Resultados das europeias. Desgaste de Macron e o crescimento da extrema-direita em países “faróis” como a França e a Alemanha

Marta Roque

Apesar de o aumento da extrema-direita em França e na Alemanha os três principais grupos parlamentares  o PPE, os socialistas e democratas e o Partido dos Renovadores mantêm-se no parlamento europeu. A vitória arrebatadora da extrema-direita em França leva Emmanuel Macron a dissolver parlamento e avançar para eleições no final de junho. Já na Alemanha o partido nacionalista AfD ficou em 2º lugar, um dos partidos mais extremista da direita radical na Europa.

O Chega teve um resultado muito abaixo das expectativas do partido nestas eleições europeias.  Gonçalo Ribeiro Telles acredita que o partido vai fazer a leitura de que não interessa ir para eleições nacionais “no curto prazo, não criarão crise política.”

O PS elege pela primeira vez uma mulher conseguindo a vitória em Portugal em contra ciclo quanto ao resto da Europa. A esquerda revela estar em declínio na maioria dos estados membros da União Europeia.

Mais de 360 milhões de europeus votaram nestas eleições europeias nos 27 Estados Membros, que vão determinar as forças políticas na Europa nos próximos cinco anos.

Tendo em conta a previsão do crescimento da extrema-direita, os 3 grupos principais mantêm-se no parlamento europeu: o PPE, os socialistas e democratas e o Partido dos Renovadores. Gonçalo Ribeiro Telles, especialista em política e comentador na SIC Notícias, diz ao Estado com Arte Magazine que são os “sinais positivos” destas eleições europeias. Apresenta como sinais mais negativos o resultado do partido Renew, situado no centro, de Emanuel Macron sofreu uma grande derrota,  tendo ficado nos 15,2% contra os 31,5% atingidos pela União Nacional, o partido de Marine Le Pen.

Ribeiro Telles considera que Macron fez bem em convocar as medidas legislativas para junho, “uma medida corajosa”, porque tudo leva a crer que o resultado possa ser favorável à extrema-direita. “Macron não tinha outra saída, já que era difícil para o Presidente francês ter uma voz activa e relevante na União Europeia com a perceção que dentro de portas a extrema-direita dominaria”. A leitura nacional que Macron faz dos resultados era “quase obrigatória.”

Gonçalo Ribeiro Telles, especialista em política e comentador da SIC Notícias, refere que a leitura dos resultados de Macron era “quase obrigatória” perante o crescimento do partido de Marine Le Pen

 

Em França, Macron apesar de estar a lidar melhor com algumas questões de segurança, o Presidente francês já não tem a força que tinha no país, dá como exemplo a questão da Guerra da Ucrania não é vista em França como em Portugal e como noutros países, comenta Gonçalo Ribeiro Telles ao Estado com Arte Magazine.

O apoio à Ucrania da França não é tão vincado como em Portugal, Macron não tem conseguido “capitalizar” sobre o tema da Guerra. “Teve um posicionamento internacional muito ziguezaguiante e também está a pagar por isso”. Marine Le Pen tem ligações profundíssimas a Vladimir Putin e à Rússia e isso tem o seu peso.”

França tem problemas de imigração mais complexos do que Portugal e outros países europeus, que já os têm há décadas. “Não acho que Macron esteja a lidar pior com a imigração, mas existe um desgaste ligado à sua pessoa e ao sistema que tem sido capitalizado pela extrema-direita enraizada historicamente, forte em França e que é agora visível com a União Nacional,” diz o especialista em política.

Na Alemanha os resultados são preocupantes, AfD está em 2º lugar, ainda assim um partido muito extremista dentro da extrema-direita europeia. Obteve o segundo lugar, com 16 – 16,5 por cento dos votos, muito atrás do partido dos democratas-cristãos CDU-CSU que conseguiu obter cerca de 29,5 -30 por cento dos votos.

Resultados dos partidos nas eleições de domingo para a Europa. Imagem do portal www.results.elections.europa.eu/pt/portugal
Resultados dos partidos nas eleições de domingo para a Europa. Imagem do portal www.results.elections.europa.eu/pt/portugal

“Quero acreditar que é circunstancial, mas tudo leva a crer que possa não ser, a realidade é complexa”, confessa. Apesar de tudo não foi tão mau como se previa, mas para Ribeiro Telles “é muito preocupante o crescimento da extrema direita e sobretudo em países faróis como a França e a Alemanha”.

O partido de extrema-direita AfD, excluiu o seu cabeça de lista, Maximilian Krah, da delegação de eurodeputados, devido a várias polémicas.

Chega atinge um resultado muito abaixo das expectativas

O Chega atinge apenas 9,8% dos votos elege dois deputados na Europa, tal como a Iniciativa Liberal, que ficou em quarto lugar (9,1%), a menos de 30 mil votos. Os dois partidos estreiam-se no Parlamento Europeu.  O partido de André Ventura sofre uma quebra relativamente às legislativas de março.

A derrota do Chega revela que Ventura fez uma má escolha para o cabeça-de-lista para a Europa, Tânger Corrêa, o que foi visível nos debates; uma prova de que os debates “têm força”, já que na campanha de rua André Ventura apareceu e “quis chamar tudo a si e quase secundarizar o papel do cabeça-de-lista.”

O comentador da SIC Notícias acredita que o mau resultado do Chega pode ter reflexo a nível nacional e no imediato, ou seja no parlamento português o partido “vai fazer a leitura de que não interessa ir para eleições nacionais  no curto prazo, não criarão crise política.”

Um resultado muito abaixo das expectativas do próprio partido nestas eleições europeias, dados que para Gonçalo Ribeiro Telles são positivos para Portugal, e para “um certo combate que tem de haver à extrema-direita.”

“Foi um bom sinal da Iniciativa Liberal ajudou a esvaziar o Chega. A candidata do PS ter ganho as eleições, foi relevante ter sido uma mulher e histórico, a primeira mulher do partido a conseguir o lugar de cabeça-de-lista nas europeias.” Na visão de Ribeiro Telles os partidos do centro esquerda e direita acabaram por fazer uma boa campanha, já a esquerda perdeu lugares em Bruxelas, tal como no resto da Europa parece estar em declínio.

Reforça no entanto que o PS ganha as europeias em Portugal, sendo um dos 5 estados membros entre 27 estados da União Europeia a conseguir a vitória em contra ciclo com o resto a Europa, ao contrário do Chega que não soube acompanhar uma certa onda da extrema-direita no resto da Europa.

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