País que não celebra os seus filhos não é Pátria. Disto se queixou Camões. Di-lo no final dos seus maravilhosos Lusíadas:
Não mais, Musa, não mais que a Lira tenho destemperada e a voz enrouquecida,
E, não do canto, mas de ver que venho cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza duma austera, apagada e vil tristeza.
Ao longo do poema, Camões exalta o valor daqueles que cantam os feitos ilustres como estimulante para quem os pratica e para quem os escreve: Quão doce é o louvor e a glória dos próprios feitos quando são soados!
Cita o grande Alexandre, que prezava tanto os feitos de Aquiles como o poema de Homero que os celebrava. O mesmo Alexandre, quando entrou no Palácio de uma cidade conquistada, entre todos os tesouros que viu, apenas guardou para si, uma caixa preciosíssima.
Pegou nela, e um dos seus generais perguntou-lhe o que iria ele guardar nessa caixa tão preciosa. Alexandre de imediato lhe respondeu: os Poemas de Homero.
Tudo isto me ocorreu a propósito da justa atribuição do Prémio Camões a João Barrento, «reconhecido pelo júri como autor de uma obra relevante e singular em que avultam o ensaio e a tradução literária.»
O Prémio que, desde 1988, consagra um autor de língua portuguesa, que, pelo conjunto da sua obra tenha contribuído para o enriquecimento literário e cultural da Língua Portuguesa, não podia ter outro título que não Camões.
Ninguém mais do que ele enobreceu a língua, a literatura e a cultura portuguesas. Bastava-lhe ter escrito Os Lusíadas para ser o Príncipe dos poetas portugueses, mas a sua obra estende-se pela lírica, pelo teatro, pela epistolografia.
Só por si, a obra de Camões vale toda uma Literatura.


