O Almirante Henrique Gouveia e Melo foi o primeiro convidado da Estoril Talks, que decorreu ontem no Hotel Londres no Estoril, para falar sobre o papel da Nato no actual enquadramento político internacional. No centro das preocupações do candidato presidencial estão as várias ideias para a reformulação da Nato, defende que Portugal deve “alimentar a ideia de uma NATO global, para dar uma resposta aos novos desafios”.
A conferência do ex-Chefe de Estado das Forças Armadas, Gouveia e Melo foi subordinada ao tema do “futuro da NATO e da Defesa de Portugal face às alterações na relação transatlântica”, no Hotel Londres no Estoril, organizado pelo Grupo BF.
O candidato presidencial critica a real politik, “mundo amoral em que temos de considerar a pior hipótese”, sendo por isso necessário “planear, porque podemos ter de nos confrontar com o piro cenário.” Numa clara crítica a Donald Trump e Vladimir Putin como os protagonistas de uma nova geopolítica que quer por em causa a Nato criada há 80 anos, no final da segunda Guerra mundial.
“Num mundo caótico e de relações manifestas na vida internacional, guerra de tarifas, invasão da Ucrânia por parte da Rússia com a intenção de definição de novas fronteiras no séc. XXI, não esquecendo a agressão para lá do que deve ser operação militar da guerra em gaza, e outras consequências no mundo, as referências actualmente são os interesses económicos”, sublinha o Almirante.
“A Nato garantiu a segurança do ocidente durante os últimos 80 anos, e nós começamos começamos a pensar se devemos manter a Nato.,” frisa Gouveia e Melo.
Defende uma estratégia para a Defesa Nacional para o “nosso pais de pequena e media dimensão, temos de ter cuidado com o nosso colectivo”. Preocupado com o papel das nossas alianças, e o “posicionamento em que estamos,” informa a Lusa.
“Nós, portugueses, não podemos deixar que a aliança atlântica evolua para uma NATO continental desligada do eixo transatlântico e desligada dos Estados Unidos.” Declarou, sem identificar os destinatários da sua mensagem, que” criticar os Estados Unidos, pura e simplesmente porque é o senhor Trump, não parece a melhor estratégia para Portugal.”
Nesta conferência, a tese central do almirante foi a de que não interessa a Portugal que a NATO se torne uma potência continental, porque nesse modelo o país será “periférico”.
Em contrapartida, na sua perspetiva, Portugal deve “alimentar a ideia de uma NATO global, para dar uma resposta aos novos desafios”, refere a nota da Lusa.
“Numa componente mais regional dessa NATO global, Portugal pode concentrar-se no Atlântico Norte e no Atlântico Sul, que são áreas de influência, uma por proximidade geográfica e outra por proximidade identitária”, sustenta.
Neste ponto, falou da proximidade histórica de Portugal ao Brasil, a Angola e da experiência secular nacional no golfo de África e na África Ocidental.
“Podemos fazer um papel de charneira para a África – e os americanos consideram esse papel muito relevante”, diz o Almirante.
Ainda segundo o ex-chefe do Estado-Maior da Armada, Portugal pode também desempenhar o papel de “controlar a atividade submarina” de adversários no Atlântico Norte.
A Estoril Talks tem um formato trimestral que consiste num almoço, no Hotel Londres, com cerca de 50 pessoas, com um orador convidado e espaço para debate. A próxima Talks vai decorrer depois das eleições autárquicas.
No Conselho Consultivo do projeto Estoril Talks estarão nomes destacados da área pública, académica e empresarial, os primeiros confirmados são: Carlos Carreiras, Presidente da Câmara Municipal de Cascais e Pedro Oliveira, Dean da Universidade Nova USB (localizada em Carcavelos).
“Numa era cada vez mais rápida e digital, estamos convictos que ao criarmos um espaço de debate regular podemos contribuir para a criação de ferramentas que nos permitam viver num País e num mundo melhor e proporcionar esperança às gerações do futuro”, salienta Jorge Fonseca, Presidente do Grupo BF.