Democracia à deriva: A Europa caminha voluntariamente para o abismo

José Padrão Mendes, Médico Neurologista

Vamos parar de fingir que é só “mais uma fase política”. A extrema-direita está a escalar — não discretamente, mas com bandeiras desfraldadas, moções de censura em punho e sorrisos populistas nos debates europeus. Não se trata de divergência ideológica; é sabotagem institucional travestida de alternativa patriótica. E o pior? Parte da sociedade aplaude.

Jovens que flertam com o autoritarismo

Mais de 20% dos jovens europeus dizem que aceitariam viver sob um regime autoritário se este “resolvesse os problemas”. Desculpem, mas quando foi que a solução virou sinónimo de submissão? A geração que cresceu com acesso à internet, à diversidade e à liberdade está agora a normalizar a ideia de um líder forte e pouco democrático. Não é uma crise de opinião — é uma crise de identidade democrática.

Partidos radicais: de marginalizados a respeitáveis

O Chega em Portugal, Fratelli d’Italia em Itália, Vox em Espanha — todos eles usam o mesmo manual: gritar contra a imigração, jurar lealdade à nação, insultar os pilares democráticos e vender isso como “libertação”. Não é debate político, é desinformação com verniz institucional. E o mais assustador: funciona.

O Parlamento Europeu: palco ou alvo?

A recente moção de censura contra a Comissão Europeia, embora derrotada, revela algo mais perigoso que o número de votos. Revela ambição. A extrema-direita não quer apenas presença — quer poder. E está a jogar dentro das regras para rasgar o manual por dentro. Se o Parlamento virar campo de sabotagem, a Europa vira uma peça de teatro sem guião.

Portugal: a máscara caiu

Durante décadas, Portugal foi visto como imune ao extremismo. Hoje, o Chega é a segunda força no Parlamento, e o número de grupos neonazis em solo português assusta qualquer relatório internacional sério. O que era marginal agora tem tempo de antena, orçamento e imunidade parlamentar. A luta contra a desinformação virou uma batalha pela sanidade política.

A democracia morre pela indiferença

Não será uma ditadura que se impõe pela força. Será um autoritarismo suavemente aprovado pela maioria silenciosa, anestesiada por promessas fáceis. Quando os direitos se tornam negociáveis, e a liberdade depende da opinião das redes sociais, não estamos a viver numa democracia — estamos a assistir à sua autópsia.

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