Maria Mendonça, artista visual e designer, identifica-se com o “traço solto, não figurativo e intuitivo”, as suas telas de grandes dimensões exibem motivos florais em cenários abstratos, que segundo a artista “é uma tendência atual”. Abusa da cor, muita cor.
É a primeira artista residente da marca Varela Belas Artes, agindo como embaixadora nas intervenções em Museus Portugueses e Internacionais, Centros Culturais, Fundações e nos eventos internacionais em que participa.
Ao Estado com Arte Magazine Maria Mendoça revela que hoje em dia este modelo, criado pelo Vaticano e Casas Reais, está a ser adaptado ao nível de política cultural a nível mundial das artes às ciências, como é o exemplo a Fundação Champalimaud que também usa este modelo de “residente” para os investigadores.
Tem como referências inspiradoras a pintora portuguesa Vieira da Silva e o pintor e escultor alemão Anselm Kiefer. C/ audio.
Maria Mendonça, artista visual e designer, recebe-me no seu atelier, um espaço no Chiado, num primeiro andar da loja da Casa Varela Belas Artes, na rua Nova da Trindade. O atelier é uma cópia da sala Foyer do Teatro S. Carlos. Maria Mendonça conta com o apoio de casas antigas de belas artes, a Casa Ferreira onde desenvolve o seu trabalho e a Casa Varela, que por último reúne esforços na recuperação de casas centenárias no centro da cidade, como forma de fazer face aos preços elevados da habitação em Lisboa.
A marca Varela Belas Artes foi comprada pela família Sousa Ribeiro do Porto em memória ao fundador da Casa Varela, que incentiva a família Sousa Ribeiro a investir no Negócio das Belas Artes dedicando-se ao negócio na zona do porto. A casa varela com loja na Rua da Rosa e na Avenida Madrid em Lisboa, apoiava os artistas portugueses numa visão de mecenato, dando crédito a famosos artistas que hoje fazem parte da história da cultura portuguesa. Por sua vez, os artistas como sinal de agradecimento presenteavam o fundador da Casa Varela com peças originais como sinal de agradecimento. Maria Mendonça é a primeira artista residente da marca Varela Belas Artes, agindo como embaixadora nas intervenções em Museus Portugueses e Internacionais, Centros Culturais, Fundações e nos eventos internacionais em que participa.
A artista visual e designer, além da criação de pinturas de grande escala em acrílico sobre tela, assina peças de autor, na produção de coleções na cerâmica, no barro, no têxtil e no algodão. As cores fortes são presença da sua expressão, identifica-se com o “traço solto, não figurativo e intuitivo”.
Explica-me as peças que tem no atelier: uma encomenda para uma colecionadora de arte estrangeira que encomendou uma peça porque gosta de cores fortes e a pintura destina-se para um interior duma casa casa virada a norte daí precisar de muita cor pela ausência de luz natural.

Noutra parede do atelier mostra-me uma peça em tons azuis, um trabalho realizado para o Centro de Cultural do Morgado, onde fez uma residência artística a convite da Vereação da Cultura da Câmara da Arruda dos Vinhos, integrada numa exposição inédita sobre a poluição dos oceanos.
Maria Mendonça foi distinguida na área da pintura na Bienal Internacional de Valência, com a pintura “Harraga”, sobre a imigração clandestina no Mediterrâneo. O termo árabe refere-se ao movimento de jovens que imigram do norte de Africa para a Europa através do Mediterraneo.
A pintura de grandes dimensões representa um barco de borracha com uma grande quantidade de pessoas em desequilíbrio em que crianças e jovens ficam pelo caminho caindo no Mar, como forma de sensibilizar para o presente drama. A artista diz que “isto tem de acabar,” em tom de desabafo. (Foto-Pintura Harraga-Prêmio Bienal Internacional Valencia)
Exposição nos Açores
Este ano participou no programa das festas Sanjoaninas na ilha Terceira, nos Açores, Maria admite que não conhecia o evento, mas que ficou entusiasmada com o convite da empreendedora e aficionada, Maria João Esteves para integrar no programa das festas de 2024, com uma exposição inédita sobre os Touros da Terceira e a tauromaquia, uma tradição portuguesa, muito fomentada a nível popular na ilha terceira, com milhares de pessoas que ocorrem de todo o lado desde o Continente a América e Canadá.
