A ciência política diz que, entre os vários tipos de efabulações a que os políticos recorrem, o mais irresistível é o alarmismo ou a inflação do medo. E é o tipo mais irresistível, porque é o mais eficaz e com resultados mais rápidos (recordemos como A. Costa obteve uma maioria absoluta – aparentemente indesejada.)
Os portugueses não se podem queixar de ter pouco por onde escolher em termos político-partidários. Das 12 forças políticas que concorreram às primeiras eleições para o Parlamento Europeu, em 1987, passámos hoje para 20 partidos – 3 associados numa aliança e 2 numa coligação – a disputar os 21 lugares de Portugal no Parlamento Europeu. E esta diferença não se explica por uma simples fragmentação do espectro político-partidário. O que temos agora é um espectro político-partidário mais amplo, mais claro e mais equilibrado entre os dois hemisférios políticos.
Existem candidatos a defender ideias liberais sem se sentirem tentados a retocá-las com matizes socialistas. Existem candidatos que se assumem de direita sem se sentirem condicionados a acrescentar que estão ao centro. Existem candidatos que se posicionam ao centro e dispensam acrescentar a palavra esquerda. Os candidatos da esquerda dizem defender a democracia e o sistema eleitoral. A esquerda à esquerda do centro esquerda dá prioridade ao debate político e, ao que tudo indica, remeteu a ação revolucionária como meio de conquista do poder para o baú da história. Tudo isto são dimensões que há duas décadas atrás seriam anátemas.
Dois aspetos parecem-me relevantes. Por um lado, o discurso da direita parece ter-se libertado dos condicionamentos que a esquerda lhe impunha ao brandir os fantasmas do costume (não vou mencionar os ismos habituais dirigidos à direita). Por outro lado, a esquerda parece ter-se distanciado do discurso revolucionário (e dos respetivos -ismos, que também não vou mencionar). Deste forma o debate político torna-se mais exigente e – se os políticos aceitarem o desafio – o debate pode voltar a centrar-se nos problemas reais do país. E não podemos esquecer que são as políticas desenhadas para resolver estes problemas, acompanhadas da avaliação rigorosa dos seus custos e benefícios – e não meras panaceias ideológicas –, que podem inverter a trajetória de empobrecimento em que nos deixámos enredar.
A ciência política diz que, entre os vários tipos de efabulações a que os políticos recorrem, o mais irresistível é o alarmismo ou a inflação do medo. E é o tipo mais irresistível, porque é o mais eficaz e com resultados mais rápidos (recordemos como A. Costa obteve uma maioria absoluta – aparentemente indesejada).
Cabe ao eleitor(a) distinguir entre o político efabulador e o estadista. Tarefa nem sempre fácil, ou possível. Ora aqui o debate sobre assuntos concretos entre agentes políticos, com ideias claras e enxutas de ideologia, pode ser de grande valia. Infelizmente, as sessões de debate minúsculas, seguidas de comentários hiperinflacionados, não se enquadram muito bem neste modelo. Mas há falta de melhor, é o que o temos.
Churchill dizia que “um político preocupa-se com a próxima eleição, um estadista com a próxima geração”. Terá de ser o(a) eleitor(a) a decidir que candidato(a)s estão sobretudo centrado(a)s na sua própria imagem e no seu resultado eleitoral e que candidato(a)s têm potencial para se assumirem como estadistas capazes de se baterem pela segurança e bem-estar da atual e das próximas gerações.
Uma coisa é certa: não deixe que outros decidam por si.
No próximo domingo a forma mais nobre e elevada de participar na vida política do país é deslocar-se à Mesa da Voto e colocar o boletim na urna.