Fatima Campos Ferreira diz ao Estado com Arte Magazine que iniciativas literárias no interior do Alentejo “atraem pessoas, os autores e conseguem construir esta coisa magnífica que é fazer Cultura, trazer ideias, a humanidade, porque no fundo a cultura é humanidade.”
Comenta a liderança cultural de David Lopes, mentor do projeto literário em Cabrela, que “ao construir pontes para o futuro está a construir uma ideia de eternidade.” A Cultura e o conhecimento que está nos livros “também é tudo o que temos de preservar.”
A Iniciativa Literária Mural das Letras reuniu, este sábado, escritores em Cabrela, Vendas Novas, que têm participado nas conversas literárias no Patéo das Letras, numa organização conjunta da associação ” lar doce ler” e da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo e Junta de Freguesia de Cabrela.
Como é que olha para esta iniciativa literária no interior do Alentejo?
Uma iniciativa dos construtores, aqueles que pensam para lá daquilo que vemos. O David Lopes é um homem desses, pega num livro e projeta-o num futuro. Muito engraçado: essa transformação passa inclusivamente nos livros, nos autores. E aquela cabine de telefone que já é do século passado, ela serve de ponte para o futuro. Ao construir pontes para o futuro, David Lopes, está a construir uma ideia de eternidade. Isto da cultura e do conhecimento que está nos livros também é tudo o que temos de preservar.
A leitura permanece ainda assim num tempo digital?
O conteúdo está nos livros, mas sobretudo o que acho mais interessante é este brilho de ir buscar o livro, como o melhor representante de nós próprios, e transformá-lo em futuro. Dá-lhe uma espécie de rédea longa, que vai navegar, sai das estantes e faz com que venha para as praças e para as ruas.
Sobretudo aqui no Alentejo que ainda não é o Alentejo profundo, mas é num Alentejo, em que a densidade populacional já não é tão grande, ele traz isso e estende. Faz acordos com a Câmara Municipal de Montemor-o-Novo e a Junta de freguesia e atrai pessoas, atrai autores e consegue construir esta coisa magnifica que é fazer cultura, trazer ideias, a humanidade. No fundo a Cultura é humanidade. A Cultura é qualquer coisa intrínseca a nós próprios.
Como dizia no seu livro “O Infinito está nos olhos do outro”, em que pretendia de alguma forma eternizar a história da sua família. É isso que se pretende com a leitura?
Sim, no fundo é isso. Todos nós somos efémeros. O conceito da leitura, que também explico no meu livro, é o mais importante. É isso que tentamos lançar para o futuro, que leve algumas das sementes que consideramos mais humanas, mais fortes, aquelas que nos podem preservar essa humanidade.
E esse conceito de leitura pode permanecer no urbano e no rural?
Pode com certeza, a qualidade deste homem (David Lopes) é espalhar este conceito por este mundo.
Não sei se aqui é bem rural, no fundo é um tentáculo do mundo urbano. Porque de certa forma, aqui moram mais pessoas que são de Lisboa, do que outra coisa. Mas não há duvida de que ele faz essa ponte.