Há uma diminuição de jovens para concorrer às carreiras na GNR e na PSP. É importante avaliar a questão remuneratória, as infra-estruturas e equipamentos para atrair os jovens. Esta geração precisa de outras coisas “para além daquilo” que as carreiras das policias “têm para dar”.
As conclusões são de Paula Peneda, superintendente da PSP e Carla Tomé, 1a coronel da GNR na última conferência do ciclo de debates “As mulheres e o 25 de abril – 50 anos de democracia. 50 anos de igualdade? no Grémio Literário.
Paula Peneda, superintendente da PSP, admite que “não é fácil atrair jovens” para as carreiras de forças de segurança, em parte devido à mudança de paradigma desde a pandemia, as pessoas habituaram-se a trabalhar on-line a partir de casa. A primeira mulher a ser nomeada para o posto mais elevado da PSP, desde 2022, falava na 3a conferência do ciclo “As mulheres e o 25 de abril – 50 anos de democracia. 50 anos de igualdade? O encontro decorreu no Grémio Literário ontem, uma organização da deputada Lina Lopes.
Também há diminuição de jovens em geral para concorrer às carreiras na GNR, quem o diz é Carla Tomé Domingos, a 1a coronel mulher da GNR. “Esta geração precisa de outras coisas para além daquilo que a GNR dá”, explica.
Numa altura em que as forças de segurança protestam na rua por mais apoios remuneratórios, em causa está a revisão dos suplementos salariais e a dignificação das carreiras da GNR e PSP.
O Ministro da Administração Interna José Luís Carneiro à CNN ontem disse que se o PS formar governo vai resolver esta questão.
As infra-estruturas da GNR não estão preparadas para as mulheres, nem há apoio na conciliação da vida familiar e trabalho, ainda há muito por fazer. “Uma mulher se não tiver condições para ficar ao pé da família possivelmente não concorre.”
Mas há mais problemas como a questão salarial e as condições para as mulheres que querem ter filhos. “É muito difícil para uma mulher que esteja na área operacional, que tenha filhos, e a meio da noite seja chamada e não tenha onde deixar os filhos.”
Como responder a este problema? A não ser que tenha creche pública para deixar os filhos, “há uma série de coisas que se podiam pensar na conciliação da vida familiar e o trabalho”, afirma.
Nas provas de admissão para a GNR reprovam mais homens do que mulheres, elas são mais focadas. “Hoje há vários fatores impossíveis de alterar, e houve já uma alteração de projeto nas provas de admissão, hoje em dia são provas funcionais e não apenas físicas.”
Carla Tomé recorda que quando começou na GNR existia a campanha “Verão Seguro”, na altura era Secretário de Estado Rui Pereira.
“As jovens eram convidadas a passar uns dias na GNR para verem como era o dia-a-dia e na PSP para depois concorrerem. Campanhas destas nunca mais existiram”, assegura.
A coronel da GNR defende que o dia da Defesa Nacional deveria obrigatório, um dia em que todos os homens e mulheres com 18 anos deveriam participar. Critica a fraca adesão a este dia nacional, a seu ver “está muito restringido ao power point o que para os jovens não é aliciante. Assume que ir para a GNR “já não é um trabalho para toda a vida”.
“Temos de começar a aceitar esta forma de ver, os jovens querem ter um pouco mais de tempo para eles próprios.”
Para atrair mais jovens diz que “é necessário apostar mais nas campanhas de publicidade, dentro da GNR”. Considera que é importante avaliar a parte remuneratória, as infra-estruturas e equipamentos. Ao nível de fardamento é mais económico ter equipamento igual para os dois sexos. “O que já era uma evolução”
Mas a questão de fundo mantém-se: há uma falta de ligação entre as forças de segurança e a comunidade mais jovem.
Mulheres a liderar com visão feminina

As mulheres têm uma visão mais apaziguadora do que os homens, segundo as conferencistas. “Se fossem as mulheres a tomar as decisões na guerra seria diferente”, defende Carla Tomé. Dá como exemplo de governação a Noruega, país em que a maior parte do governo é feminino, considerado o país mais feliz do mundo, devido ao investimento que fazem em políticas de conciliação da vida familiar e trabalho.
