Lepanto, uma “flotilha” de espanto

Susana Mexia, Professora de Filosofia

No século XVI, o Império Otomano era uma das potências mais temidas do mundo, com um vasto território que se estendia do Oriente Médio até aos Balcãs e ao Norte de África.

A expansão otomana incluía incursões constantes contra terras cristãs, com particular pressão sobre as posses da República de Veneza, que mantinha importantes colónias e rotas comerciais.
Fortalecidos pela recente conquista da ilha de Chipre procuravam destruir o resto da Europa cristã, invadir a Itália e, suprema ambição, entrar a cavalo na Basílica de São Pedro, em Roma.

Perante tamanho perigo e enfraquecido por anos de luta, o Papa Pio V viu-se obrigado a pedir auxílio aos reinos cristãos. Excluindo o Sacro Império Romano Alemão e a França, países corroídos por guerras religiosas com os protestantes, restava Felipe II de Castela, que prontamente acedeu a enviar a sua esquadra para reforçar o poder marítimo de Veneza.

Coube a D. João de Áustria, com 26 anos de idade e cheio de talento militar, conduzir a Batalha Naval de Lepanto à frente da esquadra da Liga Santa, composta pela República de Veneza, Reino de Espanha, Cavaleiros de Malta e Estados Pontifícios.

Milhares de turcos maometanos detentores duma armada “quase invencível,” composta por perto de 300 navios, encaminhavam-se para o Golfo de Lepanto, perto da cidade grega de Corinto, eleito como ponto estratégico para entrarem em terras de Cristo.

No dia 7 de Outubro de 1571, deu-se no golfo de Corinto, o maior combate naval travado no século XVI, entre milhares de turcos maometanos comandadas por Ali Paxá e as forças aliadas cristãs (Espanha, Veneza, Santa Sé), sob o comando de D. João da Áustria.

Frente ao inimigo e mandando hastear o estandarte oferecido pelo Papa bradou: “Aqui venceremos ou morreremos” e deu ordem de batalha contra os seguidores de Maomé”.
Os primeiros combates foram favoráveis aos muçulmanos, mas os católicos, com o terço ao pescoço, estavam prontos para dar a vida por Deus e tirar a dos infiéis, pelo que respondiam aos ataques com o maior vigor possível.

O combate durou poucas horas, não obstante a discrepância de forças, devido à superioridade de homens e de naus turcas e pela luta renhida que tiveram de travar, a vitória dos cristãos foi surpreendentemente completa. O almirante Ali Pachá foi feito prisioneiro com muitos outros maometanos que, de forma inexplicável, repentina e apavorados, bateram em retirada.

Consta que alguns mouros aprisionados pelos cristãos confessaram, que o motivo da debandada foi, terem visto no Céu uma brilhante e majestosa Senhora que os “convidou” a fugir.

Reza a História que enquanto esta batalha se travava, a cristandade rogava o auxílio da Rainha do Santíssimo Rosário. Em Roma, o Papa pediu aos fiéis que redobrassem as preces, e as Confrarias do Rosário promoviam procissões e orações nas igrejas, suplicando pela vitória da armada católica.

Também o Sumo Pontífice, que estava numa reunião de Cardeais, em dado momento, levantou-se, rezou o terço e em visão sobrenatural, tomou conhecimento do desfecho da batalha. Exultando de alegria exclamou: “Vamos agradecer a Jesus Cristo a vitória que acaba de conceder à nossa esquadra”.

Esta milagrosa visão só foi oficialmente confirmada na noite de 21 de Outubro, quando o correio chegou a Roma com a notícia da vitória. Porém, Pio V tinha meios de comunicação mais rápidos…

Em memória deste acontecimento devido à intervenção de Maria, o Papa dirigiu-se à Basílica de São Pedro onde cantou o Te Deum Laudamus e introduziu a invocação Auxílio dos Cristãos na Ladainha do Terço de Nossa Senhora. Para perpetuar este milagre instituiu a festa de Nossa Senhora da Vitória que, dois anos mais tarde, tomou a denominação de festa de Nossa Senhora do Rosário, comemorada pela Igreja no dia 7 de Outubro de cada ano.

Para que ficasse gravado para sempre na História, que a Vitória de Lepanto se ficou a dever à intercessão da Senhora do Rosário, o Senado veneziano mandou pintar um quadro representando a Batalha Naval com a seguinte inscrição: “Non virtus, non arma, non duces, sed Maria Rosarii victores nos fecit”. (nem as tropas, nem as armas, nem os comandantes, mas a Virgem Maria do Rosário é que nos deu a vitória).

Batalha de Lepanto, travada a 7 de outubro de 1571, é uma das mais significativas batalhas navais da história e continua a ser lembrada como um símbolo de fé e resistência cristã. Não foi apenas uma vitória militar, mas também um triunfo espiritual para a Igreja, celebrada até hoje com devoção a Nossa Senhora do Rosário.
A batalha exemplificou o poder da unidade cristã e a crença no auxílio divino, deixando um legado profundo que ressoa ao longo da história da Igreja Católica e de toda a Humanidade.

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