“Mulher do Capote” é uma marca com lojas em Angra e São Miguel, nos Açores, dedicada ao comércio de artesanato português, de produtos nacionais e regionais, artigos produzidos e desenvolvidos por artesãos e artistas nacionais provenientes do continente e ilhas.
Devota a Santo António, integrou a exposição “Vita Prima”- Santo António em Portugal” organizada pelo Museu de Lisboa, EGEAC, com a colaboração do Dr. Pedro Teotónio Pereira, Director do Museu de Santo António. Desde 2022 que Maria participa na exposição “Tronos de Santo António”, personalizando com a sua pintura e assinatura para exposição na montra da Varela Belas Artes, no Chiado.

A convite da Associação Internacional da Cor — AIC (International Colour Association) elaborou uma peça de grandes dimensões representando a cor amarela na exposição “Portugal a Cores” na celebração do Dia Internacional da Cor, que teve lugar no espaço da Benetton, no Chiado. Uma tela com motivos florais num cenário abstrato, o que “é uma tendência na actual”, diz Maria Mendonça.
“APUS” é um quadro que me atrai a atenção e que não desilude, Maria revela que esta tela é sobre o voo do condor quando percorre a cordilheira dos Andes, avista-se “Macho picchu” no Peru, numa representação sobre os vales e os montes deste icónico país da América do Sul.
“Mexe com a parte espiritual, com a cultura dos índios, é uma história linda e mágica. Uma bela representação a nível visual”, confessa Maria. Esta peça foi organizada para a exposição “Apus” com a curadoria de Ana Cristina Baptista da “Art For You”.
Artista independente

Maria Mendonça frequentou o curso de Design no IADE – Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia e o Curso de Pintura na ARCO – Centro de Arte e Comunicação Visual. Iniciou a carreira com uma exposição no panteão nacional, tendo sido a primeira artista visual a fazer uma exposição inédita no Panteão Nacional, em Lisboa, seguiram-se exposições temáticas em monumentos, conventos e igrejas, fora do circuito das galerias. Trabalhou com 3 galerias de arte, mas como fecharam portas, resolveu seguir um caminho independente e solitário. “Como artistas independentes temos de fazer tudo: pintar, angariar apoios, inovar na seleção de espaços, fazer back-office, contactos e toda a organização empresarial.”
Maria entra no circuito do artista residente. Explica que é um modelo criado pelo Vaticano. Foi assim que Chopin, Mozart e Beethoven conseguiram vingar no seu trabalho, entre tantos outros nas áreas artísticas.
“Foi o Vaticano que iniciou este conceito de mecenato dando aos artistas a hipótese de fazer uma obra paga. Falava com as Casas Reais para disponibilizarem um palácio, uma casa de campo para os artistas e terem suporte financeiro para o desenvolvimento da encomenda,” conta a artista.
Começou em Montemor-o-Novo numa herdade com quartos preparados para receber alojamento local vocacionado para artistas. Maria ficou hospedada no mesmo “bungalow”, que um dia recebeu como artista residente o músico “Ryuichi Sakamoto”. Nesta residência, podia trabalhar num armazém de grande dimensão. Aqui, desenvolveu a criação de 30 pinturas para a exposição intitulada “Tikkun-A libertação do pecado”, sobre os pensamentos de Isaac Lúria e o judaísmo, exposição inédita projetada para os Paços de Concelho em Lisboa, no ano 2027, acompanhada por um documentário DVD, conjuntamente apresentado no catálogo da exposição que contou com a participação do realizador e produtor de cinema, Lauro António.
