Dia Mundial da Filosofia

Susana Mexia, Professora de Filosofia

Celebra-se  a 20 de Novembro o Dia Mundial da Filosofia. O objetivo desta efeméride é enaltecer a importância da Filosofia na vida do homem e na vida em sociedade, convidando a uma reflexão profunda, um questionamento crítico e radical, que vai às origens, não paira na superficialidade das aparências, nem se enovela em ideologias utópicas, em fantasias desviantes ou em perspectivas pseudo filosóficas construídas ao sabor do politicamente correcto.

A Filosofia é o estudo de problemas fulcrais para o homem como a realidade, a existência, o conhecimento, a razão e o sentido pleno da sua existência. A palavra filosofia advém do grego, significando Amor pela Sabedoria ou Amigo do Saber.

“Só se é Homem se se filosofar e uma vida sem Filosofia não é digna de ser vivida”.

Face ao esplendor destas afirmações não me sinto à vontade para acrescentar mais nada, por isso me limito a transcrever o texto de um dos muitos mestres* na arte da busca do saber:

André Comté Sponville  escreveu: “O que é a filosofia? (…) A filosofia não é uma ciência, nem mesmo um conhecimento; também não é mais um saber: é uma reflexão sobre os saberes disponíveis. É por isso que, como dizia Kant, não se pode aprender filosofia: só se pode aprender a filosofar. Como? Filosofando por nós mesmos: interrogando-nos sobre o nosso próprio pensamento, sobre o pensamento dos outros, sobre o mundo, sobre a sociedade, sobre o que a experiência nos ensina, sobre aquilo que nos deixa na ignorância…É desejável que, pelo mesmo caminho, encontremos as obras deste ou daquele filósofo profissional.

Pensaremos melhor, mais solidamente, mais profundamente. Iremos mais longe e mais depressa. Mas um autor, acrescentava Kant, deve ser considerado não como um modelo de juízo, mas simplesmente como uma ocasião de fazermos nós mesmos um juízo sobre ele ou até mesmo contra ele. Ninguém pode filosofar por nós. É claro que a filosofia tem os seus especialistas, os seus profissionais e os seus professores, mas não é propriamente uma especialidade nem um ofício nem uma disciplina universitária: é uma dimensão constitutiva da existência humana. (…)

E certamente que podemos raciocinar sem filosofar (nas ciências, por exemplo) e viver sem filosofar (na estupidez ou na paixão, por exemplo). Mas não podemos de todo, sem filosofar, pensar na nossa vida ou viver o nosso pensamento: pois isso é a filosofia em si mesma. (…)

A filosofia é questionamento radical, busca da verdade global e única (e não, como nas ciências, desta ou daquela verdade particular), criação e utilização de conceitos (embora isto também se faça nas outras disciplinas), meditação sobre a sua própria história e sobre a da humanidade, investigação da maior coerência possível, da maior racionalidade possível (é a arte da razão, se assim o quisermos, mas que desemboca numa arte de viver), construção, por vezes, de sistemas, elaboração, sempre, de argumentos, de teorias…Mas é também, e talvez mesmo antes de mais, crítica das ilusões, dos preconceitos, das ideologias.
Toda a filosofia é um combate. A sua arma? A razão. Os seus inimigos? A estupidez, o fanatismo, o obscurantismo – ou a filosofia dos outros. Os seus aliados? As ciências. O seu objecto? O todo com o homem inserido. Ou o Homem, mas no todo. A sua finalidade? A sabedoria, a felicidade, mas com verdade. (…)

Na prática os objectos da filosofia são inumeráveis: nada do que é humano ou verdadeiro lhe é estranho. Isto não significa que tenham todos a mesma importância. Numa passagem famosa da sua lógica, Kant resumia o domínio da filosofia em quatro questões: Que posso saber? (Teoria do Conhecimento); Que devo fazer? (Teoria do agir Ético); Que me é permitido esperar? (Filosofia da Religião); Que é o Homem? (Antropologia Filosófica). As três primeiras questões reportam-se à última, salientava.

Mas, acrescentarei eu, todas elas desembocam numa quinta que é, sem dúvida, filosófica e humanamente a principal: Como viver? A partir do momento em que tentamos responder com inteligência a esta questão já estamos a fazer filosofia. E como não podemos evitar colocá-la, temos de concluir que não se pode escapar à filosofia senão pela estupidez ou pelo obscurantismo. (…)
Também estamos a fazê-la quando nos interrogamos (de modo simultaneamente racional e radical) sobre o mundo, sobre a humanidade, sobre a felicidade, sobre a justiça, sobre a liberdade, sobre a morte, sobre Deus, sobre o conhecimento… E quem pode renunciar a isto? O ser humano é um animal filosofante: só pode renunciar à filosofia renunciando a uma parte da sua humanidade. (…)

A filosofia, escreve Kant, é para o homem um esforço sempre inacabado no sentido da sabedoria. (…) Trata-se de pensar melhor para viver melhor.”

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