A sociedade e o feminino

Guiomar Macedo, Fadista e Escritora

A natureza humana é física e psicologicamente programada para a complementaridade. Construir uma sociedade saudável e com futuro implica valorizar toda a pessoa humana com a sua natureza, do princípio ao fim da sua vida, honrando tanto o masculino como o feminino.

Apesar de as mulheres apenas no género se distinguirem dos homens, e de terem dado provas ao longo da história da sua capacidade e competência, – participando hoje em praticamente todas as áreas profissionais e da vida social, por todo o mundo e nomeadamente em Portugal, – o simples facto de serem mulheres relegou a maioria, durante milénios, e ainda hoje em muitos países, para uma situação de falta de liberdade, de direitos legais, de poder económico e de participação ativa na vida pública.

Surpreendentemente, os seus maravilhosos atributos reprodutivos naturais, de serem sexualmente atraentes e complementares para o sexo oposto, e de serem as gestantes da vida humana dentro de si mesmas, parece muitas vezes ser ocasião, não de valorização, mas de desprezo, vulnerabilidade, exploração, violência, inferiorização e incompreensão. Como se a pessoa se reduzisse à sua função reprodutiva. Como se o valor da pessoa humana dependesse de uma função e não valesse pela vida em si mesma, em todas as suas várias dimensões.

A humanidade é intrinsecamente masculina e feminina na sua constituição, ainda que exteriormente a participação de cada pessoa na reprodução da espécie se encontre adstrita a um dos sexos. Cada ser humano é geneticamente formado por um contributo exato de 50% do pai e 50% da mãe. E cada pessoa, seja de que sexo for, tem no seu cérebro um lado lógico dedutivo e um lado criativo e indutivo; e tem uma cabeça, um coração e necessidades básicas indispensáveis à sua sobrevivência. Não reconhecer estas características definidoras da humanidade é um contrassenso.

O ser humano é um ser social que, para se desenvolver de forma saudável, necessita durante a infância de amor incondicional e de cuidados, materiais e não só. É preciso amor. É fundamental respeitar a sua necessidade de apego e de autenticidade nas relações a que está vinculada. Precisa de ter uma família que a respeita, a valoriza, a aceita, a cuida e a protege. O ser humano precisa de se desenvolver para chegar à maturidade física, mental, emocional e espiritual, para se tornar o homem ou a mulher que nasceu para ser.

A natureza humana é física e psicologicamente programada para a complementaridade. Construir uma sociedade saudável e com futuro implica valorizar toda a pessoa humana com a sua natureza, do princípio ao fim da sua vida, honrando tanto o masculino como o feminino. Assim, ignorar o contributo específico das mulheres na sociedade, da sua visão própria da vida, da sua sensibilidade, entendimento e organização, é amputar a sociedade de uma metade que lhe é devida e necessária. A falta de diálogo, aceitação e valorização, quer do masculino pelo feminino, quer do feminino pelo masculino, resultam em alienação e em enfraquecimento, individual e social.

Se o século XX assistiu à emancipação da mulher na Europa, e em outros lugares, o facto é que esse processo foi lento, difícil e não se encontra completo. Basta pensar que, se legalmente mulheres e homens em Portugal, deviam ganhar o mesmo por trabalho igual, na prática é frequente as mulheres ganharem menos, para mencionar apenas o aspeto económico. Mas longo ainda é o caminho a percorrer para se alcançar a consciência de que a sociedade precisa, para ser saudável, de criar as condições para a mulher poder exercer mais plenamente a sua feminilidade. É necessário que o masculino queira acolher, reconhecer e valorizar o feminino, procurando estabelecer, não a competição ou o domínio, mas o diálogo. Da sua relação madura resultará a construção de uma sociedade mais humana.

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