A 26 de fevereiro, estreia o terceiro e último espetáculo do ciclo com curadoria de Marco Paiva: A Tempo, Tríptico sobre o Ócio, Memória, de Raquel André e Aliu Baio, no Teatro S. Luiz.
A Tempo, um Tríptico sobre o ócio, com curadoria de Marco Paiva, são três estreias, três atos e três duplas de artistas de diferentes linguagens, André Uerba e Tony Weaver (Comunicação), André Murraças e Mia Menezes (Espaço) e Raquel André e Aliu Baio (Memória). Em cena no Teatro São Luiz até 1 de março.
Os espetáculos decorrem de quarta a sábado, e tanto os espetáculos como a conferência contam com interpretação em Língua Gestual Portuguesa, legendagem automática em português e áudio comentário poético.
Um som, um cheiro, um toque, uma dor, um sabor, uma fragrância, uma imagem, uma perceção. Quando nos vem à mente um cheiro da nossa infância ou de um passado distante, quando aos nossos ouvidos ou olhos chega um rosto de quem o vento e a vida sopraram para longe, ou de quem a morte e a sua natureza não se esqueceram de arrancar de nós, quando ao passarmos pelas ruas um perfume traz à nossa memória a saudade de um corpo e alma que já abraçámos.
O que é a memória? Quem seríamos sem ela?
Memória, sete letras que formam uma palavra que significa a essência humana, que com o tempo, que é o seu companheiro de estrada, apaga ou reaviva as consequências e ações de uma vida imprevisível.
Memória é o tema do projeto A Tempo da Terra Amarela, com curadoria de Marco Paiva e Aliu Baio e Raquel André são uma das três duplas desafiadas neste projeto. Aliu sempre quis trabalhar um texto de teatro e Raquel já não interpretava um há algum tempo, em comum há ainda a relação que ambos têm com o medo de perder a memória.
André Uerba e Tony Weaver
No tempo atual, em que as sociedades contemporâneas insistem por uma aceleração exacerbada do quotidiano, em que as Artes Performativas são absorvidas por sistemas de produção que esvaziam o lugar de experimentação – o lugar do simples estar – este encontro entre André Uerba e Tony Weaver propõe uma ruptura no sistema de trabalho paradigmático das artes performativas.
“Queremos propor-nos reencontrar e transformar a ideia de trabalho numa ideia de encontro. Olhar nos olhos do outro, e atravessar juntos territórios biográficos, de medo, intimidade, desejo e práticas de libertação emocional. Entre olhares cruzados, interpretações e conversas interiores, emergem questões sobre a triangulação da comunicação e a sensibilidade do escutar para além do ouvir. Partimos para este encontro com a vontade de saltar de paraquedas, de gritar – quase como um ato de deixar ir, abandonar – ou talvez como um ato de tocar (n)o chão.”
Para os quatro dias os autores propõem um dispositivo que assenta na ideia de jogo / conversa e convidam para se juntarem, para cada encontro, duas pessoas. Entre perguntas e partilhas querem criar um espaço onde “a simplicidade de um encontro revela a complexidade das nossas identidades. Assinalamos o palco como zona de embarque – como espaço de transformação e vulnerabilidade”, dizem os autores.
Mia Menezes e André Murraças
Em “Espaço”, perguntam como é a relação que se estabelece com o outro? Por que é ela tão fundamental? É no encontro com o outro que nos fundamos como ser e fundamos o mundo que partilhamos. O outro, na sua diferença, grita a nossa condição de desterrados. Encontramos um espaço comum, na cadência dos dias por que somos pautados.
Este é encontro às escuras. “Somos dois estranhos que nunca trabalharam juntos nem se conheciam antes desta oportunidade. Somos dois artistas com vidas diferentes, obviamente, mas ambos sentimos o palco como casa. Assumimos os ensaios como lugar de descoberta, como há muito não fazíamos. Não houve texto clássico para decorar, um encenador de renome ou emergente, nem tendências de festival de teatro. Houve tempo para estarmos juntos a pensar, a testar disparates. Trabalhámos à distância, por mensagens, depois ao vivo, com horários. Às vezes no café, sim e então? Assim sim, assim não. Escreve tu, escrevo eu, queres entrar aqui, ou isto ficava bem em cena, não? Foi um vamos ver no que isto dá. Sempre marcado por uma urgência de sermos vistos, ouvidos e lidos. Sim, precisamos da vossa atenção,” explicam.
Antes da estreia, no dia 24 de fevereiro, há uma conferência com entrada livre, onde os artistas partilham o processo de criação com o público.
Neste projeto exploram-se materiais cénicos a partir de textos, de música, de movimento, de cheiros, de encontros com pessoas e outros sentidos.