um artigo que li no Expresso, de um primo chegado, o António Pinto Leite. A minha mãe é prima direita da mãe dele. Disse-lhe: António o que é que se passa? Grande artigo, grande experiência. Ele contou-me e inscrevi-me. Quando me pus a pé…foi brutal. É difícil explicar, mas a escrever vamos a fundo.”
Pergunto como foi a conversão à Igreja Católica, para Manuel “há uma conversão a Deus com o filho Jesus Cristo, na 1ª fase era muito de Nossa Senhora, pelo amor maternal, a minha mãe teve uma influência muito forte na minha vida, na nossa vida, a vida da minha mãe merecia um filme.”
Guionismo de Documentários religiosos
“Nessa altura casei pela Igreja, deu-se uma situação muito bonita na Capelinha, mas nem sabia rezar Avé Maria, como aconteceu com os pastorinhos. Houve uma transformação e muito reencontro, um exame de consciência que acabou numa confissão com o Padre João Seabra que me disse uma coisa muito bonita: “É nestes dias que vale a pena ser Padre.” Mas disse-me: “Manel estás numa lua de mel, mas prepara-te para a luta.”
A mulher batizou-se antes do casamento católico, fez a sua caminhada espiritual com amigas pelo movimento do Renovamento Carismático. Casaram no dia 12 de Outubro em 1997.
Em 1999 Manuel e a mulher Cristina realizaram o documentário “Mistérios de Fátima” com a particularidade de não envolver a instituição do Santuário de Fátima, o que para o autor “também é bom, porque é muito genuíno. Tivemos o apoio do padre Cristino, compilou a documentação crítica de Fátima. Ajudou a localizar a família do administrador, entrevistámos o filho do administrador, foi um documentário em 3 episódios” que contou com a ajuda do António Pinto de Leite, e a produtora Valentim de Carvalho.
“Na fase pós-novelas senti que o ciclo das novelas estava a fechar-se, queria fazer coisas que dissessem alguma coisa às pessoas e com a minha fé. Estava a embrenhar muita na história de Fátima, e Jacinta. Em 2007 é quando começo a sentir que quero criar uma indústria que tenha a ver com a nossa fé.”
“Histórias extraordinárias”
Escreveu ainda os livros de santidade de Guido Shaefer, Jacinta e São Francisco Xavier, está já em preparação o filme sobre o Guido Shaefer. O guionista quer fazer um filme de Santo António, anda à procura de financiamentos com a produtora Coral, um guião de 3 episódios.
Outro projeto em carteira é sobre a Santa Beatriz da Silva, a figura desta santa portuguesa “tem um impacto muito grande na América do Sul”. Seguem-se para breve os projetos de filme de São Francisco Xavier, Santo Condestável. Confessa que escrever este livro “foi uma forma de pensar a luta com Deus, como Jacob, foi isso que me levou a escrever. “
Para o guionista a Cultura Portuguesa está “cada vez mais apetecível para os estrangeiros que se sentem cada vez mais atraídos pelo nosso país. Portugal foi a primeira aldeia global no mundo, há que não ter vergonha de o dizer, e a fé e o cristianismo também são muito importantes nesta aldeia global.”


