O que se fala quando se fala de Maçonaria? Bernardo Motta, engenheiro e investigador de religião, foi o convidado do último almoço das Conversas do Dom Carlos no passado dia 7 de novembro, em Cascais. Existem “erros comuns” sobre a Maçonaria, por exemplo “é uma designação que abarca realidades muito distintas”, mas com um “fundo em comum”: o esoterismo e o gnosticismo.
A dúvida persiste: existe incompatibilidade entre a Maçonaria e a religião Católica? Quer na maçonaria mais anticlerical e anticatólica, quer na maçonaria mais tradicional e Cristã, há incompatibilidade com a Fé Católica.
São várias as condenações do Magistério da Igreja Católica sobre a participação na Maçonaria por parte de um católico, foram escritos 20 textos por papas, de destacar a Encíclica Humanum Genus, do Papa Leão XIII.
Quando se fala sobre Maçonaria, deve-se evitar generalizar ideias como “a maçonaria isto”, “a maçonaria aquilo”, pela sua enorme diversidade e heterogeneidade de ideias, frequentemente contraditórias, a maçonaria deve ser estudada quase caso a caso. Nalguns casos especiais, deve ser estudada pessoa a pessoa, explica Bernardo Motta em evento organizado por Luís Gagliardini Graça no Real Clube de Campo Dom Carlos I, sexta-feira passada. O orador convidado tem larga experiência no estudo de temas de fé, sendo palestrante há vários anos, bem como tem o Podcast café, ciência e fé, em que analisa a fé na modernidade com outros engenheiros participantes do Podcast.
“Raramente a Maçonaria provocou ou catalizou importantes acontecimentos históricos; quase sempre, a Maçonaria foi ao sabor do “espírito dos tempos”, o que explica que a sua história confusa se pareça com uma hidra multifacetada,” conta Bernardo Motta.
Anti-maçonismo católico
“É preciso rejeitar a tese, ainda popular, de que a elite maçónica conduz ou conduziu rituais satânicos, não estou a negar que certos maçons tenham praticado ou pratiquem o satanismo, isso é sempre possível,” diz o engenheiro do Podcast café, ciência e fé.
Acrescenta que “é preciso rejeitar as teses que procuram atribuir as revoluções à maçonaria, em particular a revolução francesa; na sua génese inglesa, a maçonaria é tradicionalista e não revolucionária; assim como a maçonaria exportada para o Continente, primeiro com a chamada “maçonaria escocesa” (criação francesa) e depois com a maçonaria dita “templária” (criação alemã).”
A maçonaria politizada, anticlerical, secularista e ateia/agnóstica é uma produção da segunda metade do século XIX, e floresce nos países Católicos num determinado contexto histórico (liberalismo, socialismo, secularismo, ateísmo).
A apresentação Bernardo Motta não aborda o séc. XX, nem a influência das lojas maçónicas na política contemporânea, que é bem real sobretudo nos países de tradição católica, daí o título “As Origens da Maçonaria.”
Incompatibilidade entre Maçonaria e Catolicismo
A dúvida persiste: existe incompatibilidade entre a Maçonaria e a religião Católica? Quer na maçonaria mais anticlerical e anticatólica, quer na maçonaria mais tradicional e Cristã, há incompatibilidade com a Fé Católica.
Nenhum Católico pode aceitar os princípios maçónicos, definidos pela Grande Loja de Inglaterra na génese da maçonaria moderna (1717), nomeadamente nas suas Constituições de 1723 e 1738: relativismo filosófico, deísmo, segredos de tipo iniciático, obediências ocultas ao resto da sociedade, iniciação para-cristã ou supra-cristã, influência da corrente hermética, irrelevância ou relativização da hierarquia Igreja Católica, conclui Bernardo Motta.
São várias as condenações do Magistério da Igreja Católica sobre a participação na Maçonaria por parte de um católico, 20 textos são escritos por papas:
■ Clemente XII: 1 Bula
■ Bento XIV: 1 Constituição Apostólica
■ Pio VII: 1 Bula
■ Leão XII: 1 Constituição Apostólica
■ Pio VIII: 1 Encíclica e 1 Carta
■ Gregório XVI: 1 Encíclica
■ Pio IX: 3 Encíclicas, 2 Alocuções
■ Leão XIII: 7 Encíclicas, 1 Carta Apostólica
■ 1917 (Bento XV): Código de Direito Canónico, cânone 2335
■ Proibição explícita de pertença a organizações maçónicas
■ 1983 (João Paulo II): Código de Direito Canónico, cânone 1374
■ Proibição não explícita
■ Congregação para a Doutrina da Fé: 3 Declarações e 1 “Reflexão”.


