Há tempos, narrei uma ida às finanças como uma odisseia. Hoje trago outra odisseia que vivi. Tenho direito, dada a minha provecta idade, a passe gratuito nos transportes públicos de Lisboa. Foi promessa eleitoral e foi cumprida. Embora gratuito, tem de ser carregado todos os 30 dias, na máquina de compra de bilhetes.
Não sei exatamente o que se carrega, uma vez que é gratuito. Mas pronto! Eu lá carregava fosse lá isso o que fosse. Até que um dia, ao tentar entrar, li a mensagem: inválido. Achei estranho. A minha idade até tinha aumentado. Se era uma oferta para maiores de 65 anos, eu não tinha passado para 64. Bom! Pedi informações e lá me disseram que havia duas estações de metro onde deveria tirar novo passe.
Também o poderia fazer por internet. Achei que seria mais prático tirá-lo em casa, sossegadinha. Naveguei por tudo quanto era sítio à procura do passe gratuito para maiores de 65 anos. Por muito que navegasse por águas do Senhor Google, tudo quanto consegui encontrar foi o formulário para fazer o pedido. Imprimi, preenchi, tirei uma fotografia atualizada, achei que a fotografia era de facto muito importante, pois, entretanto, eu tinha mudado de corte e cor de cabelo.
Também compreendia que fosse necessária uma prova de que eu residia em Lisboa. Lá fui ao site das Finanças e encontrei um longo documento onde constava a minha morada. Imprimi-o. Imprimi também uma declaração médica em como tinha direito a atendimento prioritário.
Munida de tudo isto fui a um dos dois locais indicados. O passe demorava 15 dias, mas se quisesse urgente, era de um dia para o outro, mas teria de pagar. Aceitei. Ah! Mas é noutro guichet. Lá fui. Aqui começaram os problemas. A senhora protestou por eu ter passado à frente porque a idade não era justificação. Apresentei-lhe a declaração do médico e pedi-lhe que lesse. Respondeu-me que não era médica. Apresentei o formulário e o comprovativo de morada. Olhou para o documento das Finanças e, sem o ler, disse que não era aquele. Voltei a pedir que visse que estava lá bem declarada a minha morada. Declarou-me que eu queria impor as minhas leis. Foi a gota de água.
Pedi o livro de reclamações. Era outra funcionária que o tinha. Mudei de guichet e foi-me dado o livro, mas sempre foi dizendo que eu poderia fazer por Internet, em casa, calmamente. Compreendi o objetivo e não aceitei. Foi à moda antiga, escrito à mão. Como havia um outro posto de atendimento, meti-me no metro e fui á, com os mesmos documentos.
Em cinco minutos, ficou o pedido registado e a poder levantar o famigerado passe no dia seguinte. Lá fui. Recebi um documento dobrado para ir levantar o passe noutro guichet. Levava o documento na mão ainda dobrado, quando o funcionário olhou para ele e declarou: não é esse. Desdobrei-o e mostrei-lho. Afinal era. Muito atencioso, entregou-me o passe e informou-me que todos os anos, durante cinco anos, que era a duração do passe, eu devia ir validá-lo no mês em que o tinha tirado. Nem comentei.
Pensei comigo: bem é uma espécie de IUC, mas ao menos é gratuito. Lá vim com o passe e, ao entrar na cancela de acesso ao metro, vi a mensagem: inválido. Ah! Pensei eu. Se calhar ainda o tenho de carregar na máquina. E era isso mesmo. Pronto! Finalmente está tudo em ordem. Não! Ainda houve um percalço. Pouco tempo depois, fiz uma viagem até ao fim da linha. Ao sair, lá pareceu a fatídica mensagem: inválido. Onde estará o problema?!
Tudo me parecia certo. Chamei um funcionário, que por sorte havia, porque nem sempre há e aí há que telefonar e esperar, mas não, havia um que veio prontamente, abriu a cancela e explicou-me o problema: é que o passe só é válido no Município de Lisboa, e eu tinha passado para um Município diferente. Elementar, caro Watson, como diria Sherlock Holmes. Lá me tinha lembrado disso?! Ora bem! Não posso deixar de comparar como se tira um passe mensal sénior ou não sénior em Barcelona: na máquina de tirar os bilhetes na estação do metro. Simples!
Em Genève, como não há metro, tira-se num posto dos transportes públicos, ao lado da Estação Central dos comboios. Não é preciso formulário, porque a pessoa que atende regista e fica registado para sempre. Também não é preciso levar fotografia, porque essa mesma pessoa tira-a eletronicamente e passados 3 ou 4 dias o passe é recebido na morada do utente. Mas leva -se de imediato uma declaração para poder começara a usar o seu passe gratuito, ou pago por inteiro, ou por metade, no caso de maiores de 65 anos não residentes.
E porquê tirá-lo ao lado da estação de comboios? Para que, quem chega à cidade de comboio, possa de imediato usufruir de passe mensal ou anual. E quem se hospedar em hotel recebe de imediato um passe para poder utilizar os transportes públicos. E o passe é válido em toda a extensão da linha. Só não se pode entrar em França.
Porque é que complicamos as coisas simples? E que dizer de um trabalhador que se queira inscrever na Segurança Social? Perde um dia de trabalho.