70 chefes de Estado de Estado na BRICS Summit

Marta Roque

A 15º cimeira de líderes dos países BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul- decorre de 22 a 24 de Agosto, em Joanesburgo, na África do Sul, o encontro vai debater a possibilidade de expandir o bloco para incluir dezenas de nações do “Sul Global.”

Xi Jinping, Presidente da China, vai marcar presença na cimeira, nesta que se trata a 2ª visita ao exterior, este ano, após ter visitado a Rússia em março. Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente do Brasil, Narendra Modi, Primeiro Ministro da Índia, António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e  70 chefes de Estados já confirmaram presença na BRICS Summit.

O presidente russo, Vladimir Putin, que enfrenta um mandado de prisão internacional por crimes de guerra na Ucrânia, não se vai juntar aos líderes do Brasil, Índia, China e África do Sul, mas participa via video-conferência.

O encontro deste grupo tem três tópicos na agenda: criação de uma nova moeda internacional, assente no valor de metais preciosos e outros activos, no sentido de combater a predominância do dólar americano; o debate da posição do New Development Bank no apoio ao desenvolvimento económico do Sul Global, particularmente de África; e a integração de novos membros grupo dos BRICS, com Indonésia e Arábia Saudita à frente de 20 países interessados em ingressar no BRICS.

Na agenda da cimeira de Joanesburgo deste ano está a possível ampliação dos BRICS, vários países africanos manifestaram o desejo de ingressar no bloco, incluindo Argélia, Egito e Etiópia, tendo sido convidados todos os estados africanos.

O Ministério das Relações Exteriores da China, à agência Reuters, disse que “apoia o progresso na expansão da adesão e dá as boas-vindas a mais parceiros com ideias semelhantes para se juntarem à ‘família BRICS’ numa data futura”.

A Rússia precisa de parceiros para combater o isolamento diplomático em relação à Ucrânia e, pretende atrair novos membros, tendo como mais importante aliado africano, a África do Sul.

O Banco dos países BRICS, o New Development Bank deve fazer um grande anúncio durante a Cimeira dos Brics em Joanesburgo, numa altura em que comemora oito anos de existência.

Para Leslie Maasdorp, presidente do New Development Bank, afirma em artigo no site do World Economic Forum  que “chegou a hora de novas economias de mercado emergentes competirem por influência e refletirem a mudança no equilíbrio do poder econômico e político.” Para o governante sul africano os BRICS têm o potencial de exercer uma poderosa influência na política e na economia mundiais como a “coligação do sul global” em muitas questões. Isso inclui mudanças climáticas, segurança alimentar e a reforma de instituições multilaterais, como o FMI e o Banco Mundial, para refletir o mundo de 2012 em oposição ao equilíbrio de poder pós-1944.”

O Novo Banco de Desenvolvimento, fundado pelos países do Brics em 2015, anunciou que financiará projetos que visam abordar a capacidade de transmissão de eletricidade na África do Sul. Leslie Maasdorp, diz que o banco está pronto para ajudar a África do Sul.

Cyril Ramaphosa, o presidente da África do Sul, e o ministro da Eletricidade, Kgosientsho Ramokgopa, levantaram preocupações sobre os desafios em torno da rede de transmissão eléctrica do país, a questão da transmissão “ainda é um grande problema”, revela o site do BRICS.

REUTERS

Agenda Cimeira: criação de um centro de vacinas e uma nova agência de rating de crédito.

Bernardo Mendia, Secretário Geral da Câmara de Comercio Portugal-China, em artigo no Estado com Arte Magazine acredita que estão em marcha para a cimeira outras iniciativas e novas entidades como a criação de um centro de vacinas e uma nova agência de rating de crédito.

Prevê-se não apenas a expansão do bloco, mas “sobretudo o facto de este grupo de países já não abdicar” de uma posição de igualdade no panorama das relações internacionais e das multilaterais financeiras mundiais, esclarece o gestor.  “Isso passa, desde logo, por uma nova arquitetura dessas mesmas multilaterais, onde não existam países predominantes e controladores – nomeadamente no Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial -, mas sim igualdade na governança dessas instituições e na partilha dos respectivos poderes, ou seja o reconhecimento da soberania e igualdade entre cada país do Sul e do Norte Globais.”

“O papel de defesa do livre comércio e das vantagens da abertura das economias, é hoje liderado por este bloco do sul, quando até há cinco a dez anos atrás era sobretudo liderado pelos Estados Unidos e Europa, que se tornaram hoje territórios muito mais protecionistas perante a ameaça de terem de partilhar poder”, afirma Bernardo Mendia.

Os BRICS representam as preocupações da maior parte da comunidade internacional de países e consideram que a minoria do grupo de cerca de 50 países que controlam aquelas instituições, nomeadamente os EUA (este com uma posição mais predominante entre os países desenvolvidos), Canadá, Inglaterra, União Europeia, Suíça, Noruega, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia, não ouvem os restantes 150 países, que representam 6.77 biliões de pessoas, cerca de 85% da população mundial.

O diálogo e a negociação “são essenciais” para uma convivência pacífica. Com ou sem diálogo este movimento de reajuste de poderes está em marcha e é, também, “uma oportunidade para um país como Portugal – histórica e culturalmente ligado aos dois blocos -,” surgir como a ponte diplomática de reconciliação e aproximação.”

“As vacinas para a Covid19 deixaram no hemisfério sul um trauma grande e de difícil reparação, expondo uma ausência de solidariedade escandalosa do hemisfério norte rico. Valeu sobretudo a China, que enviou vacinas e equipas médicas para mais de 50 países em desenvolvimento.”

É provavelmente por isso, justifica Mendia, que o centro de vacinas do bloco BRICS deverá avançar já na reunião de Johanesburgo, para que no futuro os países mais pobres não fiquem dependentes de terceiros.

Por outro lado, o hemisfério norte não “pode continuar a realizar majestosos encontros internacionais com países do hemisfério sul, onde se proferem grandes promessas de apoio e desenvolvimento que depois não se concretizam”

Os países em desenvolvimento já não acreditam no hemisfério norte, fizeram questão de o dizer na Cimeira de Paris, onde se discutiu quem vai pagar a conta das mudanças climáticas.

Já não se trata apenas dos 100.000 milhões de dólares americanos anuais prometidos em 2009 para a industrialização sustentável dos países sub-desenvolvidos que nunca avançaram.

A China, devido à sua capacidade técnica e financeira, tem “um papel crucial nesta missão” de levar o desenvolvimento económico aos países do hemisfério sul e tem reiterado disponibilidade para o fazer em colaboração com o Norte Global. O gestor defende que “é do interesse de Portugal posicionar-se como observador atento e país apoiante” do grupo dos países BRICS.

O bloco BRICS ganhou expressão em 2001, quando o economista Jim O’Neill, da Goldman Sachs, publicou um estudo intitulado “Building Better Global Economic BRICs”, sobre as grandes economias emergentes. O grupo criado foi em 2006 pelo Brasil, Rússia, Índia e China, reuniu-se pela primeira vez em 2009 e estabeleceu uma agenda focada na reforma da ordem internacional, visando maior protagonismo dos países emergentes em organizações como as Nações Unidas, o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional. Em 2010 o BRICS foi alargado com a entrada da África do Sul.

Na edição deste ano cerca de 20 países, incluindo Argentina, Bielorrússia, Arábia Saudita, Egito e Turquia, manifestaram interesse em aderir ao grupo BRICS.

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