“Temos sido vítimas com estes conflitos bélicos devido à visão masculina da guerra. As mulheres olham para os conflitos de forma maternal, eles olham mais para a parte agressiva”. A coronel acredita que na GNR “há um cuidado de colocar mulheres em determinadas áreas tais como a violência doméstica, e na escola segura, há bom senso e experiência ao longo do tempo que ajuda a resolver conflitos por mais pequenos que sejam”.
Quando entrou para a GNR existia uma medida temporária designada de vagas, dirigida a mulheres e homens, que na época resultou com mais mulheres candidatas.
Também no tema das cotas é consensual a necessidade da imposição para regular a igualdade de género no mercado laboral. Paula Peneda afirma que estamos na “sociedade de transição”, ou seja neste momento “é preciso cotas, doutra forma as mulheres não vão chegar a lugares de topo”. A superintendente da PSP Porto considera que na geração das filhas já não vai ser necessário impor o regime de cotas. Porque as mulheres que “forem boas vão ficar, e as que não tiverem mérito, vão ser automaticamente excluídas. Infelizmente agora as cotas são necessárias.”
Teresa Rio de Carvalho, Professora Universitária e antiga deputada do PSD, alerta para o problema das mulheres na sociedade em termos de classes económicas, considera que o real problema está nas camadas económicas mais baixas que ainda não têm capacidade de afirmação na sociedade. “Essas ainda estão na sociedade patriarcal. Nestas classes mais baixas economicamente há dificuldades de igualdade, violência no trabalho, aqui é necessário trabalhar para mudar. Estas mulheres só por si não vão. Há uma necessidade de mudar a cabeça das pessoas para que as camadas mais baixas procurem as oportunidades e saibam agarra-las,” adianta.
Participaram ainda nesta conferência Maria do Céu Salgueiro, empresária agrícola de Montemor-o-novo, Susana Novais Santos, Professora e nadadora.
O ciclo de conferências teve como mote mulheres pioneiras em várias áreas profissionais, na 1a conferência Ana Catarina Mendes, a 1ª mulher ministra adjunta dos assuntos parlamentares, Ana Paula Martins a 1ª mulher a presidir ao conselho do centro hospitalar do centro universitário Lisboa-Norte que integra o Hospital de Santa Maria, Ema Paulino a 1ª mulher a presidir a Associação Nacional de Farmacêuticos, Manuela Ferreira Leite a 1ª mulher presidente de um grupo parlamentar na Assembleia da Republica e em 2008 a chefiar um partido político em Portugal, o PSD. Maria de Lurdes Rodrigues, 1ª mulher eleita Reitora do ICTE.
Na 2ª conferencia participaram Fernanda de Almeida Pinheiro bastonária da Ordem dos Advogados, Rosália Amorim, 1ª Diretora do Diário de Notícias em 135 anos e 1ª diretora de informação da TSF em 35 anos, Lucinda Damaso, Presidente da UGT, Nelma Fernandes 1 a mulher eleita para a confederação empresarial da CPLP, Rosalia Vargas, 1ª mulher Presidente para agencia nacional de cultura cientifica e tecnológica Ciência Viva.
Contou com o contributo de várias personalidades da sociedade portuguesa, com o apoio editorial da editora “Diário de bordo” e com o apoio da Fundação Konrad-Adenauer, cujo resultado será apresentado em livro no dia nas comemorações dos 50 anos do 25 de abril este ano.
“Pretendemos que este ciclo de conferências contribua de forma inovadora para melhorar a compreensão do fenómeno político e estimular a reflexão e participação das mulheres na sociedade e na vida política”, explica Lina Lopes. Considera que é um incentivo para “estimular a participação plena e paritária das mulheres em todos os espaços da sociedade”. Um ciclo de debates que teve como objetivo mostrar o exemplo de outras mulheres que não sendo pioneiras conseguiram afirmar-se em áreas tradicionalmente lideradas por homens.
Para Lina Lopes a questão que se coloca nas comemorações do 50 anos de abril é “se podemos comemorar também 50 anos de progresso, de liberdade das mulheres e de igualdade de oportunidades das mulheres e homens?”
A deputada conclui que a presença feminina ainda é escassa em níveis hierárquicos mais elevados, nomeadamente em órgãos de decisão ou de maior visibilidade política. “Para uma mulher assumir um lugar de topo nas organizações é-lhe exigido uma melhor performance, muitas vezes superior à média masculina.” Não tem dúvidas que o exemplo das conferencistas “é estimulante para as outras mulheres.”
 
				 
															

