A era digital, marcada pela ubiquidade da informação e das redes sociais, trouxe consigo uma série de novas experiências e desafios para a saúde mental. Podemos destacar entre esses desafios, FUD (Fear, Uncertainty and Doubt, em Português medo, incerteza e dúvida), o FOMO (Fear of Missing Out, o medo em perder uma oportunidade) e o JOMO (Joy of Missing Out, a alegria de não participar ou de perder uma oportunidade). A psicologia positiva, por sua vez, oferece um olhar optimista e conciliador para compreender e lidar com essas emoções, enquanto procura promover o bem-estar e a felicidade.
A psicologia positiva, com o seu enfâse nas emoções positivas, nas forças e virtudes humanas, e no significado da vida, oferece ferramentas para lidar com as emoções negativas associadas ao FUD, FOMO e JOMO.
O FUD, a tríade do medo, incerteza e dúvida, é uma estratégia frequentemente utilizada em contextos de marketing e política para manipular as emoções e procura orientar e direcionar comportamentos. Essa emoção negativa pode gerar ansiedade, paralisação e a tomada de decisões impulsivas. Este acrónimo esconde uma estratégia de marketing que consiste em desacreditar o concorrente espalhando desinformação sobre o produto rival.
Apesar de ser uma prática moralmente condenável em muitos países, o FUD é praticado ativamente nos Estados Unidos. Diríamos mesmo que é uma prática bastante antiga. Remonta à época da Guerra das Correntes, quando se discutia e debatia se a corrente elétrica levada aos consumidores deveria ser em corrente alterna ou continua. Nessa discussão, de uma maneira ardilosa, Thomas Edison conseguiu que as execuções no corredor da morte em cadeira elétrica fossem feitas com corrente alterna, caracterizando assim a corrente como perigosa.
A expressão também é utilizada no mercado de valores ou na negociação em criptomoedas para expressar momentos de alta volatilidade entre compradores e vendedores fazendo com que as tomadas de decisão sejam baseadas em fatores emocionais e não em estratégias.
O FOMO, por sua vez, representa o medo de perder essa grande oportunidade ou de ficar de fora de alguma experiência reveladora e intensa. O medo de ficar de fora é o sentimento de apreensão pelo facto de não se saber ou de se estar a perder informações, eventos, experiências ou decisões de vida que poderiam melhorar a vida de uma pessoa.
O FOMO também está associado ao medo de arrependimento, que pode levar à preocupação de se poder perder uma oportunidade de interação social, uma experiência nova, um evento incrível e espectacular, um investimento rentável ou o conforto daqueles que se ama e que nos amam de volta. Caracteriza-se por um desejo de estar continuamente ligado ao que os outros estão a fazer, e pode ser descrito como o medo de que a decisão de não participar seja a escolha errada.
O FOMO pode resultar de não saber de uma conversa, perder um programa de televisão, não ir a um casamento ou festa, ou saber que outros descobriram um novo restaurante. Nos últimos anos, o FOMO tem sido atribuído a uma série de sintomas psicológicos e comportamentais negativos.
A constante exposição às vidas aparentemente perfeitas nas redes sociais intensifica este tipo de sentimento, criando uma enorme pressão para se estar sempre ligado e tentar tomar parte em tudo. Este tipo de fenómeno foi identificado pela primeira vez em 1996 pelo investigador e professor de marketing Dr. Dan Herman, que levou a cabo uma investigação e publicou o primeiro artigo académico sobre o tema em 2000 no The Journal of Brand Management. Herman também acredita que o conceito evoluiu para se tornar mais difundido através da utilização de telemóveis, mensagens de texto e redes sociais, que ajudaram a dar corpo ao conceito do medo de ficar de fora para as massas.
O FOMO generalizou e intensificou esta experiência porque muito mais da vida das pessoas passou a ser documentada publicamente e de fácil acesso. Além disso, uma tendência comum é publicar sobre experiências positivas (como um ótimo restaurante) em vez de experiências negativas (como um mau primeiro encontro). Estudos revelaram que o medo de ficar de fora está associado à ansiedade e à depressão.
Em contraponto ao FOMO, surge o JOMO, a alegria de perder algo. Essa emoção representa a valorização do tempo para si mesmo, a desconexão das redes sociais e a busca por experiências autênticas e significativas. O JOMO pode ser visto como uma resposta adaptativa ao excesso de estímulos e à pressão social, promovendo o bem-estar e a saúde mental. O significado de JOMO é realmente abraçar a ideia de apenas encontrar alegria e felicidade, de optar por não participar ou perder actividades e dar prioridade ao prórpio autocuidado. É útil porque coloca um maior enfoque na escolha consciente daquilo em que se quer participar e não daquilo em que se sente pressionado a participar.
