A mesa redonda “Fronteiras na Cultura” decorreu durante o Fólio – Festival de Literatura de Obidos25 no Museu Abílio de Mattos e Silva na passada quinta-feira, dia 16 de Outubro. Na conversa com a moderação de Marta Roque, editora do Estado com Arte Magazine, participaram a actriz Anabela Brígida e a pintora Maria de Sobral Mendonça, ambas com carreira consagrada e experiência internacional, partilharam as fronteiras do processo criativo desde o espaço cénico à representação da imagem.
Como é que os artistas conseguem guardar a sua arte em países em guerra? – questiona Anabela Brígida. Qual o poder da arte nas fronteiras físicas? Pode mudar a actualidade?
No palco o artista enfrenta “a fronteira entre o racional e o espiritual,” acredita Maria Sobral Mendonza. Este e outros temas da Arte estiveram em cima da mesa.
Anabela Brígida conta a dificuldade de os artistas guardarem a arte em tempos de guerra: recorda a vida do Artista visual Karim Shaheen, refugiado palestiniano, que viveu onze anos entre 3 guerras diferentes: Irão e Iraque, a guerra do Golfo nos anos 90, e da Jusguslávia. Na sua infância sempre que viaja para qualquer país começava uma guerra. “Seria um fazedor de guerras?, questiona o artista.
Esta história é contada por outro artista refugiado de origem palestiniana, Husam Abel, criador de espectáculos. Na consequência das fronteiras na cultura as fronteiras geográficas “põem os artistas num estado limite”, assume Anabela Brígida.
A actriz questiona sobre a actualidade beligerante que o mundo atravessa: “como é que os artistas conseguem guardar a sua arte , a arte em países de guerra?” Anabela Brígida não tem dúvidas: “os artistas e a cultura são os guardiões essenciais de um povo.”
“Neste caso as fronteiras são físicas e reais, mas têm um impacto grande no futuro de um povo. Continuaram a ser artistas.”
A Arte tem o poder mudar a perspetiva da atualidade?
Maria Sobral Mendonça comenta que “a cor a palavra e som estão juntos e isso cria o cinema.”
“O povo sem história, sem cultura não tem história e sem história não é nação. E somos nós portugueses. Das nações mais antigas da europa, aquilo que deixamos trouxemos através da palavra, da literatura, do latim, do canto, da missa cantada. Somos o cruzamento disso tudo.
Acrescenta que o povo português é “muito abençoado pela fronteira do racional ao espiritual.” Algo que é muito português, mas para Maria Mendonza “é muito do artista”.
E justifica: “Há qualquer coisa quando piso o palco, qualquer coisa que me transcende: o que é isto? É a fronteira entre o racional e o espiritual.”
A edição comemorativa do 10 aniversário do Festival Literário Internacional de Óbidos teve como tema “Fronteiras”, decorreu entre 9 e 19 de outubro, com cerca de 100 mil visitantes.
“Para além da Pele” é tema da edição 2026 do FÓLIO
O Festival Literário Internacional de Óbidos, evento que encerrou, este domingo, trouxe à vila dezenas de autores, entre os quais três Nobel da Literatura e um Prémio Camões.
Inspirado na filósofa Silvia Federici, “‘Para além da Pele’ permite articular corpo, território, cuidado, ecologia e memória num mesmo gesto”, explicou, na sessão de encerramento, Filipe Daniel, presidente do Município de Óbidos.
A edição deste ano somou 100 mil visitantes, mantendo a tendência de interesse a nível nacional e internacional pela Literatura.
Anabela Brígida

É atriz e autora, foi protagonista nos filmes “A Mulher sem Corpo” (2020), “Na Mata dos Medos” (2024) e “Diário de Maria” (1998). É casada com António Borges Correia e tem dois filhos.
Anabela Brígida tem formação de teatro, com peças no Teatro Nacional D. Maria II e a Embaixada do Brasil, ocasião do bicentenário da independência. Protagonizou a peça “Trava ou Destrava Línguas”, na peça “Alices”, no Teatro da Garagem em 2005, no ano seguinte em “O Dono do Nada”, no Teatro Maria Matos.
Em 2007 participou na peça Macbeth, de William Shakespeare, no Teatro da Trindade.
Tem participado em novelas na TVI, séries e telefilmes.
Maria Sobral de Mendonza

Artista visual, pintora. A obra da Maria de Sobral Mendonza transita entre a pintura, vídeo-instalação e arte pública, com criações como “O Canto da Seara” (Évora, 2009), “Sioux: A Visão do Bisonte Bravo” (Lisboa, 2010), “Lusitânia Pátria Minha” (Lisboa, 2011) para o Palácio da Independência de Portugal, as pinturas religiosas para a nova Igreja da Outurela (Oeiras, 2015), e Nossa Senhora da Torre (2022, Museu PIO XII).
Além de exposições individuais e colectivas em Portugal e no estrangeiro, colabora com instituições culturais e desenvolve projetos de design em cerâmica, vidro e porcelana. Está representada em coleções públicas e privadas, tem um percurso vivo de residência artística.
Fólio25 apresenta a exposição sobre a obra os Lusíadas “Na Fronteira do Oceano à Poesia de Camões”, que está exposta no Hotel Pousada Vila de Obidos até final do mês de Outubro.


