Maria Inês Almeida: “Quem parte fica sempre connosco de outra forma”

Pedro Gaspar

Maria Inês Almeida, autora da coleção “O Diário de uma miúda como tu” tem um novinho Diário, desde Abril, o número quinze. “Melhores Amigas” foi a obra infantil mais vendida de uma autora nacional na Penguin Kids. Um sucesso literário inequívoco. O primeiro romance young adult publicado pela escritora “O que fazemos com este amor? “, em maio, saltou de imediato para a 4a posição do top da Bertrand.  

Um, dois, três, quatro…setenta e sete. 77. Leu bem, não é uma gralha, é o número físico de obras publicadas da escritora Maria Inês Almeida, desde Abril de 2006.

Este mês chegou às livrarias “Onde estás, avó?” publicado  pela editora Nuvem das Letras. Um livro infantil emocionante  que poderá ser lido por toda a família,  para reflectir sobre a importância de preservar as memórias de quem mais gostamos. A autora MIA revela enfaticamente “tinha de ser escrito. As crianças merecem!”.  Quis, assim, homenagear uma presença tão única na vida das crianças, na vida de todos: os avós. Uma história bonita que mostra que o desaparecimento físico de uma avó/ avô não apaga o amor. “Pelo contrário, transforma-o”. Entre lágrimas, trás sorrisos através da ternura, saudade e conforto que ficam.  Agora, é só “escutar” e descobrir a Maria Inês.

Qual foi o ponto de partida para o primeiro diário?

O ponto de partida foi mesmo imaginar uma miúda real parecida com tantas outras que conheço, cheia de dúvidas, sonhos e humor.
Foi também recordar-me de como era ter essa idade: as primeiras paixões, os momentos embaraçosos, a escola, a família… Quis criar um espaço onde qualquer miúda pudesse sentir que não está sozinha nessas coisas todas que parecem tão gigantes quando se tem 8, 9, 10, 11,12, 13 anos.

Durante o processo criativo, começa pela personagem, pela história ou pela mensagem?
Começo quase sempre pela personagem. É ela que me leva. Gosto de perceber como fala, o que pensa, quais são os medos e os sonhos.
A história vai surgindo à medida que vou conhecendo melhor essa personagem. Por fim, vem a mensagem, que nunca imponho logo à partida, mas que acaba por aparecer.

Quais os maiores desafios ao escrever histórias para o universo das crianças?
É ser verdadeira sem perder o encanto. Respeitar a inteligência delas, sem nunca infantilizar ou simplificar demais. As crianças são muito mais perspicazes e profundas do que, às vezes, os adultos pensam. Outro desafio é equilibrar humor e emoção, para que a história seja divertida mas também tenha substância.

A série infanto juvenil de Maria Inês Almeida é best seller de vendas da Editora Penguin Kids

Temas do dia a dia de uma miúda: escola, amizades, inseguranças,
redes sociais. Qual o mais importante?
Talvez a amizade. Porque, nessa idade, as amigas (e os amigos)tornam-se quase como uma segunda família. É com elas que se partilham segredos, risos, lágrimas… e isso marca-nos para sempre.

No eixo temático da narrativa como equilibra a leveza e o humor com assuntos sérios e desafiantes?

A vida é feita assim mesmo, não é? Até nos dias mais difíceis há sempre um momento de humor, uma piada, uma distracção que alivia. Tento que o texto espelhe isso: falar de temas sérios, mas nunca perder a capacidade de sorrir.

Como gere a ilustração? Funde-se levemente com o texto ou é mais complexo?
É um diálogo constante. As ilustrações dão alma e vida ao texto; às vezes reforçam algo, outras vezes acrescentam detalhes que não estão escrito. Os dois contam a história juntos.

A MIA de 10 anos tinha um diário? Que conselhos lhe daria agora a ela?
Tinha! Diria para continuar a escrever. Mesmo quando achar que não tem nada de interessante para dizer. Um dia vai perceber que tudo aquilo foi importante. É bom “deitar” cá para fora o que vai cá dentro.

É importante que as crianças se sintam representadas nos livros?
Para mim é. Quando uma criança se vê reflectida num livro — nos pensamentos, na linguagem, nas dúvidas — sente-se validada e sabe que o que ela vive importa. Isso dá força e confiança.

Como interpreta a sua filha Francisca essas histórias?
A Francisca adora ler a coleção o “Diário de uma miúda como tu“. Já leu todos os livros e está a aguardar o próximo. Para mim foi muito engraçado como mãe estar a vê-la tão entusiasmada com aquela leitura. Ela e as amigas!

Alguma mensagem de uma pequena leitora que tenha emocionado mais?
Tantas! Todas as mensagens das minhas leitoras e estar com elas deixa-me muito feliz. Porque são genuínas e verdadeiras. Consoante os temas dos Diários as mensagens também variam.

O que podem as miúdas do nosso tempo esperar num “Diário”? Um pouco de si próprias?
Exactamente isso: reconhecerem-se! Podem esperar encontrar dúvidas, medos, gargalhadas, pequenos dramas e vitórias. Um espelho onde se podem ver e sentirem-se compreendidas.

Onde acaba a personagem Francisca com 9 anos e 3/4 e começa a Maria Inês?
A Francisca vai crescendo. Começou com 9 anos! É como se a Francisca do livro fosse feita de várias partes: um bocadinho da mãe, um bocadinho da filha e um bocadinho de todas as miúdas. Mas acho que a Francisca é mais corajosa a dizer o que pensa. Eu demorei mais tempo a aprender isso.

Mensagem final para as queridas leitoras…
Não tenham medo de escrever, de rir, de chorar ou de dizer “não sei”. É nas perguntas e até nos erros que encontramos quem somos. Continuem a ser curiosas. E a acreditar que vale sempre a pena ler e ter um diário!

Sobre o livro «Onde estás, avó?» O verão é o tempo dos avós. Foi a pensar assim que surgiu a ideia?
Eu diria que os avós são de todos os tempos. Quis homenagear esse presença tão única. Mas o verão lembra as tardes compridas com os avós, as histórias, os cheiros, as conversas.

Qual a sua memória mais marcante com os avós?
É difícil escolher, pois cada um deixou-me memórias diferentes. E todas especiais à sua maneira.

O que tem de diferente a avó da mãe?
A avó tem outro tempo, outro ritmo. É mais contemplativa e tem uma ternura quase sem regras.

Um tema profundo: a perda de uma avó. Sente que a mensagem será bem interpretada?
Tenho recebido mensagens muito bonitas. Quis mostrar que a ausência física não apaga o amor — pelo contrário, transforma-o. Espero que as crianças sintam isso: que quem parte continua connosco de outra forma. O objectivo foi escrever algo que fosse honesto e que ajudasse as crianças a perceber que lembrar é também uma forma de continuar a amar.

Quais as reações que espera das crianças?
Espero que sintam ternura, saudade e conforto. Que percebam que as memórias boas são tesouros que ninguém nos tira. E que depois de lerem abracem ainda com mais força os avós que têm perto.

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