Zelensky aguarda “garantias de segurança” para manter a Ucrânia “fora da influência” Russa

Marta Roque

O problema dos americanos no acordo de paz na guerra da Ucrânia “é conseguir que os ucranianos cedam território e que os russos aceitem que os aliados, EUA e Europa, forneçam garantias de segurança que impeça  nova tentativa expansionista daqui a uns anos”, admite a investigadora em política americana Ana Cavalieri no IEP- Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica.

Marco Rubio, chefe da diplomacia americana, disse um dia antes da reunião com delegação ucraniana que “as garantias de segurança só são acordadas depois do acordo de paz”. O que é” inaceitável” para os ucranianos, uma vez que a cedência de território “é contra a constituição, para além de todo o sacrifício derramado de sangue ucraniano.”

O secretario de Estado de Trump, Marco Rubio, esteve reunido no passado fim de semana com a delegação ucraniana para discutir o plano de paz da guerra da Ucrânia.

“Neste momento a Ucrânia está com graves dificuldades na zona de Donestke”, comenta Ana Cavalieri ao Estado com Arte Magazine. A Rússia afirmou esta segunda-feira ter capturado a cidade de Pokrovsk (Donetsk), no leste da Ucrânia, um importante centro logístico para as forças ucranianas, bem como Vovchansk (Kharkiv), no nordeste.

“A lógica das negociações de Estados Unidos consiste em utilizar o que os Russos ainda não conquistaram, como carta das negociações para Putin ficar com 20% do território ocupado.”

“O problema ucraniano nas negociações do acordo de paz é que os EUA não estão a oferecer garantias de segurança. Marco Rubio fez declarações que podem ser interessantes, apesar de contraditórias quando teve esteve reunido com a delegação ucraniana, entre outros, Rustem Umerov, chefe do conselho de segurança, a discutir o plano de paz da guerra com a Rússia”, explica Ana Cavalieri comentadora em política internacional na SIC Notícias.

Ainda assim o  presidente do Conselho de Segurança da Ucrânia, Rustem Umerov, manifestou o agradecimento do seu país pelos esforços desenvolvidos pelos Estados Unidos: “Os EUA estão a ouvir-nos, os EUA estão a apoiar-nos. Os EUA estão a trabalhar ao nosso lado”, disse Umerov à imprensa. Mas fontes ucranianas dizem que as “negociações não são fáceis”.

“O grande objectivo era não só resolver com a guerra, mas garantir as condições necessárias para que a Ucrânia se mantenha soberana e independente,” comenta Ana Cavalieri. Seria uma Ucrânia “fora do controle e influência russa, esse é o objectivo de Putin”.

Para a investigadora “a lógica de Putin” consiste em que “mesmo que aceite o acordo de paz agora, daqui a 5 anos pretende conseguir, seja através de pressão militar ou de uma nova conquista, tirar a Ucrânia fora da esfera influência do Ocidente e enquadra-la na esfera russa. Ele quer o controle político de toda a Ucrânia.”

Marco Rubio e os restantes países da Europa precisam de “oferecer garantias de segurança para manter a Urânia fora da influência Russa. A questão é que um dia antes da reunião Marco Rubio  vem dizer que as garantias de segurança só são acordadas depois do acordo de paz. O que é inaceitável para os ucranianos, uma vez que cederem território, o que é contra a constituição e depois de tanto sacrifício em sangue, só aceitavam com garantias de segurança,” sublinha Cavalieri.

“O problema dos americanos: conseguir que os ucranianos cedam território e que os russos aceitem que os aliados, EUA e Europa, forneçam garantias de segurança que impeçam os russos de terem nova tentativa expansionista daqui a uns anos.”

Há um problema de corrupção no executivo da Ucrânia “uma vergonha que retira legitimidade a Zelensky”, segundo a especialista em política americana. Andriy Yermak está a ser investigado no âmbito de um esquema de corrupção envolvendo a empresa estatal Energoatom, responsável pela energia nuclear no país.

Este é o segundo escândalo de corrupção num curto período de tempo a afetar a Ucrânia e a liderança de Volodymyr Zelensky. Em novembro, o Gabinete Anticorrupção Ucraniano anunciou ter realizado 70 buscas para desmantelar um “sistema criminoso” que permitiu o desvio de 100 milhões de dólares (cerca de 86 milhões de euros, ao câmbio atual) no setor energético. Esta operação acabaria mesmo por levar ao afastamento de dois ministros do Governo ucraniano.

Falta de recrutamento entre os homens ucranianos

Há um problema real de recrutamento dos jovens homens ucranianos para continuar na Guerra contra Putin. Ana Cavalieri estima que cerca de 200 000 homens ucranianos já desertaram desde o início da guerra em 2022.

Segundo a Euronews dezenas de milhares de soldados ucranianos, cansados e despojados, abandonaram as posições de combate na linha da frente para cair no anonimato, asseguram soldados, advogados e funcionários ucranianos. Unidades inteiras abandonaram os seus postos, deixando as linhas defensivas vulneráveis e acelerando as perdas territoriais, de acordo com comandantes militares e soldados.

Alguns entram em licença médica e nunca mais regressam, assombrados pelos traumas da guerra e desmoralizados pelas perspetivas sombrias de vitória. Outros entram em conflito com os comandantes e recusam-se a cumprir ordens, por vezes no meio de tiroteios.

Um “problema crítico”, admite Oleksandr Kovalenko, um analista militar baseado em Kiev. “Este é o terceiro ano de guerra e o problema só vai aumentar”.

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