Ciência e Fé: um diálogo possível?

Susana Mexia

Acaba de sair o livro “Nuevas evidencias científicas de la existencia de Dios de José Carlos González-Hurtado, o presidente do  canal de televisão EWTN Espanha. Uma edição da Voz de Papel.

Este best-seller aborda com precisão o trabalho e a conclusão de cientistas muito prestigiados no século XXI, dos quais alguns Prémios Nobel, que acreditam na existência de Deus, derrubando o preconceito ou estereótipo de que Ciência e Fé são caminhos opostos e defendendo que crer em Deus é mais razoável do que ser ateu.

Nos séculos XIX e XX os racionalistas puros e sem fé, conduziram o conhecimento para um novo deslumbramento prometeico, julgam-se deuses, querem criar um novo mundo e um homem sem Deus.

As ciências experimentais operam exclusivamente sobre quantidades mensuráveis e formulam as suas teorias sobre elas. Deus não se encontra no campo do conhecimento científico, e por este motivo, as ciências experimentais não podem demostrar a Sua inexistência.

Face a este processo de criação a partir do nada e instantaneamente, não é difícil imaginar que alguns cientistas se sintam um pouco desconfortáveis ou mesmo incomodados com um “Criador”, omnipresente, omnipotente, imaterial e não físico, de onde se pode inferir que este algo ou “Alguém” não está qualificado na área da ciência, disciplina assumida como estritamente materialista.

Francis Collins (n. 1950)  o pai do genoma humano, geneticista norte-americano, demonstra que a ciência conduz à evidência de um Criador. Inicialmente ateu, reconheceu que o Deus da Bíblia é também é também o Deus do genoma, e também se pode rezar na Catedral e no Laboratório.

William Phillips (n. 1948) físico e Prémio Nobel em 1997, contribuiu de forma notável para o desenvolvimento da refrigeração laser. Em 2002, escreveu: “Há perguntas a que a ciência não pode responder, como “por que é que o universo existe?”. Eu creio que a resposta a esta pergunta é “porque Deus o criou”.

John Lennox (n. 1943) matemático e professor na Universidade de Oxford, Lennox destacou-se pelas suas contribuições matemáticas e pela sua firme defesa da compatibilidade entre os cientistas e Deus. Foi um defensor da Teoria do Multiverso, criada por cientistas ateus para negar a evidência de um Criador, porque “crer em Deus é uma opção infinitamente mais racional que a alternativa de crer que qualquer universo que possa existir de facto existe.

John Polkinghorne (1930-2021)  da Quântica à Teologia foi professor de Física Matemática na Universidade de Cambridge, presidente do Queens College, professor em Princeton, Berkeleyy Stanford, nomeado cavaleiro pela Rainha de Inglaterra em 1997 e Prémio Templeton, em 2002.

Sobre a problemática “a existência de Deus é a questão mais importante com que nos enfrentamos sobre a natureza da realidade”, a sua resposta foi decidir ser sacerdote e teólogo da Igreja anglicana aos 47 anos.

Freeman Dyson (1923-2020) visionário da Física Teórica, não só contribuiu para a  electrodinâmica quântica, mas também explorou a intersecção entre astrofísica, biologia, ciência e fé. Deixou escrito: “ quanto mais examino o universo e os detalhes da sua arquitectura, encontro mais e mais evidência de que o universo sabia que nós íamos vir, não vejo outra explicação possível que a vontade de um Criador”.

Allan Sandage (1926-2010) pioneiro na Cosmologia, astrónomo norte-americano, discípulo e continuador de Hubble, não só contribuiu fundamentalmente na cosmologia como também explorou a relação entre a Bíblia e a ciência.

Ateu durante 50 anos, o seu estudo sobre o cosmos levou-o, em 1983, a anunciar a sua conversão ao cristianismo afirmando: “Dentro do terreno da ciência não se pode acrescentar mais nenhum detalhe sobre a criação do que já se disse no primeiro livro do Génesis”.

Richard Smalley (1943-2005) também se converteu ao cristianismo, foi prémio Nobel de Química em 1996, e considerado por muitos como o pai da nanotecnologia.

“Embora suponha que nunca entenderei o todo, agora penso que resposta é muito simples: é verdade. Deus criou o universo há 13.700 milhões de anos e necessariamente Ele envolveu-se na Sua criação desde o princípio”, justificando assim porque deixou de ser ateu.

A comunidade científica tende a distanciar-se de uma corroboração ou refutação de Deus. Actualmente não existe nenhuma prova científica conclusiva de existência ou inexistência de Deus, o que é perfeitamente coerente com a declaração de que Deus não faz parte do escopo analítico da Ciência.

Também alguns testemunhos de padres cientistas, que genuinamente e com todo o amor à Ciência e à Teologia, impulsionaram a evolução do conhecimento científico, dando graças ao Criador.

São Silvestre II (945-1003) foi o primeiro Papa francês da história, grande matemático. Um dos primeiros divulgadores dos numerais indo-arábicos na Europa cristã, introduzindo em França o sistema decimal islâmico e o uso do zero, facilitando assim os cálculos.

Santo Alberto Magno (1193-1280) sacerdote dominicano, bispo e Doutor da Igreja. Também foi filósofo, geógrafo e um químico famoso, a quem se atribui a descoberta do arsénio.

