Gabriela Ruivo: “Não gosto de facilitar a vida aos leitores”

Marta Roque

Gabriela Ruivo, a única mulher a receber o prémio Leya  (2013), e finalista do Prémio Literatura da União Europeia com o seu último livro “ Lei da Gravidade”, da Porto Editora, esteve à conversa com Ana Daniela Soares, sábado passado, no Pátio das Letras, na tertúlia literária “Voz dos Livros”. Numa organização da associação “Lar Doce Ler” e pela Casa das Letras, em Cabrela, Montemor-o-Novo.

A escritora gosta de “dar trabalho” aos leitores para fazerem o “puzzle” do enredo do livro, procura essa “sensação”, porque os livros mais interessantes “são os que dão trabalho”.

No último livro “A lei da gravidade” Gabriela Ruivo, “brinca com o conceito de literatura, com a forma como nos criamos como pessoas”, tem como tema central a violência doméstica e as diferentes formas que a violência pode assumir, “nem sempre é a agressão física”, a autora quis retratar uma “realidade negra”. Conta na conversa com a jornalista Ana Daniela Soares, autora do programa  “Todas as Palavras”, da RTP3.

Considera interessante como exercício literário mostrar o ciclo de violência, como se repete de geração em geração, acontecimentos que se vão repetindo, que “são sempre a mesma coisa”, afirma Gabriela.

Quis dar um conceito de tempo, não há passado e futuro, existe o presente. “Lei da gravidade”, da Porto Editora, é um romance autobiográfico, sobre o seu processo criativo da escrita  a autora questiona “como é que alguém pode imaginar uma realidade que não conhece?”.

Mas acredita que há “um momento em que se deixa levar pela imaginação. Quando começamos a criar já criamos uma coisa completamente diferente, já não somos nós.  Acho que há sempre um movimento de distanciamento.”

O livro passa-se num prédio, em que a mesma pessoa, em alturas diferentes da vida, está em vários andares do prédio. Mas as personagens não sabem disso.

Gabriela confessa que é difícil como escritora manter a faceta de psicóloga fora dos livros. “Criei uma personagem que trabalha em psicologia. Pus muito de mim nas opiniões, brincando e alterando.”

Sobre a temática de violência doméstica abordada no livro considera que hoje os casos são mais reportados e existe maior consciencialização do problema. No tempo da avó de Gabriela não se falava, era “algo normal”. Hoje as pessoas ficam alerta ao problema, já o sabem identificar. “Apesar de tudo, as coisas estão a melhorar. A partir do momento em que se pode fazer queixa, pode-se reportar. Estou otimista em relação a isso. “

Reconhece que “há sensacionalismo” no tratamento do assunto na comunicação social, ainda assim “não está tão mau como há 100 anos”.

A única mulher a receber o prémio Leya

Gabriela Ruivo, alentejana, psicóloga, estava desempregada a viver em Londres, quando aos 43 anos recebeu uma chamada de Manuel Alegre, presidente do júri do prémio Leya em  2013. O romance ‘Uma Outra Voz’, conta a história de uma família de Estremoz que decide emigrar para África.  Hoje mãe de 2 filhos dedica-se à escrita literária e ao artesanato.

O prémio Leya 2013 levou 4 anos para ser escrito, Gabriela estava longe de imaginar que ganharia, diz que “a ambição” era chegar à lista dos finalistas para publicar, e assim foi.

“Escrever histórias ficcionadas a partir de histórias verdadeiras é um risco”, confessa a escritora que tem histórias baseadas em histórias de pessoas da família. Ao longo do livro o personagem tem várias máscaras, apresenta-se como alguém que não é. “Nós também não nos mostramos completamente. É uma caricatura de todos nós, que o personagem leva a um extremo”.

Casa das Letras: a próxima residência literária de Gabriela Ruivo

A autora conseguiu a bolsa literária para escrever, o que facilita a vida, vai agora passar 3 semanas em residência literária na Casa das Letras, em Cabrela, que será “humildemente o centro do mundo”, comenta David Lopes, organizador do evento cultural, na tertúlia. Explica que a Casa das Letras, quer contribuir para que “os jovens ganhem mais hábitos de cultura”. David Lopes recorda António Mega Ferreira que “com arrojo e ambição dizia:  sonho com que Portugal possa ser um país de escritores.”

A Associação “Lar doce ler”, equipa de organização para os eventos literários, trabalha para pôr mais pessoas a ler, com a ambição de que a literatura “ajude as pessoas a serem mais felizes e participativas na sociedade”, segundo David Lopes.

A iniciativa literária “Voz dos livros” acontece mensalmente com o apoio da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo e da Junta de Freguesia de Cabrela.

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