Inteligência artificial. Paulo Portas: “Quem inova sabe infinitamente mais do que os decisores.”

Marta Roque

Cada vez que “se associou a ambição política à criação de um homem novo aterramos num totalitarismo absolutamente desumano, como aconteceu no fascismo, comunismo e nazismo, e em particular na União Soviética”, relembra Paulo Portas em debate com Michel Eltchaninoff, no Fólio – Festival Literário Internacional de Óbidos -, este domingo, na conversa sobre “Futuro”.

A história “louca” dos cosmistas e de transhumanistas russos contada no livro “Lenine foi à lua”, da editora Livros Zigorate, foi o mote desta conversa.

A inteligência artificial, o transhumanismo, o sonho comunista é utilizado hoje em Silicon Valey, assegura Eltchaninoff.

As origens ideológicas do pensamento do presidente russo Vladimir Putin e a sua evolução são o desafio lançado por Michel Eltchaninoff, especialista no pensamento russo, no livro “Lenine foi à Lua”, que conta a história do movimento cosmista russo e as suas influências na ciência hoje no ocidente, e em particular nos Estados Unidos, o grande rival da Rússia.

Numa mistura de investigação científica, metafísica pura e misticismo, o movimento que marcou o século soviético é uma das fontes de inspiração dos transumanistas californianos de Silicon Valley, apostados em moldar o futuro da humanidade, os “sonhos totalitários do passado comunista” existe hoje em Silicon Valey, diz Eltchaninoff.

Michel Eltchaninoff, doutorado em filosofia e especialista na história do pensamento russo, é editor-chefe da revista Philosophie e autor de uma dezena de livros. Com “Na Cabeça de Putin”, obteve o prémio da prestigiada “Revue des Deux Mondes”.

Colonizar o espaço, conservar os corpos dos mortos para os fazer voltar à vida e libertar a potência do espírito – o programa de acção do cosmismo russo começou a ser desenhado em meados do século XIX.

O desenvolvimento de inovação, na área da inteligência artificial, que é descrito como sendo o “mais vertiginoso de todos, tem o maior gap entre os inovadores e os decisores. Quem inova sabe infinitamente mais do que os decisores”, frisa Paulo Portas, o antigo ministro dos negócios estrangeiros do governo de Passos Coelho. Paulo Portas conhece bem a Rússia, dá aulas de geopolítica e costuma perguntar aos seus alunos qual a idade da Rússia, para começar o curso.

Numa altura em que tudo se contesta, “nem tudo é uma opinião e isso está a tornar-se muito perigoso”, diz numa alusão à cultura woke. No tempo em que a procura da “imortalidade está a tornar-se uma ambição trivial”.

“Quando deixarmos de acreditar que há uma distinção entre verdade e falsidade, as coisas correrão muito mal, e isso tem muito a ver com o universo digital de hoje em dia; há uma diluição: não há bem nem mal.”

Paulo Portas comenta, no Fólio, que este ano teve como tema o “Risco”, que a corrida ao espaço envolve cada vez mais países, havendo, por isso, uma democratização nesta área espacial: “Há muitas corridas ácidas para alterar a ordem internacional, há uma privatização da conquista do espaço, mas também há uma democratização.”

“Antigamente iam ao espaço os soviéticos e os americanos, à Lua e a Marte. Hoje vão também os Emiratos Árabes, com uma equipa de 600 cientistas e comandados por 1 mulher; também vai a Índia e o Japão.”

Uma área em que não há regulamentação nenhuma, Paulo Portas diz que “há uma corrida da imortalidade; muitos autores interessam-se por este tema, congelar o corpo para quando for possível ter a consciência noutro corpo.”

Enquanto na Rússia é “tabu” investir dinheiro para conseguir a imortalidade, nos Estados Unidos já há muito dinheiro público em universidades a investir na imortalidade, no congelamento dos corpos.

Várias universidades estão apostadas na investigação da inteligência artificial como o ChatGPT. Já surgiram milhares de semelhantes destes ChatGPT de processamento de linguagem e de imagem. Os oradores dão como exemplo as redes sociais que já utilizam inteligência artificial, o transhumanismo.

Paulo Portas perante esta inovação acelerada diz preferir “a ambição de relato de rejuvenescimento de Dorian Grey, mais prático do que resgatar os mortos, e mais interessante literariamente.”.

“O desenvolvimento de inovação, o mais vertiginoso de todos, a inteligência artificial, tem o maior gap entre inovadores e os decisores. Quem inova sabe infinitamente mais que os decisores. Muitos de nós não conseguimos perceber alguns processos de inteligência artificial”, considera o comentador da TVI.

Há um grande debate na investigação nas universidades americanas para saber se a inteligência artificial é inferior, é igual ou se supera a inteligência humana.

A edição do próximo ano do Fólio tem como tema a “Inquietação”, para celebrar os 50 anos do 25 de Abril e os 500 anos do nascimento de Camões. Vai decorrer de 10 a 20 de outubro de 2024, em Óbidos.

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