The Killer de David Fincher

Bernardo Almeida

Título: The Killer. Género: Crime, Thriller. País de Origem: EUA. Plataforma: Netflix. Criador: David Fincher. Actores principais: Michael Fassbender, Tilda Swinton. Nota: 7

Recensão

Estreou na passada semana, na plataforma Netflix o filme, The Killer, a obra mais recente do realizador americano David Fincher.

Baseado no livro francês de 1998 “Le Tueur”, escrito por Alexis Nolent e agora adaptado para filme por Andrew Kevin Walker, The Killer conta a história de um assassino que, após uma tentativa de assassinato falhada com consequências graves, resolve ir atrás dos seus empregadores com sede de vingança.

Michael Fassbender, é um assassino excepcional, prefecionista que planeia todos os seus “trabalhos” de forma metódica e atempada. Este é o ponto de partida do filme que é dividido em capítulos.

Neste primeiro capítulo, Fincher dá-nos a conhecer as etapas de preparação deste assassino sem nome.  Fazendo uso da voz de narrador, Fassbender demonstra o aborrecimento das suas tarefas enquanto espera pela sua vítima. Através da sua lente assassina, que é um símbolo da lente de espingarda cuja mira é visível, Fassbender vai observando o dia-a-dia das pessoas, mostrando as suas vulnerabilidades e a facilidade em tirar-lhes a vida.

Naquilo que é uma fração de segundos, o tiro fatal na sua vítima falha, e todo o ritmo do filme anteriormente pausado com discursos de metodologia e precisão, é substituído pela rapidez e constante necessidade de improvisação.

Esta dicotomia cheia de ironia dita o resto do filme. Conforme os trilho de cadáveres vai aumentando, o assassino vai encurtando a distância com as suas vítimas. Para isso, vai assumindo inúmeras personagens, indumentárias e nomes para proteger o anonimato e manter a sua conduta profissional que, conforme o filme vai progredindo, a vai perdendo.

No ponto central do filme há uma luta que simboliza uma outra luta, aquela que é interior, entre os códigos de conduta frios e a força bruta da personalização da vingança.

Esta personalização dá mais um passo em frente quando o assassino insiste em confrontar a última vítima fatal, interpretada por Tilda Swinton. Este confronto é também ele simbólico da viagem interna do assassino, já que nesta conversa ele é visto e posto a nu quanto às suas verdadeiras intenções por detrás dos seus mantras.

Apesar do tom sombrio quer da fotografia, quer da personagem, The Killer tem alguns, poucos momentos de humor, provenientes das poucas linhas de diálogo e de situações como o uso de um ralador de queijo e uma arma numa batalha contra um brutamontes.

The Killer tem alguns temas comuns de Fincher como a obsessão e poder, presente em filmes como Seven e mesmo Fight Club. O perfeccionismo da personagem principal e a sua obsessão, serve como espelho para o próprio realizador que é conhecido por incorporar estas mesmas características nos seus trabalhos.

São amplas as marcas familiares que aparecem neste filme, como a Amazon, Starbucks, Macdonalds e até a Wordle. As suas presenças são uma crítica de Fincher à mercantilização dos nossos dias, ao mesmo tempo servem como uma distração activamente explorada pelo assassino para “trabalhar”.

Apesar do estilo cinematográfico escuro de Seven e as críticas à sociedade de Fight Club, The Killer tem várias referências e homenagens ao imaginário americano, como “Janela Indiscreta” na observação de transeuntes e na simbologia, nessa mesma observação do quotidiano, visto por alguém que é “diferente”. Também os nomes fictícios que o assassino vai usando, são nomes de personagens de séries de televisão antigas, como Sam Malone da série “Cheers” ou Archibald Bunker da série “All in the Family.

The Killer segue a convenção do trajecto da personagem principal, o seu ponto de partida e como através da história e do conflito, ela muda e no fim já não é a mesma. Por outro lado, e isto é talvez o que faz o filme funcionar, a impiedade do assassino é contínua e os murais de Hollywood são substituídos pela frieza de uma das frases do filme “I am what I am”.

Fassbender é uma escolha acertada. As caras e poses silenciosas e as suas justaposições com o diálogo narrativo conseguem criar esta personagem, que tanto parece indiferente ao mundo, como é capaz de disparar a sua arma a qualquer momento e a seguir beber um café.

The Killer originalmente pertence a uma série de livros, e se os lucros e audiências forem altos, talvez o assassino volte a andar pelo mundo a matar. Está disponível na plataforma Netflix.

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