Nem sempre o “coração tem razões que a razão desconhece”, mas a dignidade ontológica implica e não dispensa uma equilibrada reflexão nesta unidade centrada no núcleo da Pessoa que é alma e corpo, razão e coração, numa plena simbiose feita para amar e ser amada.
Termo de origem grega kardia, designa a parte mais íntima, mais recôndita dos homens, dos animais e das plantas. Sendo que também lhe é atribuído o lugar privilegiado da alma, como centro espiritual onde se forjam os pensamentos, os desejos, as paixões e as acções.
Digamos que o ser humano é uma complexa forma de vida, onde todas as capacidades se interligam e convergem para o seu centro anímico, o coração.
Se já os pensadores da Grécia antiga assim o entendiam, mais relevante se tornou a sua importância quando nos é relatado que “Maria”, Mãe de Jesus, guardava todos os “mistérios” da sua vida no Coração e neles meditava mantendo-os ocultos do mundo, mas sempre num diálogo constante e profundo com Deus.
O mal e o bem, do coração vem, naquele centro do nosso EU onde se conjugam os desejos, as emoções, as paixões que em harmonia nos edificam e constroem, mas em desarmonia nos podem afundar numa desesperante tristeza, num vazio nostálgico ou num desarrumo que destrói, corrói e dilacera os corações, dos outros e do próprio.
Um coração que acolhe, que sabe ouvir, ver e sentir é um dom, uma premência para a compreensão, a tranquilidade, a harmonia e a paz tão fugidia entre as famílias, os homens, as nações, as sociedades e os continentes.
Razão, vontade e liberdade também têm um papel muito especial no alinhamento psíquico e espiritual do Homem, mas a tonalidade afectiva do coração é fundamental para a valorização do próprio Ser, para a abertura aos outros, num encontro pessoal de identidades diferentes, distintas, mas complementares.
Nem sempre o “coração tem razões que a razão desconhece”, mas a dignidade ontológica implica e não dispensa uma equilibrada reflexão nesta unidade centrada no núcleo da Pessoa que é alma e corpo, razão e coração, numa plena simbiose feita para amar e ser amada.
Carta Encíclica sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus
A encíclica Dilexit nos, publicada em outubro de 2024 pelo Papa Francisco, aborda o amor humano e divino, centrando-se no Coração de Jesus como símbolo da compaixão e da misericórdia de Deus pela Humanidade. O documento busca dialogar com o mundo contemporâneo, propondo o amor como resposta para as crises atuais e enfatizando a necessidade de cura espiritual e social.
Francisco destaca o Coração de Jesus não apenas como uma devoção tradicional, mas como um chamamento a viver o amor de forma prática e transformadora na vida quotidiana.
A encíclica também explora temas como a importância da solidariedade e do cuidado com os outros, propondo uma espiritualidade que combina a contemplação com ações concretas em prol dos necessitados. O documento do Papa Francisco faz um apelo para que os fiéis se aproximem dos valores espirituais e humanos, inspirados no amor misericordioso de Cristo.
Num momento em que a Igreja reflete sobre temas de sinodalidade e participação, sugerindo que o amor divino pode guiar os fiéis na busca por uma Igreja mais inclusiva e compassiva.
Almejemos, pois, um mundo melhor e com um coração maior. Está nas nossas mãos a possibilidade de o fazer, estando no mundo e reconhecendo o que nele está mal, somos chamados a suprir as carências que proliferam em nosso redor.
Com este espírito de bem querer e de bem fazer, “Do Coração” vos desejo um Divino Natal.