Depois do alegado episódio de tensão entre o Primeiro-ministro António Costa e o Presidente da Câmara de Lisboa Carlos Moedas, a propósito do apoio dado à organização das Jornadas da Juventude, Carlos Moedas esfrega as mãos com um contentamento efusivo pois sabe que a comemoração da implantação da República lhe trará um palco que não pode desperdiçar: António Costa está na primeira fila.
Precisa deste espaço. Desta afirmação. Do momento em que, de forma sub-reptícia, afirma a António Costa que «há mais marés…» e aproveita para tirar vários coelhos da cartola em várias direções!
Aproveita o palco para demonstrar as suas capacidades de liderança e escancarar a porta ao futuro. Diz no palanque, já ocupado por António Costa nas mesmas comemorações, “vou fazer deste discurso a notícia do dia” e ainda, pisca o olho aos liberais, aos democratas cristãos e até aos eventuais eleitores voláteis do CHEGA, repescando um assunto que à direita é caro.
Sabendo que a extrema-direita e a direita liberal exigem as comemorações de 25 de Novembro de 1975 como um símbolo nacional, Carlos Moedas, com o populismo a que nos habitua, clama que “o divórcio atual que sentimos entre a política e as pessoas, é apenas esse divórcio. A política tem de voltar a ser vista, sentida e vivida pelas pessoas” e desta forma, justifica a importância que dará na capital à data de 25 de Novembro com “uma grande iniciativa”.
Enquanto faz esta afirmação, conta os votos que pode ganhar e sorri ao olhar para Luís Montenegro, piscando o olho à liderança do seu partido.
Com esta afirmação, a admiração da extrema-direita, dos democratas cristãos (que sempre defenderam que o 25 de Novembro tinha de ser comemorado) e dos liberais, cresce em torno da aura de Carlos Moedas.
Foi, sem dúvida, uma jogada inteligente.
Todos os noticiários abriram com o seu discurso, fazendo do discurso do Presidente da República uma inexistência (Marcelo que lhe agradeça usando ao seu lado, num próximo evento, um boné com o logo da capital).
Mas o que importa nesta discussão, e que Carlos Moedas traz novamente para o debate político, é o significado desta data. Comete um erro à cabeça nivelando-a com o 25 de Abril. Uma tolice. Comemorar o 25 de Abril é comemorar o fim de 50 anos de ditadura, de repressão, de prisões políticas, de torturas, de extinções de associações e de um controlo obsessivo sobre as pessoas e as instituições.
Sim. É disto que se trata.
Já o 25 de Novembro, data em que a tentativa de golpe militar, liderado pela extrema-esquerda, foi travado, foi uma data de “equilíbrio” num país acabado de chegar à democracia e a aprender a viver nela.
A democracia continuou e quem queria proibir, extinguir, exterminar o PCP não o conseguiu.
E nos últimos 50 anos, todos os partidos, incluindo o PCP, contribuíram para a democracia dos dias de hoje.
Mais do que a discussão sobre a comemoração desta data, importa que a história seja contada com seriedade.
E já agora, neste anúncio, Carlos Moedas só não nos explica se esta data seria para comemorar em feriado. Feriados que fazem comichão ao PSD, que os retirou do calendário, justificando a decisão com a baixa produção no país, dizendo-nos, no fundo, que somos um povo preguiçoso.
Em que ficamos Sr. Presidente da Câmara?


