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De que Falamos quando Falamos de Direita?

Susana Mexia

De que falamos quando falamos de Direita? o novo livro de Jaime Nogueira Pinto, da Bertrand ( 2024), explica o significado e origem das diferentes famílias políticas direitistas, fazendo o seu paralelo com os movimentos fascistas do século passado, sem esquecer a sua demarcação da Esquerda. O livro foi apresentado ontem no Âmbito Cultural do Corte Inglês.

O autor Jaime Nogueira Pinto nasceu no Porto em 1946, licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa e é doutorado pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Foi diretor do jornal O Século, administrador da Bertrand e trabalha na área da consultoria estratégica. É presidente da FLAC – Fundação Luso-Africana para a Cultura, colabora regularmente nos media portugueses e tem escrito sobre temas de Ciência Política e História Contemporânea.

Um livro denso, com muitas referências sem as quais se torna difícil ou leviano conotar ser de Direita ou de Esquerda. Obviamente dá-nos pistas, com muita teoria, para que nada falte ao leitor no árduo labor de se informar e enriquecer os seus conhecimentos sobre esta matéria.

Ali não grassa a opinião nem o “achismo”, mas referências a vários autores e suas obras, que nos elucidam de forma clara e inconfundível.

O novo livro de Jaime Nogueira Pinto, uma edição da Bertrand, 2024

“Nas sociedades pré-revolucionárias, a Direita era vista como a representante da ordem estabelecida; a Esquerda vinha então, em nome dos valores associados à modernidade, como a Razão e a Ciência embrionária do século XVIII, e em nome de ideais como a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, quebrar a ordem e a hierarquia da sociedade tradicional, em que o Trono e o Altar apareciam como indissociáveis cúpulas da hierarquia político-social.”

“Porque é que «a permanente reductio ad hitlerum de todas as direitas» nunca é «acompanhada por uma correspondente reductio ad stalinum de todas as esquerdas»? Para Jaime Nogueira Pinto a resposta está no longo tempo de domínio cultural da Esquerda no mundo euroamericano, particularmente em Portugal, onde esse domínio é até anterior à revolução, e no consequente desconhecimento da história e do pensamento de uma Direita quase sempre amalgamada e definida pelos seus inimigos”.

“O anti-capitalismo da Esquerda, fixado na nostalgia das retóricas do passado, ficou quase só radicado nas classes intelectuais – académicos, letrados, jornalistas-, os últimos fiéis de uma religião progressista, verbalmente obstinados na luta contra um capitalismo que deixou de existir como seu inimigo, tornando-se, mais depressa, seu aliado objectivo – corrigindo a linguagem, exibindo práticas inclusivas e abraçando a retórica, ora das micro-causas de reais ou imaginários novos `danados da terra´, ora das mega causas da `Humanidade´ ou do `Planeta´.”

Pois, de que falamos quando falamos de Direita? Na verdade, creio que percebi que há em mim muitas lacunas, que talvez seja devaneio rotular de forma leviana uma pessoa ou um partido, sem saber exactamente o que estamos a dizer ou a chamar.

Enfim, um livro, como tantos outros, nos deixa na situação de sentir que temos muito para aprender. Mas são assim os livros e as palestras deste autor, sentimo-nos sempre muito aquém, face ao seu grande saber. E esta sensação é importante, porque é ela que nos leva a querer ultrapassar lacunas, estudar, aprender e ir mais além.

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