Cantando o amor sublime ou platónico e a relação mais fútil, o poeta soube, como poucos, definir-se e definir a alma humana, oferecendo-nos a sua experiência de vida ou o mundo no seu desconcerto, com os seus problemas sociais e morais, a saudade, o destino, e a eterna questão do mal que aflige a Humanidade.
Luís Vaz de Camões é um representante exímio do movimento artístico, literário e científico, que se vivia no século XVI.
Naquele contexto histórico marcado por profundas transformações sociais, económicas, culturais e religiosas, o classicismo tendeu a substituir a grandeza da fé medieval pelo culto à racionalidade, o cristianismo pela mitologia greco-latina, elevando o homem à centralidade de tudo, tendendo ao antropocentrismo em substituição do teocentrismo
Camões na sua obra expressou bem estas características, todavia não renegou a sua vertente cristã, às quais acrescentou o seu conhecimento em cultura clássica, na literatura, filosofia, política e geografia, bem como as experiências vividas na África, na China e na Índia.
A tradição do lirismo peninsular coexistiu com a estética clássica renascentista e o maneirismo que marcaram o seu tempo. Juntamente com a poesia de sabor trovadoresco, surge uma poesia cujos modelos formais e temática revelam a cultura humanística e clássica do autor, que soube retirar de Platão, Petrarca e Dante uma influência única, a qual explorou com sabedoria, com entusiasmo, com paixão e o fulgor do seu temperamento.
Cantando o amor sublime ou platónico e a relação mais fútil, o poeta soube, como poucos, definir-se e definir a alma humana, oferecendo-nos a sua experiência de vida ou o mundo no seu desconcerto, com os seus problemas sociais e morais, a saudade, o destino, e a eterna questão do mal que aflige a Humanidade.
Os temas da sua lírica são vastos e variados, indo da análise da sua vida interior à caracterização da realidade do seu tempo ou à busca da dimensão do homem universal.
“Erros meus, má fortuna, amor ardente; Em minha perdição se conjuraram; Os erros e a fortuna sobejaram, Que pera mim bastava amor somente”.
Do eterno apaixonado transcrevo um dos sonetos mais conhecidos:
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor.