Miguel Ferreira Pinto e o seu irmão Pedro fazem a dupla Iron Brothers, competem a prova Ironman, uma distância de triatlo que consiste em 3.8klm a nadar, 180 klm a pedalar e 42 klms a correr, “é duríssimo” confessa Miguel em entrevista ao Estado com Arte Magazine.
O irmão Pedro ajuda-o a conseguir terminar a prova com a recordação de memórias familiares que “o tiram” do momento difícil, e que levam Miguel a atingir a meta.
A 1ª vez que participaram na competição Iron Man atingiram o record do mundo em Hamburgo, em 2022, são a 1ª dupla a terminar a prova fora dos Estados Unidos, o “que é muito raro”.
A nível mundial são a 5ª dupla a concluir a prova altamente exigente em termos de resistência física.
Os 2 irmãos começaram esta dupla desportiva em nome da inclusão no desporto, mas agora serve para mostrar que “não há nada na vida que não consigamos fazer, desde que nos entreguemos de alma e coração.”
A maior parte das provas dos Iron Brothers são realizadas em Portugal, uma vez que as participações em provas internacionais são muito caras, exigem sempre muitos custos de materiais. Ainda assim, internacionalmente já participaram em provas Iron Man em Hamburgo (Alemanha), Atenas ( Grécia), Brasil e Espanha. Fazem uma prova de Iron Man por ano.
Existem poucas duplas no mundo do triatlo com paraplégico, há uma dupla em Portugal integrada no projeto, e existe uma dupla polaca, um padrasto com afilhado, em Hamburgo, mas que não terminaram a prova.
A prova Iron Man ficou célebre pela distância no triatlo de 3.8klm a nadar, 180 klm a pedalar e 42 klms a correr. Há provas desta distância organizadas por outras empresas, mas esta ficou celebrizada como a distância Iron Man.
É “duríssimo, em especialmente duro para quem não se prepara. Custa mais fazer os treinos do que a prova.” O irmão Pedro, paraplégico, treina para aguentar os solavancos. Miguel confessa que o irmão Pedro o ajuda a aguentar a dureza das provas com a recordação de memórias familiares, “tira-me a cabeça de onde estou para atingir a meta. Quando uma subida é mais dura, ele percebe que o momento não está fácil e anima-me.”
Miguel Ferreira Pinto, da dupla Iron Brothers, participa com o seu irmão Pedro na prova de triatlo Iron Man. Tudo surgiu com o convite foi feito pelo irmão Pedro, paraplégico, conta-me Miguel.
Começou por fazer natação de competição na infância, fez vários desportos na adolescência, até que experimentou o crossfit, mas contraiu uma lesão na coluna, o médico disse que teria de estar 6 meses sem pegar em pesos, “como era mau na resistência cardiorrespiratória”, lembrou-se de fazer triatlo e juntar-se amigos que já faziam esta modalidade. Optou por começar a correr e andar de bicicleta.
Desafiado por uma amiga do crossfit fez o triatlo de Oeiras, muito curto, como faltava ainda tempo para a recuperação da coluna até aos 6 meses fez a prova Iron Man Cascais, que na altura era mais curta, metade do Iron Man. Começou a treinar com uma bicicleta emprestada.
Numas ferias em família no Algarve recebeu um vídeo de uma amiga sobre 2 irmãos, como Miguel e o Pedro, que fizeram a prova de Iron Man, nos Estados Unidos.
“Foi uma choradeira pegada. O Pedro tem um olhar muito característico de como quem diz: eu quero. Eu disse-lhe: Nem pensar, tu és maluco, eu nem sozinho consigo acabar a prova, quanto mais levar-te a ti às costas. Fazer a prova não, mas como vou fazer a prova de Cascais, posso angariar dinheiro para a Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa, vendo espaço publicitário no meu fato da prova e tu ajudas-me a divulgar isto. Juntos vamos angariar dinheiro para a prova.”
O Pedro tem paralisia cerebral, “olha de forma muito especial para a vida”, nasceu numa família que lhe pode dar tudo aquilo que ele precisa. Mas “tem consciência” que o centro onde tem assistência tem muitas lacunas, na Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa, dependente da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, no Lumiar, tem falta de materiais durante o dia, falta dinheiro para pagar vencimentos.
As carrinhas são muito antigas, sem ar condicionado, “são uma sauna no verão e no inverno é gelado, não têm condições nenhumas”, revela Miguel.
O Pedro sempre ajudou a associação, chegou a “angariar dinheiro para os atletas paraolímpicos” para poder ir aos jogos paraolímpicos.