Aquela festa de aniversário que que não tem a mais mínima vontade de celebrar, mas que se sente obrigado a ir? Com o JOMO, trata-se de escolher o que quer fazer – e se decidir faltar a essa festa, trata-se de não sentir a culpa ou o FOMO que normalmente sente. E é também perceber que pode sentir-se mais realizado ou satisfeito se fizer uma caminhada no parque local ou planear uma noite tranquila a comer a sua comida favorita e a ver Netflix.
O JOMO permite ser autêntico e verdadeiro consigo próprio, com o que quer realmente fazer e com o que se valoriza.
Tudo isto pode ser mais fácil de dizer do que fazer. As redes sociais são o principal factor do aumento do sentimento de FOMO nas pessoas. É muito fácil percorrer os feeds dos amigos e ver o que eles estão a fazer e sentir emoções como tristeza, ressentimento e inveja. Por isso, um antídoto é dar um passo atrás nas redes sociais.
O JOMO consiste em concentrar-se mais na qualidade do que está a fazer do que na quantidade, por isso em vez de se inscrever em tudo, concentrar-se realmente nas actividades ou relações que são muito significativas para si é o que faz a diferença e nos faz aproveitar a vida.
O JOMO é bom ou mau? Embora existam muitas razões positivas para o JOMO, isso não significa que se devamos viver uma vida JOMO 24/7.
Se há uma desvantagem no JOMO, é que o FOMO pode muitas vezes ser um motivador para sair da sua zona de conforto e explorar coisas novas. E ver o que as outras pessoas estão a fazer pode dar-nos novas ideias em que não teríamos pensado antes.
E pode ser fácil para certos tipos de personalidade – olá, introvertidos – serem atraídos pela ideia do JOMO.
Se for mais introvertido, tende a sentir-se muito confortável com o JOMO. Não tem qualquer problema em perder muitos eventos sociais. Gosta de passar tempo em silêncio. As pessoas que têm FOMO tendem a ser extrovertidas. São sociáveis e gostam de sair.
A psicologia positiva é quase um oposto da psicologia tradicional, que se costuma focar nos problemas e nas doenças mentais. Em vez de se focar no que está errado, a psicologia positiva busca o que há de bom nas pessoas e na vida.
Podemos imaginar que a psicologia tradicional é como um médico que cuida da pessoa quando está doente. Já a psicologia positiva é como um personal trainer que ajuda a ficar mais forte e saudável para prevenir doenças.
A psicologia positiva, com o seu enfâse nas emoções positivas, nas forças e virtudes humanas, e no significado da vida, oferece ferramentas para lidar com as emoções negativas associadas ao FUD, FOMO e JOMO.
Através de práticas como a gratidão, a mindfulness e o cultivo de relacionamentos positivos, é possível fortalecer a resiliência, aumentar a autoestima e encontrar um equilíbrio entre as exigências da vida on-line e off-line.
A relação entre a psicologia positiva e estes conceitos é complexa e multifacetada. Por um lado, a psicologia positiva pode ajudar a identificar e desafiar os pensamentos negativos associados ao FUD e ao FOMO, promovendo uma visão mais realista e otimista da vida.
Por outro lado, o JOMO pode ser visto como uma aplicação prática dos princípios da psicologia positiva, ao valorizar experiências autênticas e significativas e promover o bem-estar.
É importante ressaltar que o FUD, o FOMO e o JOMO não são necessariamente doenças a serem “curadas”, mas sim experiências humanas complexas que podem ser compreendidas e controladas. A psicologia positiva oferece um conjunto de ferramentas que podem ajudar as pessoas a encontrar um equilíbrio entre as exigências da vida moderna e a busca por uma vida mais plena e significativa.
Em resumo:
• O FUD, FOMO e JOMO são emoções complexas que podem afetar o bem-estar emocional.
• A psicologia positiva oferece ferramentas para lidar com essas emoções e promover o bem-estar.
• O JOMO pode ser visto como uma resposta adaptativa ao excesso de estímulos e à pressão social.
• É importante encontrar um equilíbrio entre a vida on-line e off-line para promover a saúde mental.
Ao compreender a relação entre a psicologia positiva e esses conceitos, podemos desenvolver estratégias mais eficazes para lidar com os desafios da vida moderna e construir uma vida mais feliz e significativa.