Hoje, contudo, o contexto é outro: o desafio já não é apenas evitar extremos, mas redefinir o país num tempo de crise social, estagnação económica e fragilidade institucional. E aqui reside a grande singularidade desta eleição.
A verdadeira diferença destas eleições, tal como a vejo, está no facto de surgir finalmente um candidato cuja ambição ultrapassa a mera conquista do cargo de Presidente da República. Pela primeira vez em muitos anos, há alguém que não se limita a apresentar-se como gestor institucional, figura moderada ou administrador do Estado. Em vez disso, afirma com clareza a vontade de liderar, de transformar, de assumir o país nas mãos e colocá-lo noutro rumo. E isso é novo, disruptivo e, para muitos, profundamente mobilizador.
Nas presidenciais anteriores, a maioria dos candidatos parecia disputar sobretudo um papel simbólico: representar o consenso, garantir estabilidade, gerir o protocolo. Mesmo quando tinham convicções fortes, raramente propunham mudanças profundas ou projetos verdadeiramente transformadores.
A lógica dominante era a da continuidade. Mas este ciclo eleitoral abre espaço para algo diferente: um Presidente que não se contenta com a função decorativa e que veja o cargo como plataforma para inspirar, orientar e impulsionar reformas — mesmo dentro das limitações constitucionais. Esta postura é tão mobilizadora e inspiradora que os restantes candidatos se têm sentido obrigados a espelhá-la, ainda que sem o vigor do original.
Esta ambição lembra, em parte, momentos raros da história democrática, como a eleição de 1986, quando Mário Soares se apresentou como figura decisiva para travar riscos políticos e salvar o país de derivas que muitos temiam. Hoje, contudo, o contexto é outro: o desafio já não é apenas evitar extremos, mas redefinir o país num tempo de crise social, estagnação económica e fragilidade institucional. E aqui reside a grande singularidade desta eleição.
A existência de um candidato — André Ventura — que assume claramente o desejo de liderar o país, e não apenas de ocupar um posto, cria expectativas intensas e desperta tanto esperança como inquietação. O debate volta a centrar-se nos problemas reais do país — na saúde, na segurança, na economia, na habitação, entre outros — e nas soluções para os mesmos.
Churchill dizia que “um político preocupa-se com a próxima eleição; um estadista, com a próxima geração”. Ora, pela primeira vez em décadas, a questão já não é apenas saber quem disputa a eleição para ocupar o próximo cargo político, mas sim quem tem a coragem e a visão de um estadista, e quem se compromete a trazer ânimo às novas gerações e prosperidade ao país.