“Quando acabei a 1ª prova do Ironman, onde arranjámos dinheiro para a Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa, o Pedro estava à minha espera na linha de chegada, e nesse momento não lhe pude dizer mais que não. A prova correu tão bem que disse que vamos experimentar. Para mim isto sempre foi pelo Pedro, mas ele viu uma oportunidade de em 1ª mão ajudar os outros, e de chamar a atenção das pessoas necessidades de inclusão das pessoas com paralisia cerebral, da inclusão no desporto, na sociedade.”
O 1º triatlo em que participaram foi em novembro de 2019, ainda de forma incompleta não tinham os materiais necessários que são muito caros, mas desde o 1º momento têm apoio do Hospital da Luz, da GravityPaint, e Gold Nutrition.
A estes apoios foram-se juntando outras empresas, porque existem muitas necessidades de capital para dar a conhecer este desporto a outras pessoas.
A bicicleta de Miguel para o triatlo prende a cadeira especial do Pedro custa 11 mil euros. Este ano receberam apoio de empresa de bicicletas internacional Swift Bicycle.
A prova Iron Man
A famosa prova de triatlo começou com um pai e filho nos Estados Unidos, , mas que nunca conseguiram terminar uma prova.
Miguel e Pedro são a 5ª dupla a nível mundial a concluir a prova, e a 1ª dupla a terminar a prova fora dos Estados Unidos, o “que é muito raro”. A 1ª vez que fizeram a prova Iron Man atingiram o record do mundo em Hamburgo, em 2022. No Brasil não havia dupla. Terminaram em 1500ºlugar, mas ainda assim à frente de 300 pessoas.
A dupla Iron Man “mostra que quem quer faz”. Começou por ser uma coisa ligada à inclusão, mas agora serve para mostrar a todos que “não há nada na vida que não consigamos fazer, desde que nos entregamos de alma e coração ao que fazemos.”
Pedro apesar de ter limitação física complexa, não tem autonomia nenhuma,” é muito inteligente, faz tudo menos pela via obvia, por várias vezes se não fosse o Pedro não tínhamos acabado.”
Treinam 2 vezes por dia ciclismo, natação, e ginásio. Pedro faz 1 treino por dia dentro e fora de água. Quando as provas se aproximam fazem pequenas simulações em provas de 10 klm, usam 3 meios Iron Man como treino para a grande prova.
Não é trabalho, mas há dias que parece, assume que é “um prazer fazer isto. Fui escuteiro até aos 21 anos, e nos caminheiros andam muito a volta do muito do homem novo” ( uma parábola do Novo Testamento que resume aquele deixa o mundo que o rodeia melhor do que o encontrou.)
“Se toda a gente abraçasse o ideal do homem novo o mundo estava melhor, porque todos tínhamos mudado para melhor o mundo que nos rodeia. É a minha contribuição para o Pedro, ele sim que tem essa missão para a inclusão da pessoa com deficiência.”, diz-me Miguel.
“O amigo” do Papa Francisco
O irmão Pedro já esteve 4 vezes com o Papa Francisco, da 1ª vez que esteve com o Papa foi com os pais, a 2ª foi com o pai, é vice-reitor da Universidade Católica, que foi com os filhos a encontro das Universidades Católicas no Vaticano, a 3ª vez o Cardeal Tolentino, amigo dos pais, convidou-os para um encontro com o Papa e levaram camisolas para serem benzidas pelo Papa, mas não conseguiram abrir a boca quando Francisco se aproximou deles, e a 4ª vez foi na JMJ23lisboa.
Exemplo de orientação
Pedro é o elemento agregador da família. “Representa para nós um fator de união. Sinto que ao fazer isto, estou a devolver o que ele me dá. Pergunto o que lhe dá o irmão: “O Pedro dá-me exemplo, uma orientação. Às vezes as pessoas não entendem se o Pedro sabe o que esta a fazer. Agora em maio a TVI acompanhou-nos a prova Iron Man no Brasil, estava a cair uma chuva tropical veio uma sensação fria da Argentina, e o Pedro estava com hipotermia e quando parou de chover perguntei-lhe se queria desistir e respondeu que não, mas põe-me bem. Mudei-lhe a roupa. E vê-se que ele não queria desistir. Muita gente que não entendia o Pedro passou a perceber com esta reportagem.”
Têm uma mensagem para dar às pessoas: “juntem-se, unam-se, ajudem-se uns aos outros e lutem. Que é o que nós fazemos. No limite que admirem a nossa luta.”
Miguel Ferreira Pinto, foi advogado até aos 36 anos, agora é personal trainer, depois de estar um ano a estudar à noite, seguiu o exemplo que aprendeu “temos de perseguir os nossos sonhos, com os Iron brothers percebi que tudo é possível.”


