Grupo de Teatro ÀPriori. “Deixar que a arte potencialize um mundo melhor”

Pedro Gaspar

A comunidade de Teatro Àpriori, fundada em 2017, acredita que “muito antes do palco começa a curiosidade, a auto reflexão e o desenvolvimento individual e comunitário.” Começaram com o espetáculo original – “Marilyn, O Musical”,  a partir deste primeiro sucesso cresceu a vontade em “explorar todo o processo envolvente” na produção de teatro musical.

A grande aposta desta comunidade de actores é a diversidade de idades, bem como a formação de teatro em escolas atingindo actualmente  600 alunos na Grande Lisboa.

O espectáculo musical Hairspray tem estreia  marcada em março, no Parque Mayer.

Como começou o vosso sonho?
O nosso sonho começou em 2017. Éramos quatro jovens que partilhavam o desejo comum de serem atores e de estrear um espetáculo original. Esse impulso materializou-se em “Marilyn, O Musical”, que marcou não só a nossa estreia como companhia, mas também o início de uma visão maior: criar um espaço onde o teatro pudesse ser vivido, ensinado e partilhado de forma acessível à comunidade. Com um grande acolhimento por parte da Cooperativa “A Sacavenense”, esse sonho ganhou vida.

Falem-nos um pouco sobre a vossa “trupe”…
Mais do que uma companhia, somos uma equipa movida pela partilha, pelo cuidado e pela entrega. A comunidade do Teatro Àpriori é feita de produtores, professores, alunos, pais criadores, e técnicos que crescem lado a lado, num ambiente onde a formação, a auto-descoberta e o espírito de equipa são pilares fundamentais. A nossa diversidade é a nossa força: diferentes percursos, idades e linguagens unem-se num mesmo propósito: deixar que a arte potencialize um mundo melhor.

Como vêem os musicais aqui e lá fora?
O Teatro Musical em Portugal está em rápida expansão, mas ainda enfrenta desafios estruturais, sobretudo no acesso a financiamento e reconhecimento institucional. Lá fora, são entendidos como grandes plataformas de expressão artística, com forte investimento e valorização empresarial. Aqui, acreditamos que estamos a construir esse caminho, formando públicos e artistas mais conscientes e preparados.

Porquê a escolha da etimologia “Àpriori”?
“Àpriori” remete para aquilo que existe antes da experiência, aquilo que nasce do pensamento, da intuição e da essência. Escolhemos este nome porque acreditamos que o teatro começa muito antes do palco: começa com a curiosidade, a auto reflexão e o desenvolvimento individual e comunitário. É um lugar de origem, de reflexão e de consciência artística.

O que fariam diferente se voltassem ao km 0?
Talvez tivéssemos procurado, desde início, um maior apoio estrutural e estratégico para sustentar o crescimento. Mas cada dificuldade moldou quem somos hoje. O percurso, com todas as suas imperfeições, construiu a nossa identidade resiliente e profundamente enraizada na comunidade.

O que vos inspirou para seguirem a carreira de atores / atrizes?
Foi sem dúvida o desejo de criar uma comunidade de apoio, para que juntos pudéssemos contar histórias, dar voz às nossas próprias emoções e de deixar o mundo num lugar melhor. O palco sempre foi um lugar de liberdade, de verdade e de encontro. O teatro permite uma comunicação humana e empática com o público, o que abre espaço a diálogo algo estrutural para o desenvolvimento de uma sociedade justa.

Qual o maior desafio até agora?
Manter a sustentabilidade da companhia sem comprometer os nossos valores. Ser uma estrutura independente, sem apoios fixos, é um ato constante de resiliência.

Como abordam a criação das personagens?
Partimos sempre da verdade individual, do seu percurso de vida até ao momento da ação. A direção de atores assume um papel estruturante. Estudamos o contexto, exploramos o corpo, a voz e a intenção, procurando compreender não só quem é a personagem, mas por que existe e o que representa na narrativa.

Houve algum momento constrangedor?
O teatro é feito de imprevistos: falhas técnicas, entradas trocadas, adereços que desaparecem em cena. São momentos que testam a nossa capacidade de adaptação e que, mais tarde, se transformam em histórias contadas com grandes risadas.

O que pensam do futuro do teatro e de todo o processo criativo?
Acreditamos que nos vamos transformar numa grande estrutura, desenvolvida para servir comunidades e públicos diversos. Queremos tirar a arte de um pedestal e queremos introduzi-la, de diversas formas, ao dia a dia dos portugueses. A nossa presença nas escolas, onde temos mais de 600 alunos, é um reflexo dessa prática. Queremos um teatro e um espaço que dialoga com o presente, que se reinventa sem perder a sua essência e que continua a ser espaço de reflexão e transformação.

Que conselhos desejam partilhar com os jovens que iniciam agora?
Persistam. Escutem. Aprendam. Sonhem. O teatro é disciplina, mas também amor. Não tenham medo de falhar, porque é nesse espaço que nasce o crescimento. E não tenham medo de sonhar em grande.

O que mais vos dá alento no processo de criação de um espetáculo?
Ver a transformação: das equipas, das ideias, do vazio que se enche de sentido. O momento em que tudo ganha vida em palco é profundamente recompensador, mas mais que isso, é olhar à volta e ver que a vida de centenas de pessoas recebeu um impacto positivo. Esse é um dos grandes poderes da arte.

A mensagem que transmitem é mais subliminar do que realista?
Depende sempre de cada espetáculo. Por exemplo, o Hairspray que vamos estrear em março no Parque Mayer, carrega consigo uma profunda reflexão social, acompanhado de muita comédia. Em espetáculos como a Marilyn, o exercício era maior. Gostamos sempre de inovar e surpreender com cada proposta que damos ao público.

É uma arte tão visual como auditiva?
Sem dúvida. O teatro musical, em particular, vive da fusão do que vemos, escutamos e sentimos, sendo no fundo uma mistura de estímulos. Cremos que a nossa arte é das experiências sensoriais mais completas.

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