Eu nasci e cresci numa região que, ainda hoje, e apesar da apropriação da data pela esquerda, celebra, convictamente, o 25 de Abril. Por isso, porque gostaria que esta data continuasse a ser celebrada por muitas mais pessoas, sem maniqueísmos e rancores do passado, era importante que se falasse sobre o que esteve na sua origem, assim como no mal que se seguiu.
Celebram-se este ano os 50 anos do 25 de Abril e começa a ser altura de refletir, longe das amarras de quem se apropriou indevidamente do seu significado, sobre o que esta data representa e como a devemos analisar perante a perspetiva atual.
Para tal, começo por responder à questão que dá título a este artigo. Há dois motivos para eu, convictamente, celebrar o 25 de Abril.
O primeiro, consiste no fim de uma ditadura com quase 50 anos. Nenhum liberal pode deixar de celebrar o fim de uma ditadura, seja qual for a respetiva orientação política. Uma ditadura, é uma ditadura! Neste caso, um fim que foi relativamente pacífico, cujos mortos resultaram da resistência dos agentes da PIDE, e não dos militares revoltosos ou da população.
O segundo motivo foi o fim das hostilidades no Ultramar. Quantos jovens de então, mobilizados à força para a guerra, alguns que, entretanto, morreram, outros que voltaram com feridas físicas e psicológicas nunca ultrapassadas, não desejaram que o 25 de Abril tivesse acontecido antes?
Eu nasci e cresci numa região que, ainda hoje, e apesar da apropriação da data pela esquerda, celebra, convictamente, o 25 de Abril. Por isso, porque gostaria que esta data continuasse a ser celebrada por muitas mais pessoas, sem maniqueísmos e rancores do passado, era importante que se falasse sobre o que esteve na sua origem, assim como no mal que se seguiu.
Por responsabilidade do próprio regime, perdeu-se a oportunidade de uma transição do Estado Novo para a democracia e o fim negociado da guerra. Uma transição como ocorreu em Espanha, como ocorreu, anos mais tarde, na América Latina, ou como ocorreu, na África do Sul, com o fim do Apartheid.
Uma transição que teria evitado a instabilidade política vivida durante o PREC, as prisões arbitrárias do COPCON, uma descolonização vergonhosa ou uma reforma agrária e um conjunto de nacionalizações que minaram o desenvolvimento de Portugal até à sua adesão à então CEE.
Perdeu-se a oportunidade para uma transição pacífica de um regime que não tinha apoio de uma parte significativa da população e que caiu sem que ninguém, e reforço este ponto, saísse à rua para o defender.
Há um antes do 25 de Abril, e existem razões para ter acontecido que uma direita mais conservadora é incapaz de reconhecer. Da mesma forma que a esquerda, incluído o Partido Socialista, é, ainda hoje, incapaz de reconhecer todo o mal que se seguiu, e que descrevi anteriormente, que foi, parcialmente, resolvido com o 25 de Novembro.
E é com esta reflexão que termino: é tão importante celebrar os 50 anos do 25 de Abril de 1974, como os 49 anos do 25 de Novembro de 1975!