Roger Bacon (1214-1294) frade franciscano conhecido como “Doutor Admirável”. Fez estudos e pesquisas em mecânica, óptica e geografia, além da filosofia. Precursor do método científico moderno, defendeu que “a matemática é a porta e a chave de toda a ciência”.

Nicolau Copérnico (1475-1543) sacerdote polaco, é considerado o pai da teoria heliocêntrica e da astronomia moderna. Também foi matemático, astrónomo, jurista, físico, político, líder militar, diplomata e economista.

Francesco Maria Grimaldi (1618-1663) padre jesuíta italiano, físico e matemático, construiu e usou instrumentos para medir as características geológicas da lua e desenhou um mapa que foi publicado por Giovanni Battista Riccioli. Foi pioneiro nos estudos sobre a difração da luz.

Bartolomeu Lourenço de Gusmão (1685-1724) sacerdote jesuíta, cognominado o padre voador, foi cientista e inventor luso-brasileiro, precursor da aviação famoso por ter inventado o primeiro aeróstato operacional, a que chamou “passarola”.

Ruder Boskovic (1711-1787) físico, astrónomo, matemático, filósofo, poeta e sacerdote jesuíta, da República de Ragusa (hoje Croácia). Influenciou as obras de Faraday, Kelvin, Einstein, e outros.

Jean-Baptiste Carnoy (1836-1899) sacerdote belga e cientista na área da citologia, é dele a criação da importante fórmula da medicina conhecida como “solução de Carnoy”.

Johann Georg Hagen (1847- 1930). Entrou na Companhia de Jesus na Alemanha, em 1863. Foi matemático e astrónomo. Partiu para os Estados Unidos e foi nomeado director do Observatório da Universidade de Georgetown, em 1888. O Papa Pio X chamou-o em 1906, para assumir o controlo do Observatório do Vaticano, em Roma, onde viria a falecer em 1930. A cratera de Hagen, com 55 km de diâmetro, no lado oposto da Lua, recebeu o seu nome.

Georges Lemaitre (1894-1966) o padre da teoria do Big bang, sacerdote belga, astrónomo, cosmólogo e professor de física. Lemaître propôs a “hipótese do átomo primordial“, ou “ovo cósmico”, para estudar a origem do universo, o que veio a popularizar-se como a teoria do Big Bang.

Albert Einstein, ao escutá-lo numa conferência na Califórnia, comentou-lhe que a teoria da origem do universo por ele proposta, foi a mais bela e satisfatória explicação da Criação que ouviu em toda a sua vida.

Manuel Carreira Vérez (1931-2020) sacerdote jesuíta, teólogo, filósofo e astrofísico espanhol. É membro do Observatório Vaticano e trabalhou em numerosos projectos para a NASA. Foi sempre um firme defensor da compatibilidade entre ciência e fé.

Luís Archer (1926- 2011) padre e cientista português, é considerado um impulsionador da biogenética em Portugal. Foi distinguido em 2006 com o prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes, atribuído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, em nome da Igreja Católica. Com cerca de 250 trabalhos de investigação e seis livros publicados, participou na criação do Laboratório de Genética Molecular do Instituto Gulbenkian da Ciência, onde trabalhou durante mais de 20 anos.

Luís Archer foi o primeiro presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, entre 1996 e 2001, e em 1998 a Associação Portuguesa de Bioética, em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, atribuiu-lhe o Prémio Nacional de Bioética. Um cientista da vida, procurando cientificamente compreender, promover e elevar a dignidade da humanidade.

Existe uma ordem admirável no Universo que é facilmente verificada. Em todos os seres, o menor vegetal, por exemplo, tem órgãos para cada função ordenados para a preservação da espécie. Esta ordem pressupõe a existência duma Inteligência Suprema que tenha criado e ordenado o Universo.

Se do inerte não brota vida e se tudo o que existe está sujeito a uma intrincada e complicada ordem, é mister reconhecer que não é inteligível o universo ser obra do acaso, mas sim, o resultado duma Inteligência Primeira, mental e espiritual, incriada mas criadora.

Nenhuma coisa se cria por si mesma, no princípio dos princípios teve da haver “algo” que não procedesse de coisa alguma, pois o nada, nada gera.

Considerando que toda a matéria está sujeita ao princípio da inércia, e em qualquer lugar do universo encontramos movimento, este tem de partir de um Primeiro Motor, que não seja movido por nada, nem ninguém. (Aristóteles séc. IV aC.)

A ciência e a fé são totalmente compatíveis, são companheiras de viagem. Faz todo o sentido, que alguns dos grandes cientistas tenham sido também sacerdotes, e as suas vidas são provas irrefutáveis de que a Ciência também se faz com Sotaina.

Ao lermos este livro compreendemos como não só é possível, mas também necessário, unir a Ciência e a Fé em Deus. A Ciência é um caminho de crescimento, porque o Homem é um ser chamado a algo mais.

O nosso Universo é um lugar muito especial, perfeitamente ordenado, com uma inimaginável combinação de parâmetros, que estão muito para além de tudo o que pode e tem sido descoberto e demonstrado.

A realidade última é a fonte da qual brota todo conhecimento, está para além dos limites da ciência empírica, é Algo ou Alguém que não pode ser meramente descoberto, pois na realidade, Ele já foi identificado: “No princípio era o Logos”.

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