Francisco Pinto Balsemão – o Homem que acreditava na Democracia e nas Pessoas

Lina Lopes, Ex-deputada da Nação

Partiu um dos grandes construtores da democracia portuguesa. Francisco Pinto Balsemão foi mais do que um político: foi um homem de princípios, de cultura, de ética e de uma serenidade rara. Serviu Portugal com inteligência, coragem e moderação. E fê-lo sempre com uma elegância moral que o distinguia.

Recordo-o com emoção. Recordo as conversas pausadas, o olhar atento, a forma como ouvia antes de responder. Foi um verdadeiro senhor da política e da vida pública — um exemplo de integridade e de humanidade.

Tive o privilégio de privar com ele em momentos decisivos do meu percurso. Nunca esquecerei o apoio que me deu na constituição das Mulheres Social Democratas, um projeto pioneiro que acreditava no valor das mulheres na política e na sociedade. Francisco Pinto Balsemão foi um dos primeiros a reconhecer que a democracia precisava da voz feminina.

Recordo também o seu apoio à primeira Academia de Formação Política para Mulheres, uma iniciativa que criei no âmbito do Instituto Francisco Sá Carneiro, com o apoio da Fundação Konrad Adenauer. Ele era então Presidente do Conselho Geral do Instituto — do qual tive a honra de ser Vice-Presidente do Conselho de Administração — e acompanhou esse projeto com entusiasmo genuíno.

No lançamento da Academia, Balsemão deixou palavras que ficaram gravadas na memória de todos:

“O problema é de atitude. Atitude por parte dos homens. Há ainda muitos homens — não apenas os que são patrões, homens de todas as classes sociais, de todas as profissões — que entendem que as mulheres são inferiores no que respeita a vários atributos, incluindo atributos de liderança, de credibilidade, resiliência, inteligência emocional, de saber ouvir. Penso que tudo isto é falso, mas o velho azulejo que dizia ‘quem manda lá em casa é ela, mas quem manda nela sou eu’ ainda não desapareceu, ainda se mantém em muitas mentes masculinas. Nada mais falso!”

Palavras corajosas, vindas de um homem com uma visão moderna e sensível. E terminou com a autenticidade que o caracterizava:

“Há diferenças entre homens e mulheres que eu pessoalmente espero que se mantenham. Chamem-lhe Vénus e Marte, chamem-lhe o que quiserem, mas eu espero que se mantenham. Por exemplo, eu continuarei a gostar de mandar flores às senhoras, continuarei a apreciar as senhoras bem vestidas, bem penteadas, bem maquiadas. Continuarei a não passar à frente de uma senhora numa porta ou na entrada do elevador.”

Era assim Francisco Pinto Balsemão — firme nos valores, mas profundamente humano. Um homem que sabia respeitar as diferenças sem abdicar da igualdade, e que acreditava que a democracia se constrói com equilíbrio e respeito.

Lina Lopes, ex-deputada do PSD, conheceu muito de perto Francisco Pinto Balsemão

Guardo também com carinho a recordação da visita à casa onde nasceu e cresceu, na Lapa. Foi lá que me autografou o livro das suas memórias — um gesto simples, mas simbólico, que guardo com enorme ternura.

Guardo comigo boas recordações e uma profunda gratidão.

Até um dia! Que descanse em paz.

Seja Apoiante

O Estado com Arte Magazine é uma publicação on-line que vive do apoio dos seus leitores. Se gostou deste artigo dê o seu donativo aqui:

PT50 0035 0183 0005 6967 3007 2

Partilhar

Talvez goste de..

Apoie o Jornalismo Independente

Pelo rigor e verdade Jornalistica