Em entrevista ao diário espanhol El País, Maria da Graça Carvalho defendeu a necessidade de pressionar França a apostar no aumento de interligações, mas acredita que não França tem esse interesse, pois possui “muita energia nuclear”.
“Todos os governos lutam há anos para aumentar as interligações. Esta exigência está sempre presente nas cimeiras ibéricas”, disse a ministra do Ambiente e da Energia. “Penso que a França não está muito interessada porque tem muita energia nuclear”.
Maria da Graça Carvalho adiantou que Portugal e Espanha vão abordar esta questão com mais insistência em Bruxelas, pois “não se trata de uma questão bilateral ou trilateral”, mas sim “de uma questão europeia”.
“Estamos a enfrentar barreiras ao mercado interno, que é o pilar da construção europeia, e a França, ao não apoiar a velocidade com que pretendíamos construir estas interligações, está a colocar barreiras ao mercado interno”.
“Vamos pedir o apoio da Comissão Europeia e solicitar uma reunião com a França. Este incidente mostra como as interconexões são importantes para a Europa”, declarou ao El País durante a entrevista, realizada na sexta-feira no seu gabinete, em Lisboa.
Na visão de Maria da Graça Carvalho, não há dúvida que, se a Península Ibérica tivesse mais interligações com França, o apagão teria sido menos grave. “Sem dúvida. A recuperação teria sido mais rápida. Quando cortámos a ligação com Espanha, ficámos sem qualquer outra ligação”, vincou.
Ainda não se sabe o que causou o apagão
Questionada sobre se há progressos no esclarecimento do sucedido, a responsável respondeu negativamente. “Sabemos quais são os primeiros centros que foram desligados e a zona, mas não temos sequer a certeza de que o problema tenha surgido aí. Temos de aguardar a análise dos dados”, afirmou.
Segundo a ministra, o Governo português tem estado em contacto permanente com Espanha desde o dia do apagão.
“Há um contacto e uma cooperação entre os ministros e entre os secretários de Estado. Estamos satisfeitos com esta colaboração, que inclui a troca de dados técnicos da REN e da REE”, explicou, adiantando que teve uma reunião como homólogo espanhol na semana passada.
Quanto a um possível pedido de compensação financeira a Espanha por parte de Portugal devido à falha de energia, a ministra descartou para já a hipótese, defendendo que o objetivo neste momento é compreender o que se passou.
“Enquanto não compreendermos o que se passou, não abordaremos essa questão. Ao mesmo tempo, estamos a trabalhar para prevenir incidentes desta natureza e, se acontecer – porque não há garantias de que não aconteça – que medidas podemos tomar para que a recuperação seja mais rápida”.
Maria da Graça Carvalho lembrou que Portugal demorou “cerca de dez horas a recuperar” e foi “felicitado” por isso. “Tendo em conta a gravidade, foi uma recuperação bastante razoável, mas, ainda assim, temos de pensar em como recuperar mais rapidamente”, concluiu.


