Todos sabemos que se em vez da Última Ceia, as drag queen francesas tivessem desfigurado algum episódio narrado no Corão, as repercussões poderiam muito facilmente ser violentas – como sucedeu, por exemplo, com o jornal Charlie Hebdo.
Vale a pena recordar uma vez mais o incidente ocorrido na abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, relativo à encenação da Última Ceia com drag queens, porque esse episódio demonstra o estado a que chegou a França, que noutros tempos foi a principal potência do mundo Cristão.
A coberto da necessidade de estabelecer a separação entre Estado e religião – que é válida e desejável – a França acabou por se tornar não apenas num estado laico, mas num estado anti-religioso. Para isso, além da cultura laica emergente da Revolução Francesa, terá mais recentemente contribuído também a pressão exercida pelo crescente número de muçulmanos, parte dos quais radicalizados, que residem no território e que inclusivamente são já, muitos deles, cidadãos franceses de pleno direito.
Pelas razões referidas, a legislação francesa que assegura a separação entre Estado e religião vai ao ponto de proibir e punir (nomeadamente com multas) qualquer expressão pública de fé ou religiosidade (mesmo que individual), relegando a religião para o domínio da vida privada, e para fora de qualquer espaço público, incluindo a via pública.
É simultaneamente infame e cobarde o incidente acima referido no primeiro parágrafo. Infame, porque é inadmissível que um Estado que ostraciza a religião da forma acima descrita se aproprie de um dos episódios bíblicos mais significativos para a fé cristã, para o utilizar na cerimónia de abertura dos jogos olímpicos, distorcendo-o e desfigurando-o, bem sabendo que o fez de forma que iria ofender e desrespeitar os sentimentos religiosos da generalidade dos cristãos, nomeadamente de milhões dos seus próprios cidadãos.
E mais grave ainda, é que isto não foi feito sob um governo da Frente Nacional liderado pela extrema-esquerda, mas sim por um governo ainda liderado pelo partido de Macron, moderado, mas pelos vistos não o suficiente.
Cobarde, porque se escolheu como alvo uma religião pacífica, que cultiva o dar a outra face e não tem sectores ou tendências que advoguem o recurso à violência para resolver questões religiosas ou ideológicas. Todos sabemos que se em vez da Última Ceia, as drag queen francesas tivessem desfigurado algum episódio narrado no Corão, as repercussões poderiam muito facilmente ser violentas – como sucedeu, por exemplo, com o jornal Charlie Hebdo.
O partido de Macron será, dos três blocos que se formaram nas últimas eleições francesas, o mais adequado a garantir à França um governo democrático e moderado, mas nesta matéria ficou muito aquém. Querem entregar a França um governo de direita radical? Continuem assim, estão no «bom» caminho…