A noite eleitoral de 9 de junho revelou que a escolha feita pelo Secretário-Geral do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, foi vencedora. Marta Temido é reconhecida pela sua resiliência, pela sua capacidade de trabalho e pela sua firmeza. Na verdade, o excecional desempenho no cargo de Ministra da Saúde durante a pandemia de COVID-19, a forma como encarou e tratou a capacidade de resposta perante uma emergência de saúde pública, reorganizando o Serviço Nacional de Saúde e a sua capacidade instalada, é sobejamente reconhecido. Não há um português que não a conheça!
A vitória do Partido Socialista reforça os valores da Europa que Schuman traduziu na sua declaração, texto base da constituição da agora União Europeia. O projeto europeu é, e sempre foi, desde a sua criação, um projeto de paz. E tem que continuar a ser. Não tenho dúvidas de que os partidos democráticos que elegeram deputados europeus contribui para este mesmo objetivo. E por isso, se a vitória do Partido Socialista é para mim importante, mais significativa é a vitória das forças democráticas em Portugal, que reforçam o projeto europeu, o projeto de paz e de solidariedade que foi crucial no momento da pandemia de COVID-19.
Foi a solidariedade europeia que permitiu uma justa distribuição de vacinas por todos os países. E nós não podemos ser indiferentes à importância que a União Europeia teve! A pandemia de ontem, as atuais alterações climáticas e a guerra às portas da Europa são razões suficientes para nos mantermos no mesmo projeto e encontrarmos soluções conjuntas.
Mas, nessa noite, o Partido Socialista teve outra vitória.
O resultado da Aliança Democrática foi um destacado segundo lugar, numa escolha direta do Primeiro-Ministro. Luís Montenegro escolheu Sebastião Bugalho, certamente convicto de que suas capacidades oratórias e a sua juventude iriam capitalizar votos e granjear a vitória. Mas Bugalho cometeu os erros clássicos de um principiante: convenceu-se de que ganharia, transpirava vitória pelos poros, chegando a comparar-se com Paulo Portas e a estabelecer o céu como o único resultado possível – o de um independente que acrescentaria valia à coligação na qual se candidatava.
Como o resultado não foi a vitória esperada, cantada e desejada, Luís Montenegro, Primeiro-Ministro, numa jogada, diga-se, inteligente, faz a conferência de imprensa ocupando todo o espaço mediático e fala ao país demonstrando a intenção do Governo de apoiar incondicionalmente a candidatura de António Costa a Presidente do Conselho Europeu.
O apoio agora anunciado pelo Primeiro-Ministro faz-nos percorrer a memória e lembrar que Sebastião Bugalho disse, logo no seu primeiro debate a 13 de maio, que “Não considero um bom princípio tornarmos Costa o centro do debate das eleições europeias”. E continuou: “Espero que não seja. Já tivemos nove anos de Costa como Primeiro-Ministro. É tempo de seguirmos em frente”, o que pode ser interpretado como a afirmação de que António Costa era, e é, passado.
Ao contrário, Marta Temido afirmou o seu apoio inequívoco à candidatura de António Costa. Marta Temido fez bem ao insuflar a sua escolha! A posição do Primeiro-Ministro no dia das eleições ganha, por isso, especial relevância, por ter reposto o sentido de estado no ato de apoio, tirando “o tapete” ao seu escolhido que agora diz “a reciprocidade é um sentimento português, que nós vamos colocar em prática neste caso”. Esqueceu-se de que o seu papel não é de comentador, mas sim o de político, papel esse que ficou por representar!
Por isso, SIM, “seguimos em frente” na construção de um projeto de solidariedade, que foi o que Sebastião Bugalho não foi capaz de demonstrar, no apoio à candidatura de António Costa a Presidente do Conselho Europeu. E foi assim que o PS, nesta noite, teve duas vitórias: a lista que Marta Temido liderou foi a mais votada; e o apoio do Governo a António Costa, o último Primeiro-Ministro e quiçá o futuro Presidente do Conselho Europeu. PS 2-0 AD!