Mais do que apenas celebrar a memória e o momento histórico do 25 de Abril, temos mesmo de nos preocupar com a forma como estamos a saber (ou não) operacionalizar e cimentar o seu legado.
É que o retrocesso pode não ser uma miragem e a sede do mesmo por alguns setores da sociedade portuguesa atual tem sido ultimamente bem demonstrada
A democracia e a liberdade têm assumido várias formas e expressões ao longo da história da humanidade.
A primeira conclusão que devo tirar, é que a relação entre estes dois conceitos é um debate que nunca devemos dar por encerrado. Até porque a democracia está, também ela, sempre em mudança e a liberdade nunca está garantida em absoluto.
A primeira conclusão que devo tirar, é que a relação entre estes dois conceitos é um debate que nunca devemos dar por encerrado. Até porque a democracia está, também ela, sempre em mudança e a liberdade nunca está garantida em absoluto.
É simbólico que, em vésperas de celebrarmos os 50 anos do 25 de Abril, nos deparemos, em Portugal, com
o ressurgimento de movimentos populistas, extremistas e pouco dados à discussão salutar. É um pouco como se, cinquenta anos depois, fôssemos confrontados com a ameaça do retrocesso.
o ressurgimento de movimentos populistas, extremistas e pouco dados à discussão salutar. É um pouco como se, cinquenta anos depois, fôssemos confrontados com a ameaça do retrocesso.
Mais do que apenas celebrar a memória e o momento histórico do 25 de Abril, temos mesmo de nos preocupar com a forma como estamos a saber (ou não) operacionalizar e cimentar o seu legado.
É que o retrocesso pode não ser uma miragem e a sede do mesmo por alguns setores da sociedade portuguesa atual tem sido ultimamente bem demonstrada. Tal como afirmei no início, liberdade e democracia estão sempre em (des)construção, tal como a realidade que nos rodeia.
Temos como exemplo a pandemia que enfrentámos, ainda de memória não tão distante assim. Foi necessário equacionar a pandemia e os seus efeitos com conceitos como “constituição”, “emergência”, “calamidade” e com os Direitos, Liberdades e Garantias.
Ainda não me esqueci (nem sei se consigo ou se devo) da loucura da proposta de um plano específico de desconfinamento por etnia, em plena pandemia. Mas não se aprendeu nada com a insanidade de alguns ?
O que se segue? Guetos?
A ciência já demonstrou que o património genético global assenta, como a língua e a cultura, na partilha. Não seríamos o que somos sem o que um dia alguém foi e, por isso, todos temos um pouco uns dos outros. Os portugueses, esses então, têm um pouco do mundo inteiro.
Recentemente, temos até ondas ideológicas que pretendem recuperar um determinado conceito de família e do papel da mulher que, no mínimo, é o regresso ao passado levado ao máximo. É o retorno ao fogão, à colher-de-pau e ao rolo da massa, em que os trapos e o macramé são o horizonte da mulher. Que me perdoem todos os que pensam assim, mas eu sou mesmo fã da modernidade na sua plenitude, onde está também a doméstica.
Sim, o retrocesso é mesmo possível e ele anda aí. E pode encetar um processo que afete outras questões com as quais a sociedade portuguesa está, hoje, em paz. O que fazer? Eu defendo uma atitude didática, um parlamentarismo assente numa democracia cada vez mais direta, mas pelo diálogo. Pelo diálogo com quem luta, com quem trabalha e com quem sofre.
Tal como diz Manuel Alegre, “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”. Viva o 25 de Abril!


