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Carlos Moedas: “A primeira fase da minha vida foi muito dura.” C/ Podcast

Marta Roque

“Um livro para uma geração que perdeu a esperança”, é assim que Carlos Moedas sintetiza o livro “Liderar com Pessoas”, da editora Casa de Letras (março de 2024) apresentado em conversa com a escritora luso-angolana Yara Nakahanda Monteiro no MUSEU ABÍLIO DE MATTOS E SILVA no FÓLIO – Festival Literário, em Óbidos, este domingo. “Quis mostrar como sou, é uma história pessoal,” diz o autarca de Lisboa, que perdeu a mãe há 2 meses.

Quis revelar como os políticos “são pessoas como as outras, fazem erros, há dias melhores do que outros e que nem sempre tomam as melhores decisões”.

Reconhece que no mundo digital a figura de líder mudou: as pessoas não querem ir atrás de ninguém, mas querem ser parte da construção do seu futuro. Apaixonado pela Inovação, uma das grandes apostas do seu mandato na CML, acredita na Ciência como disciplina multidisciplinar: “são as interseções entre a arte, a cultura e a ciência que criam a inovação”. 

Carlos Moedas conversou com  a escritora Yara Nakahanda Monteiro, no FOLIO em Óbidos, no passado domingo, sobre o livro “Liderar com Pessoas”, onde contou a vida pessoal para além da política, para que as pessoas o conheçam “verdadeiramente. Muitas vezes as pessoas olham para os políticos, e os partidos, e não olham para as pessoas,” afirmou Moedas.

Engenheiro civil, economista e político, é desde 2021 o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Foi Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro no XIX Governo Constitucional, entre 2011 e 2014, e Comissário Europeu de 2014 até 2019. Em 2014, o Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, atribuiu a Carlos Moedas a pasta da Investigação, Ciência e Inovação, tendo sido o comissário português responsável pelo maior programa-quadro de sempre de investigação e inovação da UE, o Horizonte 2020. De 2020 a 2021 foi administrador da Fundação Gulbenkian. Foi condecorado com a ordem honorífica do Estado do Vaticano de Cavaleiro da Ordem de São Silvestre, como reconhecimento pelo trabalho na organização da Jornada Mundial da Juventude de 2023.

O livro de Moedas conta com o prefácio de Emmanuel Macron que enaltece a coragem do político que veio do Alentejo “o testemunho de Carlos Moedas, estou certo, servirá para encorajar e até formar as próximas gerações de cidadãos que queiram fazer viver os seus ideais. Que retenham o sentido do compromisso e a união entre liberdade e dedicação, que marcam toda a trama desta obra. »

Num registo intimista Carlos Moedas quis contar as fases da sua vida nesta obra, revela que teve um princípio de vida difícil, a infância  passada em Beja com um pai alcoólico e uma mãe costureira. Quer passar a mensagem aos jovens que  “os problemas que estão a viver todos os vivemos”. Tudo depende de como reagimos, “como é que lhes damos a volta.” Um livro que também  “é para os nossos filhos para uma geração que também perdeu a esperança.”

A escritora luso-angolana admite ter sido preconceituosa em relação ao livro, assume que “foi surpreendida por uma história de vida que não esperava encontrar em Carlos Moedas”.

“A primeira fase da minha vida foi muito dura”

Carlos Moedas conta que na sua história pessoal, “a primeira fase da minha vida foi muito dura, a mãe  era costureira, o pai era jornalista e doente alcoólico, é um testemunho que considera importante” para as pessoas o conhecerem melhor, e mostrar que os políticos também passam momentos difíceis, “quando passamos por situações traumáticas passamos que é só connosco”.

Quis mostrar o “verdadeiro Carlos Moedas que tem medo e as suas inseguranças”, quando era comissário ou quando “cheguei a Presidente da Câmara as pessoas pensavam que tinha tido uma vida que não imaginavam.”
“Hoje vivemos num mundo em que todos temos de ser fortes, todos têm de saber tudo, e que os políticos tem que ser visionários e resolver os problemas todos”, o governante de Lisboa. Queria com o seu testemunho no livro “transformar a maneira de olhar para a política”.

