Uma noite gloriosa

Susana Mexia, Professora de Filosofia

Em alguns pontos de Lisboa havia gente na rua, na província todos recordavam os motins do tempo da Primeira República e optavam por ficar em segurança nas suas casas. Juro que pouco ou nada se percebia, uns diziam umas coisas, outros exactamente o contrário.

Na manhã de 25 de abril, de 1974, aconteceu um “milagre”, o País estonteado, acordou mergulhado numa “democracia”.

Parece que foi um golpe de estado, ou uma revolução como alguns ousam chamar-lhe. Havia soldados na rua, avisos de que era mais prudente não sair de casa, os estabelecimentos de ensino encerraram, bem como todo o comércio, transportes e afins.

Bem no fundo ninguém sabia o que estava a acontecer, a rádio primeiro foi silenciada, depois ouvia-se em altos gritos o saudoso Zeca Afonso na sua Grândola Vila-Morena…

Tinha uma voz bonita, mas alguns preferiram ficar no recato do seu lar e ouvir Beethoven, naturalmente porque tinham gira-discos e LPs.

Enfim, o que na verdade se sabia era que nada se sabia e ninguém percebia nada do que se estava a passar. Em alguns pontos de Lisboa havia gente na rua, na província todos recordavam os motins do tempo da Primeira República e optavam por ficar em segurança nas suas casas. Juro que pouco ou nada se percebia, uns diziam umas coisas, outros exactamente o contrário.

Era claro que grassava um grande descontentamento em alguns sectores, alguns estudantes manifestavam-se, alguns cristãos também defendiam opiniões contrárias e se iam encontrando na Capela do Rato, em Lisboa. A Polícia intervinha com alguma frequência, a PIDE funcionava em pleno e a guerra no Ultramar revoltava muitos jovens e seus familiares.

Substituído Oliveira Salazar, Marcelo Caetano parece ter acenado com algumas liberdades, mas não convenceu muito.

E eis chegada a hora, escolhida por alguns, para mudar o governo. Mas um facto é que não se sabia viver em Democracia, por isso muito atropelo foi feito na área da educação, da sociedade, da política e da cultura.

Da Europa sopravam ventos de liberdades que, por vezes, tocavam a libertinagem. A boa educação foi substituída pela descontracção, as “massas” queriam o poder e alguma anarquia reinante, impediu o bom senso de continuar com os “bons costumes”.

Uma moeda de duas faces, este Golpe de Estado ainda hoje continua a dividir opiniões, a gerar desilusões ou a festejar como um “feito imortal” em que o cravo vermelho foi rei na lapela ou no cano das espingardas…

Pois, ao leitor eu deixo a liberdade de opinião, porque certezas certas, não as encontro…

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