Duas vereadoras da Câmara Municipal da Nazaré, Fátima Duarte, do PSD, e Regina Piedade Matos, do PS, avisam que para as mulheres estarem na política “é preciso terem capacitação e empoderamento”. Esta “capacidade de encaixe” na vida política exige uma boa rede de apoio familiar, o alerta foi dado em debate promovido pela 9a academia de Formação Política das MSD. O grande desafio para as autarcas continua a ser a conciliação da vida familiar e o trabalho também na vida partidária.
Fátima Duarte, vereadora do PSD na Câmara da Nazaré, tem 3 filhos ( 2 rapazes e uma menina) assume a sua diferença no seu modo de estar na política como mãe de família relativamente a outras mulheres sem o encargo dos filhos, “é a dualidade da vida”, garante no debate organizado por Lina Lopes, Coordenadora das MSD, com a participação de Regina Piedade Matos, Vereadora do PS na Câmara Municipal da Nazaré e dos Serviços Municipalizados, e Olga Silvestre, Coordenadora das MSD do Distrito de Leiria.
A autarca do PSD na Câmara Municipal da Nazaré, deita-se todos os dias às 2 da manhã, para fazer o trabalho doméstico em casa. Se os filhos e o marido não puderem ajudar faz ela todo o trabalho no alojamento, e em casa. Diz que tem as mãos cheias de calos, “é assim que está na política. Tenho orgulho em fazer assim. É o facto de ser mulher que me faz ser assim mesmo.”
Uma forma de estar na política diferente de Regina Piedade Matos ( Vereadora do PS na C.M. Nazaré) e de Lina Lopes, Presidente da Academia de Formação Politica das MSD. Fátima Duarte conta que gosta “muito de ser mulher, não gostaria de ter sido outra coisa, em minha casa se o homem não quer fazer, não há crise eu levo tudo pela proa. Somos mulheres diferentes na política: é a dualidade da vida.”
A mulher “é como é, muito resiliente e persistente. Há mulheres que não são consideradas como “gente”. Todas nós somos capazes de chegar até aqui. Somos seres humanos fortes,” conclui a vereadora social democrata.
Regina Piedade Matos, vereadora do PS no Município da Nazaré e presidente dos serviços municipalizados da autarquia da Nazaré, diz que as mulheres têm uma intuição e uma compreensão diferente, e calculam as coisas de forma diferente dos homens, “somos mais sensatas sobre as questões de inclusão e igualdade, mas ao mesmo tempo há muita competição feminina.” “O futuro do país é onde estão os nossos filhos e netos. Pensamos que está tudo mal, mas e o que estamos a fazer para mudar?”, questiona a socialista.
Mas a competição masculina também existe, a autarca do PS considera que é “na sinergia e na união que se faz alguma coisa”, unidade entre homens e mulheres. “Se o meu ego for de encontro aos outros egos as coisas podem funcionar. Admite ainda que “se tivéssemos a compreensão que o que estamos a fazer é importante para o futuro dos nossos filhos e netos podia ser tudo tão diferente.”
As duas vereadores da Câmara do PS e do PSD concordam que para estar na política “é preciso capacitação e empoderamento”. Esta “capacidade de encaixe” exige uma boa rede de apoio familiar.
Mudança do modo de estar da mulher na política
O PS já atingiu a paridade nas listas das concelhias, algo que o PSD ainda está muito longe de conseguir, tem apenas uma mulher presidente de Distrital em Beja, assume Lina Lopes no debate promovido no âmbito da 9a Academia de formação política das MSD, este ano na Nazaré.
No entanto, há mudanças do modo de estar da mulher na política, segundo Lina Lopes, antigamente só chegavam ao topo as que não tinham filhos. “Hoje as mulheres já dizem: eu só consigo estar na política, porque tenho ao meu lado um marido que me ajuda,” reflecte a coordenadora das MSD.
Atualmente, as mulheres participam na política porque ou estão sozinhas com filhos ou são mulheres cujos maridos apoiam, o que “é muito importante”.
Há um maior reconhecimento da vida familiar, Lina Lopes dá como exemplo a tomada de posse da Secretária-Geral da Assembleia da Republica que fez questão de agradecer família, a social democrata confessa “que raramente viu este reconhecimento vindo de um homem”.
“Culturalmente os homens não choravam, falar sobre a família era uma coisa de mulheres. Estamos a educar os filhos no sentido de que podem chorar, podem cozinhar”, afirma.
A Vereadora do PS também educa os filhos neste sentido. “Este trabalho doméstico tem a ver com a disponibilidade. Os meus filhos têm de fazer. Mas é uma luta árdua. É a educação que temos de transmitir que pode fazer a diferença no dia de amanhã.”
Regina Piedade Matos alerta para o tema do populismo: “há meios de comunicação aos quais não estamos a ter atenção. O meu filho está a deixar-se levar pelo populismo. Como socialista acho que tem liberdade de escolha. Tem de ter espírito crítico.”
O grande desafio continua a ser a conciliação da vida familiar e o trabalho também na politica. “A mulher nazarena é reconhecida como mulher de fé. Se empoderarmos as mulheres da Nazaré serão capazes de fazer muito trabalho. A mulher da Nazaré acorda às 6 da manhã para ir para o campo. Consegui arranjar uma lista à ultima hora e a vereadora é a presidente das mulheres da concelhia da Nazaré.” Mas continua a ser difícil reunir mulheres para as reuniões políticas do partido socialista.
Lina Lopes alerta para a falta de debate na política
“Está tudo muito silencioso desde a pandemia, as pessoas quando falam dizem mal dos políticos.” Lina Lopes, ex-deputada do PSD, não tem papas na língua e diz mesmo que o Bloco Central está a fazer mal ao país. “Quando António Costa caiu criticávamos a esmola. Agora estamos a ver precisamente a mesma coisa. Pergunto qual a diferença? Na altura do Rui Rio também o chateavam porque queria fazer acordos na pandemia. Agora andam ao colo com o líder do PS Pedro Nuno Santos.”
O PS passou de 120 para 77 deputados. O PSD manteve o mesmo número, Lina Lopes pergunta “quem é que ganhou? Ganhou quem nos critica. No Parlamento há uma gritaria entre a esquerda e o Chega.”
A 9a Academia de mulheres do PSD – MSD, é uma organização informal, que tem o apoio da Fundação Konrad Auer Adenauer Stiftung.
Lina Lopes assume ainda no debate que as mulheres socialistas têm conseguido a paridade nas listas, aquilo que o PSD ainda não conseguiu. Mas que apesar das dificuldades internas no partido social democrata para promover as MSD, as sociais democratas já têm uma “equipa coesa”.
Existe apenas uma mulher presidente de uma distrital do PSD, feito atingido há 3 semanas. Andreia Guerreiro, técnica de turismo foi eleita presidente da Distrital de Beja do Partido Social Democrata (PSD), de 45 anos, militante do PSD desde 2020, sucede no cargo a Gonçalo Valente, atual deputado na Assembleia da República, eleito pelo círculo eleitoral de Beja, e que não se recandidatou à Distrital por já ter cumprido três mandatos consecutivos.
A primeira Academia de formação Política das MSD começou em 2018 na Costa da Caparica, tem percorrido o país: Lisboa (por vários anos), Serra da Estrela (2019), Espinho (2019), Açores (2021), Vila Nova de Gaia (2022) e Nazaré (2024).
As participantes da 9a Academia das MSD vieram de Lisboa, Alenquer, Póvoa de Varzim, Porto, Famalicão, Batalha, Marinha Grande, Vila Franca de Xira e Setúbal.