“Os políticos são pessoas como as outras. Fazem erros, há dias melhores do que outros. Há dias que tomamos decisões que não são as melhores. Não tomei sempre a decisão certa, mas temos é que tomar mais decisões certas do que erradas,” Moedas explica a vivência política como homem.
No mundo digital  as pessoas “já não querem ir atrás de ninguém, já não querem super-heróis”, faz esta leitura pela experiência que tem dos seus filhos.
“As pessoas querem ser parte da construção do seu futuro”. Considera que o líder de hoje  já não é o líder do passado. “A minha historia é sobre como sou e este tipo de lideranças novas.”

Como encontrou resiliência, capacidade de superação?
Admite que houve muitas “mãos amigas”, cedo percebeu que tinha de “ter uma malha social” que o ajudasse, criou ligação com “bons professores que mudaram a minha vida, pessoas com poder”.
Foi como emigrante para França em 1993 fazer o programa Erasmus pelo Instituto Superior Técnico com ideia de voltar para Lisboa.  Por lá ficou, casou com mulher francesa, e teve filhos binacionais. “Há pequenas coisas na vida que mudam a nossa vida, o nosso mundo nunca mais vai ser igual.”

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O condicionalismo era ficar em Beja com o pai doente e mãe sem condições, mas “havia qualquer coisa em mim que me dizia que quero ir lá para fora. As situações de dor obrigam-nos a tomar decisões. Devo imenso à minha mãe, disse: “vai viver a tua vida”. É algo que nunca esqueço, nunca pediu nada para ela. Nunca se queixava de eu estar fora.”

A Ciência é o futuro
Carlos Moedas tem uma grande paixão pela tecnologia, criação da Fábrica dos Unicórnio,  em Lisboa, foi uma das suas apostas fortes no seu mandato na CML, acredita que mais do que a tecnologia é a inovação que faz a diferença na economia. “Como autarcas sentimos que a inovação é distante, mas é fazer algo de novo e útil. Podemos mudar a sociedade para algo melhor”.
Se há inovação, há emprego, a empresa faz melhores produtos. Dá o exemplo da Alemanha onde há salários elevados, porque há muita inovação. “Há empresas tão inovadoras que o mundo todo está disposto a comprar aquele produto”, uma ideia que quer desenvolver em Lisboa, em concreto com a Fábrica dos Unicórnios, para um país ser grande não tem de ter grandes dimensões, mas sim uma grande inovação.
Na visão de Carlos Moedas a inovação tem ingredientes muito específicos: como a diversidade cultural e religiosa. Algo que para si tem muita importância aos dias de hoje para a construção de uma sociedade mais inclusiva.
Explica a sua ideia de inclusividade através do prémio Nobel e da importância da ciência com a Teoria sobre as ondas gravitacionais, em 1919, de Albert Einstein. Há cem anos, Albert Einstein declarava que o universo é atravessado pelas chamadas ‘ondas gravitacionais’.
Trata-se de ecos produzidos pela expansão inicial do universo, responsáveis por modulações no espaço e no tempo. Supostamente, essas ondas podem ajudar-nos a conhecer melhor fenómenos como os buracos negros.
“Hoje o nível da ciência já não é só de um pais, mas de 1000 cientistas de países muito diferentes”, explica Moedas. Conta a história do Nobel da Medicina, a chinesa Tu Youyou, ganhou o Prémio Nobel, porque leu um poema sobre uma planta com mais de 1000 anos na China, e pensou que podia ser a cura para a doença da malária.  A descoberta da Artemisinin, um medicamento baseado num antigo remédio tradicional chinês, tem reduzido significativamente a taxa de mortalidade em pacientes que contraíram esta doença.
Para o Presidente da Câmara de  Lisboa são “as interseções entre a arte, a cultura e a ciência que criam a inovação”. Sabe bem como funciona a inovação, porque viveu estas histórias na Comissão Europeia na 1ª pessoa,” é preciso estar em fronteira de outras disciplinas.”

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