MAGAZINE

Alterações Climáticas: Um caso de Saúde Pública?

José Padrão Mendes, Médico Neurologista, Médico Intensivista, com especial interesse na Patologia Cardiovascular, Neuropsiquiatria, Doenças do Movimento, Cefaleias e Tonturas

Em Portugal já temos Zika e mesmo Dengue. Na Ilha da Madeira, desde 2005 que o mosquito foi reintroduzido, provavelmente veio em contentores marítimos desde o Brasil, Venezuela e Colômbia. Em 2012, houve um surto de Dengue na Madeira, com mais de 2000 casos confirmados e, desde essa altura que existe um controlo exaustivo destes mosquitos para prevenir um surto de grandes proporções.

Aumentam os casos de Dengue em Portugal, esta doença, tipicamente endémica de países tropicais está a aumentar em Portugal. De momento são “apenas” casos importados, de imigrantes, mas há especialistas que defendem que a médio/longo prazo o Dengue e outras doenças tropicais, como a Malária, podem vir a ser endémicas dos países do sul da Europa, principalmente na bacia mediterrânea, como Portugal, Espanha ou Itália.

Esta futura situação deve-se à alterações climáticas que fazem com que o clima no sul da europa e no mediterrâneo seja cada vez mais propicio à sobrevivência dos mosquitos que transmitem estas doenças.

Para perceber como estas doenças são influenciadas pelo clima e pelas suas alterações, temos de entender como se transmitem. Estas são as principais doenças transmitidas pelo mosquito fêmea “Aedes aegypti”.

A maioria das doenças ditas tropicais, como o Dengue, a Malária, o Zika ou a doença de Chagas, são doenças que são transmitidas por vetores. Ou seja, estas doenças só se espalham se houver um inseto que a possa transmitir. Devido a isso, muitas das investigações atuais radicam na erradicação desses insetos.

Por exemplo, o vírus da malária é transmitido pelos insetos da família Anopheles. Neste caso o agente etiológico, o que causa a Malária, são vírus da família “Plasmodium” e os vetores são os insetos fêmea do género Anopheles.

Mas um dos principais vectores é mesmo o “Aedes aegypti” que é o inseto que pode transmitir com a sua picada e conforme a doença que infetou o mosquito, a febre amarela, a Dengue, a Chikungunya ou o Zika.

As doenças transmitidas pelo mosquito têm sintomas muito parecidos, mas, também, possuem algumas particularidades.

A Dengue pode apresentar febre alta, dor de cabeça, manchas vermelhas no corpo, diarreia e dor atrás dos olhos. Já no caso da Chikungunya, além da febre alta, manchas pelo corpo e dor de cabeça, os doentes apresentam dores intensas nas articulações e músculos. Por fim, os pacientes com Zika podem apresentar, também, febre, dor de cabeça e nas articulações, porém, as manchas vermelhas no corpo vêm acompanhadas de comichão.

Aedes aegypti, o vetor principal de doenças como a Zika ou a Dengue já existe na ilha da Madeira, desde 2005.

Estas doenças chegam a matar por ano quase 1 milhão de pessoas na América do Sul. Só este ano, em São Paulo, no Brasil, foi batido por muito o record de infetados com Dengue. E uma das principais causas são as mudanças climáticas que promovem e facilitam a proliferação destes insetos.

Na América do Sul e também na Ásia, principalmente no Bangladesh, o inseto consegue reproduzir-se durante o ano inteiro, mas é no Verão que estão reunidas as condições ótimas para a sua reprodução. Estas condições são: elevadas temperaturas, muita humidade e chuva e água estagnada, que pode estar em vasos, piscinas, pneus velhos, tampas de garrafa, sacos de plástico e tantos outros…

A água estagnada é o meio onde as fêmeas depositam os ovos e depois de onde os novos insetos eclodem. Mas para que possam desenvolver-se, esses ovos necessitam de sangue e é por isso que as fêmeas, normalmente 3 dias antes da deposição dos ovos, têm uma grande voracidade por sangue. Normalmente elas alimentam-se de seiva, tal como os machos.

No Sul da Europa os verões são cada vez mais quentes e as enxurradas de água são cada vez mais regulares. E, para mais, a malária só foi erradicada oficialmente de Itália em 1970, e tudo graças aos pesticidas como o DDT.

Nos últimos anos, o aumento da globalização, o aumento da temperatura média da Terra, juntamente com o aumento da frequência e da intensidade de fenómenos meteorológicos extremos, como tempestades, inundações e secas, e as alterações ambientais induzidas pelas atividades humanas, suscitaram a preocupação com a possível introdução ou reintrodução de doenças transmitidas por vetores em países onde estas estavam ausentes ou erradicadas.

Estas considerações, juntamente com a recente propagação de algumas doenças transmitidas por mosquitos vetores na Europa e o número crescente de casos de malária importados registados no continente, renovaram o interesse na possível reintrodução da malária no Sul da Europa, em particular nos países da bacia mediterrânica ocidental, onde ainda estão presentes potenciais mosquitos vetores.. Além disso, nos últimos anos, foram notificados esporadicamente casos de malária autóctone em Itália, França, Espanha e Grécia.

Mas a realidade é que em Portugal já temos Zika e mesmo Dengue. Na Ilha da Madeira, desde 2005 que o mosquito foi reintroduzido, provavelmente veio em contentores marítimos desde o Brasil, Venezuela e Colômbia. Em 2012, houve um surto de Dengue na Madeira, com mais de 2000 casos confirmados e, desde essa altura que existe um controlo exaustivo destes mosquitos para prevenir um surto de grandes proporções.

No continente, por agora, a probabilidade de virmos a ter Dengue ou Malária endémica é reduzida, mas com a progressão das alterações climáticas e a possível reintrodução do vetor e de mosquitos infetados devido à globalização e às migrações, não se pode descartar esta situação no futuro.

Por tudo isto urge uma monitorização destes vetores, assim como um controlo maior dos casos importados de Dengue, para realmente perceber até que ponto ainda só importamos os casos e não temos já uma transmissão endémica para assim, podermos ter um controlo maior sobre o problema.

Partilhar

Talvez goste de..

Apoie o Jornalismo Independente

Pelo rigor e verdade Jornalistica