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Liderar com Saúde Mental, o desafio do Século XXI

José Padrão Mendes, Médico neurologista e intensivista

A necessidade de um psicólogo e médico com especialidade em medicina do trabalho deveria ser obrigatória para empresas de grande magnitude, aqui dando preferência às empresas do PSI 20 português. Estas empresas, devido à sua importância para a sociedade e população portuguesas, deveriam ter um seguimento dos seus gestores e trabalhadores mais apertado para manter a “saúde” da nossa sociedade e da nossa economia em bom estado.

Nestes tempos que correm vemos cada vez mais líderes com idade avançada e em que, principalmente o presidente dos Estados Unidos da América, são acusados de problemas mentais como demências. Temos o Papa com 87 anos, Marcelo Rebelo de Sousa com 75 e Pinto da Costa, que acaba de deixar a presidência do Futebol Clube do Porto com 86 anos. Eu não venho falar sobre a idade, mas sim sobre algo que pode vir associado, problemas que se revelam ou estão intimamente relacionados com ela, a saúde mental.

O nosso Presidente da República tem sido alvo de críticas devido a declarações prestadas a jornalistas estrangeiros em que parece que falou sem pensar, tendo vindo nos últimos dias a público tentar justificar-se, sem muito êxito.

O Artigo 88 da Lei n.º 28/82, de 15 de novembro relativamente ao Tribunal Constitucional indica que o Presidente da República pode perder o cargo se houver um problema de ordem física. E se for um problema de ordem mental?

Aqui está a prova como até na Constituição Portuguesa a Saúde Mental é desprezada.

E se formos a ver o Código do Trabalho, esta questão pouco ou nada aparece e, no que toca a Gestores de Topo, é totalmente omisso.

Quando falamos de um qualquer trabalhador comum, uma doença ou problema mental pode ter um enorme impacto na vida dessa pessoa e das pessoas que a rodeiam, mas tem um impacto praticamente nulo no país, nas instituições e na economia.

Agora imaginemos que temos um Presidente da República a tomar decisões erróneas e a fazer declarações estapafúrdias, um Gestor de uma empresa do PSI 20 completamente fora da realidade que começa a despedir pessoas sem qualquer sentido ou então temos um Juiz que começa a não julgar convenientemente. Ou então, supondo que o BES não tinha falido nem tivesse ocorrido o grande escândalo económico-financeiro no banco, será que o seu presidente Ricardo Salgado, diagnosticado com Alzheimer, ainda estaria no poder e no centro de decisão?

Cenários como este podem ter consequências importantes na sociedade e na vida de milhares ou milhões de pessoas.

Há cada vez mais estudos a demonstrarem como Juízes e Advogados sofrem com diversos problemas mentais, entre estes problemas podemos destacar Ansiedade ou mesmo Depressões graves, estando muitos deles medicados. Também uma parte considerável dos juízes admite recorrer a diversas drogas, entre elas cocaína e heroína, para combater o stress. (Na Justiça stress afeta mais os juízes, que admitem recorrer a álcool e drogas, indica estudo – ECO (sapo.pt))

Pelo que parece, a ferramenta que todos nós mais empregamos para trabalhar, a ferramenta essencial sem a qual não conseguiríamos fazer nada, é a mais desprezada. Estou a falar do nosso cérebro.

Acredito que cada pessoa que tem um cargo de topo, seja um político, um médico, um gestor, um advogado, deveria ter uma acompanhamento e seguimento apertado e completo não só a nível físico, mas também mental e psicológico. Mas aqui também vemos como as lacunas no nosso país são graves, com uma grande falta de profissionais em medicina do trabalho. Com respeito aos médicos especialistas em Medicina do Trabalho, a procura excede largamente a oferta. DGS: número de médicos do trabalho é insuficiente para vigiar a saúde da população empregada – Expresso

A necessidade de um psicólogo e médico com especialidade em medicina do trabalho deveria ser obrigatória para empresas de grande magnitude, aqui dando preferência às empresas do PSI 20 português. Estas empresas, devido à sua importância para a sociedade e população portuguesas, deveriam ter um seguimento dos seus gestores e trabalhadores mais apertado para manter a “saúde” da nossa sociedade e da nossa economia em bom estado.

Este tipo de seguimento também é necessário, de um modo geral, em pequenas e médias empresas. Mas como é impossível ter um sistema assim implementado em todas as empresas, deveria começar-se pelas empresas mais importantes e também nas empresas onde os seus gestores têm mais responsabilidades e as suas ações têm a capacidade de influenciar a vida de milhões de pessoas.

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