Dia Mundial da Doença de Parkinson

José Padrão Mendes, Médico Neurologista, Médico Intensivista, com especial interesse na Patologia Cardiovascular, Neuropsiquiatria, Doenças do Movimento, Cefaleias e Tonturas

Vários estudos demonstraram que o desporto de resistência contraria o declínio das capacidades físicas e mentais das pessoas com doença de Parkinson. Uma dieta mediterrânica com muitos legumes, fruta e produtos integrais é também considerada um fator de proteção e de abrandamento no progresso da doença.  

Dia 11 de abril é o dia da Consciencialização para a Doença de Parkinson, a segunda doença neurológica mais comum na Europa, a seguir à doença de Alzheimer. A doença de Parkinson pode ser tratada com medicamentos, mas estes perdem o seu efeito com o tempo e a cura ainda não existe. Os especialistas e os doentes esperam, por isso, há muito tempo, o desenvolvimento de novos medicamentos. A investigação avança, mas de momento as terapias que existem incidem principalmente no tratamento de sintomas.

Michael J. Fox foi diagnosticado com Parkinson aos 30 anos de idade

Michael J. Fox, o ator de “Regresso ao Futuro”, foi diagnosticado com Doença de Parkinson aos 30 anos e desde aí que luta incansavelmente contra esta doença. Criou uma fundação e tem financiado muita da investigação que se faz nesta área. Aqui se vê num frame do filme „Regresso ao futuro” e numa foto mais recente.

O que é a doença de Parkinson?

A doença de Parkinson é causada pela falta de um importante neurotransmissor, a dopamina, no cérebro – cada vez mais células nervosas que produzem este importante neurotransmissor morrem. A maior parte das células que produzem dopamina encontram-se no núcleo da base, de seu nome substancia negra e, com a idade e com especial incidência na doença de Parkinson, as células presentes neste núcleo vão morrendo. Isto leva ao possível surgimento de tremores musculares e inibe a mobilidade.

As causas da doença de Parkinson ainda não são totalmente conhecidas. Suspeita-se que seja uma combinação de fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida que conduzem à doença de Parkinson. Pensa-se que certos pesticidas e produtos químicos são possíveis fatores desencadeantes.

Que sintomas indicam o aparecimento da doença de Parkinson?

De acordo com os critérios de diagnóstico atualmente em vigor, a doença de Parkinson caracteriza-se por uma falta de movimento (hipocinesia), tremores em repouso (tremor), rigidez muscular (rigor) e instabilidade postural (instabilidade postural) que podem ocorrer à medida que a doença progride. No entanto, nem todas as pessoas afetadas tremem. Por outro lado, há muitas pessoas com tremores que não são afetadas por esta doença.

Os próprios doentes sentem uma diminuição da velocidade de todas as sequências de movimentos, sentem as articulações e os músculos mais rígidos e não conseguem relaxar corretamente. A caligrafia torna-se cada vez mais pequena e irregular, os braços deixam de balançar corretamente quando andam, a voz torna-se mais baixa e soa como se estivessem constipados. Tropeçam em pequenos ressaltos no chão, pois já não conseguem levantar corretamente os pés e desenvolvem um andar arrastado e de passos curtos. A postura erecta perde-se, os doentes caminham curvados para a frente, as actividades de motricidade fina tornam-se mais difíceis, por exemplo, fazer a barba ou utilizar o teclado do computador. Para além destas perturbações da função motora, também se desenvolvem outros sintomas ditos não motores, em combinações e graus variáveis, que podem preceder a doença em anos. Estes incluem movimentos e falar durante o sono, perturbações olfactivas, aumento da fadiga e adormecimento frequente durante o dia, ansiedade e estados de espírito depressivos.

Como é feito o diagnóstico?

Regra geral, a pessoa afetada começa por apresentar os sintomas ao seu médico de família, que a encaminha para um neurologista. O especialista efectua um exame neurológico específico, baseado em perguntas pormenorizadas, procurando os sintomas acima referidos. Um questionário para a deteção precoce da doença de Parkinson também pode ser útil. Se o exame revelar um abrandamento lateral dos movimentos (normalmente apenas um lado) e, por exemplo, um tremor das mãos em repouso, pode ser feito um diagnóstico clínico de síndrome de Parkinson. O neurologista deve agora, pacientemente, informar-se sobre todos os critérios de inclusão e exclusão da doença de Parkinson. Para responder a todos os critérios de exclusão, é necessária uma imagiologia do cérebro (tomografia computorizada ou ressonância magnética).

Numa segunda fase, é iniciada uma terapêutica medicamentosa com um substituto da dopamina, que deve conduzir a uma melhoria significativa dos sintomas do doente.

Mais qualidade de vida com a doença de Parkinson através do exercício e da nutrição

Existem também novas descobertas que já podem facilitar a vida quotidiana com a doença de Parkinson. Entre outras coisas, as novas diretrizes de tratamento salientam que, para além dos tremores e das perturbações do movimento, existem outros problemas comuns na doença de Parkinson que são frequentemente ignorados. Estes incluem tensão arterial baixa, obstipação, dificuldades em urinar e perturbações da fala ou da deglutição. Para contrariar estes problemas, podem ser utilizados medicamentos e exercícios.

É importante salientar que a doença de Parkinson também pode ser influenciada positivamente pelo exercício físico e pela alimentação. Vários estudos demonstraram que o desporto de resistência contraria o declínio das capacidades físicas e mentais das pessoas com doença de Parkinson. Uma dieta mediterrânica com muitos legumes, fruta e produtos integrais é também considerada um fator de proteção e de abrandamento no progresso da doença.

As pessoas com Parkinson podem também beneficiar de fisioterapia especial e de exercícios cognitivos. No entanto, até à data, estes programas personalizados só estão ao alcance de poucos doentes. Há terapias bastante eficazes, de fisioterapia, de terapia cognitiva e até de neuroestimulação que melhoram a qualidade de vida dos doentes.

Tem de haver uma aposta maior no tratamento não farmacológico da doença de Parkinson. Uma pessoa que recebe o diagnóstico de Parkinson não tem porque viver num continuum de perca de qualidade de vida. Existem equipas multidisciplinares que trabalhando em conjunto, melhoram a vida dessas pessoas e fazem com que essas pessoas possam levar uma vida normal. Mas infelizmente ainda são muito poucos os doentes que podem aceder a esses tratamentos.

Como neurologista, sei como esta doença pode ser devastadora, principalmente quando se manifesta em pessoas mais jovens, antes dos 50 anos. Mas não é o diagnóstico de uma doença que define uma pessoa, com o acompanhamento correto muitos dos doentes de Parkinson podem levar em frente os seus sonhos e contribuir ativamente para a sociedade até idades bastante avançadas.

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