Extrema-direita em ascensão: Europa sob tensão democrática

José Padrão Mendes, Médico Neurologista

Nos últimos anos, a Europa tem assistido a uma transformação política inquietante: o crescimento acelerado da extrema-direita em diversos países, com impactos diretos nas instituições democráticas e na coesão social. Este fenómeno, que já se traduz em governos dependentes de partidos radicais em países como Itália, Suécia e Finlândia, ganhou novo fôlego com a recente moção de censura apresentada no Parlamento Europeu.
A moção de censura: um sinal de força ou fragilidade?

No dia 10 de julho de 2025, uma moção de censura contra a Comissão Europeia, liderada por Ursula von der Leyen, foi votada no Parlamento Europeu. A iniciativa partiu de eurodeputados da extrema-direita, nomeadamente do grupo Patriotas pela Europa e de Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), incluindo representantes do partido português Chega.

Embora a moção tenha sido rejeitada por larga maioria — 360 votos contra, 175 a favor e 18 abstenções4 — o episódio revelou fissuras preocupantes na aliança pró-europeia. A votação expôs o crescente peso político da extrema-direita, que, mesmo sem conseguir derrubar a Comissão, demonstrou capacidade de mobilização e influência.

Crescimento da extrema-direita na Europa
A ascensão da extrema-direita não é homogénea, mas apresenta padrões comuns:

Discurso anti-imigração e eurocético: partidos como o AfD na Alemanha, Vox em Espanha, e Fratelli d’Italia em Itália têm capitalizado o descontentamento com políticas migratórias e a centralização de decisões em Bruxelas.

Normalização política: partidos outrora marginais passaram a integrar coligações governamentais ou a liderar a oposição, como acontece na Áustria, França e Países Baixos.

Radicalização digital: redes sociais têm sido terreno fértil para a disseminação de teorias da conspiração e discursos de ódio, contribuindo para a polarização política e social.

Portugal: entre o espelho europeu e os seus próprios fantasmas

Portugal, historicamente resistente a movimentos extremistas, tem seguido a tendência europeia. O partido Chega, fundado em 2019, tornou-se a terceira força política nacional, com 58 deputados eleitos nas legislativas de 2025. A sua retórica nacionalista, anti-imigração e anti-sistema tem conquistado eleitorado descontente com os partidos tradicionais.

Além do Chega, o país abriga pelo menos 13 grupos de extrema-direita identificados por organizações internacionais, incluindo movimentos neonazis e nacionalistas brancos. O relatório do Projeto Global contra o Ódio e o Extremismo alerta para a influência transnacional desses grupos, que replicam ideologias de movimentos franceses, italianos e norte-americanos.

Perspectivas futuras: entre resistência e risco

O crescimento da extrema-direita na Europa e em Portugal levanta questões cruciais:

Democracia em risco: a tentativa de deslegitimar instituições europeias, como a Comissão, pode minar a confiança pública e abrir espaço para agendas autoritárias.

Polarização social: o aumento de discursos de ódio e intolerância ameaça a convivência democrática e os direitos fundamentais.

Resposta institucional: é urgente reforçar a educação cívica, a inclusão social e a transparência política para conter a radicalização.

A Europa enfrenta um teste de maturidade democrática. A resposta não está apenas nas urnas, mas na capacidade coletiva de defender os valores que sustentam a liberdade, a diversidade e a paz.

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