Joseph Fadelle, o autor do livro “O Preço a pagar” (Paulinas Editora, 2011) desde 2001, é cristão e tem nacionalidade francesa, vive em França com a sua família, veio a Lisboa falar da sua experiência de vida e do seu país, por ocasião da JMJLisboa23.
Uma história verídica, contada pelo autor, passada durante o seu serviço militar. Mohammed, um jovem muçulmano iraquiano, oriundo de uma família xiita, teve como companheiro de camarata, um homem mais velho, Massoud, que por engano foi chamado ao serviço militar e aguardava que a administração reconhecesse o erro e o libertasse.
Estabelecem uma relação cordial, Mohammed logo simpatiza com aquele afável, bom conversador, de trato elegante, que sonha com o dia em que voltará para sua casa, perto de Mossoul, onde vivem a sua esposa e as quatro filhas.
Porém, ao descobrir que ele é cristão, o pânico apodera-se do soldado xiita, aterrorizado vê-o como um inimigo, um impuro, um herege face aos ensinamentos do Corão.
Surge-lhe então a ideia de poder converter este homem bom ao Islão, ensinando-lhe os princípios religiosos, os quais ele ouve com muita atenção e respeito. O clima entre eles é sereno e os dias passam em harmonia.
Massoud teve de se ausentar três dias em missão, sozinho na caserna e desocupado, o jovem encontra nos pertences do colega um livro chamado “Os Milagres de Jesus”, na capa tinha a fotografia dum homem a sorrir, cercado por um halo luminoso.
Nunca tinha ouvido falar de milagres e, ainda menos, de Jesus. Cedeu aos preconceitos e começou a lê-lo. Não foi ele que se apoderou do livro, mas a mensagem cristã que começou a habitar na sua alma, no seu coração e na sua mente.
Desta relação paradoxal, Mohammed saiu metamorfoseado. Regressado à vida civil, tinha somente um sonho: converter-se ao Cristianismo. Para os seus pais, irmãos e familiares era uma atitude impensável, uma loucura, no Islão a mudança de religião é um crime punido com a morte.
A família dele tudo fez para que ele abandonasse esta sua decisão, com intimidações, agressões, prisão e tortura. A autoridade religiosa máxima pronuncia contra ele uma “fatwa”. Os seus irmãos disparam contra ele, em plena rua. Gravemente ferido, desmaia.
Joseph Fadelle, o autor deste livro, vive em França com a sua família, desde 2001, é cristão e tem nacionalidade francesa, mas veio a Lisboa falar da sua experiência de vida e do seu país, por ocasião das JMJ.
Recorde-se que o Papa Francisco realizou a sua 33ª Viagem Apostólica fora da Itália e a primeira pós-pandemia, ao Iraque, entre 5 e 8 de Março, de 2021.
Foi a primeira vez que um Pontífice visitou este país muçulmano, maioritariamente xiita, onde existe uma importante comunidade cristã, mas onde reina uma grande instabilidade e os atentados terroristas são um perigo sempre presente.
Os cristãos do Iraque, cerca de 500 000 na actualidade, após as perseguições do EI, são uma parte originária da história e cultura deste país, conservando muitas tradições ancestrais, como o idioma caldeu, procedente do aramaico e que ainda é falado pelas famílias cristãs de Nínive.
“Sois todos irmãos” foi o lema desta visita, cujo logotipo mostra o Papa num gesto de saudação ao país, representado com o mapa e os seus símbolos, a palmeira e os rios Tigre e Eufrates, uma pomba branca, com um ramo de oliveira no bico, símbolo de paz, voando sobre as bandeiras da Santa Sé e da República do Iraque. Por cima da imagem está o lema da visita em árabe, curdo e caldeu.
A Mesopotâmia foi o berço da civilização e das religiões, motivo pelo qual o presidente do Iraque Barham Salih, de origem curda, considerou muito significativa este visita com um forte pendor histórico para todos os iraquianos e uma mensagens de amor, de paz e de tolerância que foi o mote desta viagem apostólica. Francisco foi como peregrino de paz, de Roma a Bagdad, com infindáveis visitas de helicóptero para Najaf, Nassiriya situada na Planície de Ur, Erbil, Mossul, Qaraqosh, pedindo fraternidade, animado pelo desejo de rezarem e caminharem juntos, incluindo os irmãos e irmãs de outras tradições religiosas, sob o signo do pai Abraão que reúne numa única família muçulmanos, judeus e cristãos.


