Pausa Mental

Bernardo Almeida

Pausa Mental será uma rubrica semanal já a partir de setembro,  um tema que afecta este lado das nossas vidas, e de uma perspectiva masculina que ainda é silenciada e silenciosa. Irá ser um espaço de reflexão, de perguntas e opiniões onde falarei com peritos e darei a conhecer também novas formas de terapia deste mundo que não pára.

Pertenço à geração de finais dos anos setenta ainda dentro daquilo que é denominada de geração X. Sou de um tempo entre tempos cujo maior atributo é a adaptabilidade.

Cresci com o telefone de fio e na mesma década já se jogava jogos de computador. A rapidez das mudanças tecnológicas forçou a necessidade da adaptação numa altura onde quase tudo era já fugaz.

Porém, na onda desta azáfama que foram os anos 80 e 90 houve alguns aspectos que cuja importância e pertinência só agora começam a dar os primeiros passos dentro de uma sociedade de indivíduos medrosos pela sua vulnerabilidade.

Falo, claro, da saúde mental e da negligência cultural que esta dimensão da saúde humana teve e tem e os desequilíbrios que essa enorme imprudência infligiram no tecido social, nas relações profissionais e interpessoais.

Lembro-me das frases superficiais que defendiam mais quem as diziam do que beneficiavam os que as ouviram vezes sem conta. “Ah isso é só nervos, já passa” ou “tens medo compra um cão” ou a mais implacável e ridícula de todas, “não te faças de vítima!”

Ora, eu tenho uma relação longa com a ansiedade e a depressão e é pena que só nestes últimos anos se possa falar sobre isso sem se cair no vazio. Sou mais um indíviduo que não pôde falar sobre isso em tempo útil, que não entendia porque é que tinha determinados comportamentos e que vivia desfasado entre uma personagem e uma pessoa.

Há uns poucos anos a esta parte comecei a escrever para uma publicação britânica cujo assunto dominante era a saúde mental e foi aí que iniciei a minha escrita jornalística. Escrevi artigos relativos à minha experiência pessoal, fiz entrevistas e falei com especialistas nesta matéria.

Entendi que tinha criado um espaço para mim e sobre algo que me era demasiado forte para ficar apenas na minha cabeça. Assim usei o que aprendi na Universidade e iniciei um caminho. Falar sobre isto. Dinamizar conteúdos que me eram acessíveis, num país que já criara as condições para se falar abertamente sem receios de represália ou rejeição. Das muitas coisas boas que o Reino Unido teve para mim, esta é claramente a mais importante.

Por consequência da pandemia voltei ao meu país de origem em que deparei-me com os primeiros passos que estavam a ser dados relativos à saúde mental, também estes derivados da covid-19.

Foi preciso uma quarentena colectiva para se entender que a saúde mental existe, e que a falta dela acarreta implicações tanto nefastas como evitáveis. Mas enfim, não há nada como a necessidade para catapultar as mudanças.

Há já algumas associações dedicadas à saúde mental, figuras públicas que criaram Podcasts para falarem sobre este assunto e existe até um festival anual onde são abordados os temas sobre o que se passa nas nossas cabeças.

No entanto, não existe na imprensa nacional muitos locais onde se fala amplamente sobre isto. Ainda falta fazer alguma coisa para que as decorrências da saúde mental alcancem o seu espaço no espectro da normalidade do dia-a-dia jornalístico.

Por essa razão assinarei a Pausa Mental. Será uma rubrica semanal já a partir do mês que aí vem, afecta a este lado das nossas vidas, e de uma perspectiva masculina que ainda é silenciada e silenciosa. Irá ser um espaço de reflexão, de perguntas e opiniões onde falarei com peritos e darei a conhecer também novas formas de terapia deste mundo que não pára.

Escrevo, porque é preciso e porque eu preciso. Espero que haja por aí leitores que gostem e se identifiquem. De qualquer formas, eu abro o diálogo deste lado.

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