Depois desta primeira experiência como artista residente em Montemor-o-Novo, seguiu-se outra experiência no Redondo, também no Alentejo. Teve outras residências artísticas no Centro Cultural do Morgado, em Arruda dos Vinhos, e no Fundão.
Em 2010, fez uma obra para o papa Bento XVI durante a sua visita a Portugal, uma encomenda da APCD – Associação Portuguesa Cultura e Desenvolvimento. A tela teve como um lugar de eleição para a criação da pintura do pontífice “a serra da Gardunha que foi altamente inspiradora”, diz Maria.
Em 2013 por questões familiares teve de regressar a Lisboa para dar apoio aos pais, e na busca de encontrar um Mecenas para apoiar o seu trabalho artístico e no contexto da criação de uma peça para representar Portugal numa Bienal no Brasil, nessa altura quando procurava um espaço para ser artista residente “deu-se um feliz acontecimento” de ter feito uma proposta à Casa Varela, que persiste até aos dias de hoje, para além do convite de representar Portugal na I Bienal de Arte Sacra no Brasil na criação da peça “Ressurreição” (Acrílico s/ Tela; 200 X 200cm), “uma peça que ia para a reitoria da Universidade Católica de Porto Alegre, com a chancela da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, na altura do Covid-19”. Segundo Maria a peça neste momento está numa igreja na Diocese de Setúbal.
Residências artísticas
Sobre a experiência de ser artista residente revela que “é possível e consegue-se com persistência”. Hoje em dia este percurso de artista residente, criado pelo Vaticano e pelas Casas Reais, integra a estratégia da política cultural com sucesso no mundo. Há um intercâmbio de artistas a nível internacional que conseguem apoios num sentido amplo e estruturado, nas áreas da escultura, pintura, música, dança e até na ciência, como é exemplo a Fundação Champalimaud que também usa este modelo de cientista residente para os investigadores.
Existem plataformas de residências de artistas em todo o mundo. Abertas as candidaturas temos que apresentar um projeto de trabalho, para desenvolver numa residência durante o período mínimo de 6 meses e um máximo de 5 anos, culminando numa exposição e workshops em escolas.
Este ano participou na exposição “Prelúdio de Primavera” no Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sôr a convite da Fundação Casa de Fronteira e Alorna. O Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sor, no Alentejo, tem um projeto para artistas residentes, com intercâmbio de artistas a nível internacional que termina com workshops em escolas, desde o secundário ao universitário. Também este ano, marcou presença numa exposição internacional, no Museu da Cidade de Valência, no âmbito da VI Bienal, em homenagem ao escritor e poeta Francisco Brines com uma peça alusiva ao poema “El Azul”.
Na área do design, desenvolve peças de autor com séries limitadas para incrementar no mercado. Neste momento, têm em produção a assinatura de peças, na criação de candeeiros inéditos e que funcionam como peças únicas e que vão ser lançados brevemente com a parceria de uma olaria do Alentejo.
Como perspetivas de trabalho para este ano aguarda o resultado de concursos internacionais, e prepara ainda uma exposição num local a revelar.
Entretanto, frequenta exposições nos grandes centros culturais, museus e bibliotecas. Aos jovens artistas deixa um conselho: “não liguem ao que os outros dizem. Trabalhem muito, sigam o vosso instinto.”
Picasso é um exemplo para si. “Não esqueço uma entrevista feita a Picasso sobre de onde vinha a sua inspiração e talento. Picasso respondia sempre: “Eu estou sempre no estúdio a trabalhar, quando aparece a inspiração tenho sorte porque estou a trabalhar.”
Tem como referências inspiradoras a pintora portuguesa Vieira da Silva e o pintor e escultor alemão Anselm Kiefer que comprou uma herdade para montar um estúdio e também esteve no Alentejo, outra das grandes paixões na vida de Maria Mendonça.