Jérôme Lejeune nasceu em França no dia 13 de junho de 1926, no seio de uma família católica. A mãe era música e o pai tinha um pequeno negócio de família. Foi um médico dedicado aos seus pacientes, em especial aos portadores de Síndrome de Down, e um investigador brilhante, aliando estas duas facetas de uma forma extraordinária.
Nos anos 50, com o Professor Turpin, demonstrou que as alterações dos dermatóglifos das pessoas com Síndrome de Down apareciam durante as primeiras fases de desenvolvimento. Posteriormente, identificou a alteração cromossómica causadora da doença – a presença de um cromossoma adicional, donde deriva a designação trissomia 21. Esta descoberta abriu um enorme campo de investigação para a genética moderna e lançou os fundamentos da citogenética.
Para o Professor Lejeune começou uma nova etapa, encontrar a cura que trouxesse o alívio aos seus pacientes. Para além da causa do Síndrome de Down, identificou outras doenças associadas a alterações do cariótipo. Foi fundador da disciplina de Genética Humana na Escola de Medicina de Paris e, pelas suas descobertas, foi galardoado com inúmeros prémios e nomeado como consultor na ONU.
Em 1972, iniciou-se em França a discussão para a alteração da Lei do Aborto, com a proposta de introdução das exceções relacionadas com as crianças deficientes. No dia seguinte a um acalorado debate televisivo, um dos pacientes do Professor Lejeune abraçando-o disse-lhe: “Eles querem matar-nos. Tem de defender-nos. Somos demasiadamente fracos e não sabemos como fazê-lo.”. Após isto, o Professor Lejeune, que, como cientista, tinha claríssimo que a vida humana começa na conceção e sempre viu a investigação como inseparável do tratamento, nunca mais deixou a sua cruzada pela defesa da vida dos nascituros e por legislação de proteção do embrião humano.
Percorreu incansavelmente o mundo inteiro dando conferências e seminários onde quer que fosse possível.
Durante 30 anos, fez mais de 164 apresentações na Europa, América, Austrália, Japão, o médio Oriente e no antigo bloco soviético. Ainda antes das alterações ás leis do aborto, em 1969, numa sessão da ONU, o Professor Lejeune falou sobre aquela criança única e irrepetível cuja vida estava a ser ameaçada. Afirmou: “A vida é um facto, não um desejo. (…) Estamos a assistir à transformação de uma Instituição de Saúde numa Instituição da Morte.”. Nessa noite, na carta que escreveu à sua mulher dizia: “Esta tarde perdi o meu Prémio Nobel.”.
Para além do Nobel, as suas posições custaram-lha a glória, a celebridade e o reconhecimento profissional. Como não podia ser intimidado, foi marginalizado, transformado num perigoso fundamentalista extremista que se envolveu numa batalho perdida à partida. Ele aceitou as consequências e nunca traiu a sua consciência. Nunca se queixou nem deixou de sorrir no meio desta adversidade. Nunca cedeu à tentação de transformar a sua luta em ataques pessoais, mesmo quando os seus adversários o faziam.
Para além da defesa dos nascituros, o professor Lejeune também desenvolveu esforços para que fosse
implementado o Estatuto do Embrião Humano, em defesa dos seus direitos, de forma a protegê-lo da
possibilidade de manipulação e experimentação que se adivinhavam como consequências das novas
descobertas. No dia seguinte à sua morte foi publicada no jornal Le Monde uma petição assinada por 3 000 médicos a pedir que o embrião humano fosse reconhecido como um de nós. Como é sabido, esta batalha persiste até aos nossos dias.
Em 1975 conheceu Monsenhor Karol Woityla, na altura Cardeal-Arcebispo de Cracóvia. Deste primeiro encontro nasceu uma profunda amizade que, mais tarde, levou a que o papa João Paulo II o convidasse para a fundação da Academia Pontifícia Provida, dedicada à contemplação e ação para expandir a cultura da vida. Infelizmente, o professor Lejeune apenas presidiu à instituição durante 33 dias, pois faleceu de cancro do pulmão a 03 de abril de 1994. No entanto, teve tempo para escrever os estatutos com todo o cuidado e também o juramento dos Servidores da Vida que todos os membros da Academia devem prestar.
No dia da sua morte, o Papa João Paulo II, disse: “ (O nosso irmão Jérôme), com as suas qualidades de biólogo instruído, interessou-se apaixonadamente pela vida. Foi uma das maiores autoridades mundiais na sua área.
Foi respeitado mesmo por aqueles que não partilhavam das suas convicções mais profundas. Hoje, queremos agradecer ao Criador pelo especial carisma do defunto. Temos de falar aqui de carisma, porque o Professor Lejeune foi capaz de empregar o seu conhecimento profundo da vida e dos seus segredos para o verdadeiro bem do homem e da humanidade, e apenas para esse propósito. Tornou-se um ardente defensor da vida, em especial da vida das crianças por nascer que, na nossa civilização contemporânea, é tão ameaçada. Perigo que se estende aos mais velhos e aos doentes. Hoje estamos perante a morte de um grande Cristão do século XX, de um homem para quem a defesa da vida se tornou um apostolado. É claro que, na situação atual do mundo, esta forma de apostolado dos leigos é particularmente necessária.”