Na proximidade do Natal, A Infância de Jesus, obra escrita pelo Papa Bento XVI, dá conta da alegria que, com o Nascimento de Jesus, se revela na pobreza de uma gruta.
Mas quando o livro saiu, um grande clamor se levantou: Bento XVI referiu que nenhum dos Evangelhos falava do burro e da vaca que tinham aquecido com o seu calor natural o Divino Menino. Escândalo!!!
Havia quem estivesse pronto a dar a vida para que o burrinho e a vaquinha fossem consideradas figuras históricas ligadas ao nascimento do Deus-Menino, deitados um, de cada lado das palhinhas, onde o Menino dormia.
Estas tradições, cheias de ternura e de significado são importantes para traduzirem a simplicidade em que Deus se humanou. E também a simplicidade da Sua mensagem. Jesus disse: “Vim apenas trazer-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros como eu vos amei.” Nasceu num estábulo ou numa gruta, foi anunciado aos pastores e não aos grandes do mundo, foi descoberto, longe, por três reis que souberam ver nos astros sinais do Seu nascimento.
Mas voltando à presença dos animais. Se não são nomeados nos Evangelhos, como surgiram então nas representações do presépio? São Francisco de Assis foi o primeiro a realizar um presépio em toda a sua simplicidade. Colocou uma vaca e um burro. Terá sido o começo dessa tradição? Talvez.
O burro está presente em três momentos importantes da vida de Jesus: quando nasceu, foi bafejado por ele e assim recebeu calor; quando São José recebeu a mensagem de que devia fugir para o Egito para O salvar da sanha de Herodes, foi uma burrinha que os conduziu através do deserto.
Braga festeja em quarta-feira de cinzas este episódio da vida de Jesus com a Procissão da Burrinha. Mais tarde, no final da Sua pregação, antes do início da Sua Paixão e morte, entrou em Jerusalém montado numa burrinha, rodeado pelo povo que o aclamava como o Messias prometido.
Em Barcelona, em domingo de Ramos a procissão que festeja esse acontecimento chama-se a Procissão da Burriquita. E lá vai a figura de uma burrinha, num andor devidamente engalanado. Em Braga, a burrinha é mesmo a sério. Há anos, numa cidade da Europa, não me lembro qual, vi uma homenagem ao burro, muito justa, muito merecida. Em oposição ao cavalo, animal de guerra, significando poder e arrogância, o burro é a ajuda do homem trabalhador. É simples e humilde.
Temos na História de Portugal um outro exemplo da burrinha como um sinal de paz: Santa Isabel, rainha de Portugal, vai impedir uma guerra entre pai e filho, montada numa burrinha, passando entre os dois exércitos que já estão formados, com os seus cavalos prontos para a guerra. Foi também uma burrinha que Santa Isabel, a Rainha Santa, escolheu para fazer a peregrinação a Santiago de Compostela. Não quis uma carruagem puxada por cavalos. Com podemos ver, o burro merece mesmo uma homenagem no chão sagrado de uma igreja.