Filomena Rodrigues, a presidente da concelhia do CDS de Vila Franca de Xira, e antiga oficial de justiça, atingiu o topo da carreira tendo acompanhado vários casos mediáticos da democracia portuguesa do inicio da democracia.
Recorda o ambiente do 25 de abril em que se deu o “desbotar” dos partidos políticos, “a mudança foi dos 8 aos oitenta”, no período revolucionário “havia um ambiente hostil na rua.”
A centrista de Vila Franca acompanhou de perto o processo da morte de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa em 1980. Trabalhava no 4º andar da Procuradoria da República junto do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa Judiciária. Um processo “abafado, tudo o que foi recolhido do acidente foi fechado num armário à chave, nem sequer ia ao magistrado”.
Filomena Rodrigues, autarca do CDS na Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira, é militante do CDS desde 1980, com vida activa na política desde 2000. É presidente da concelhia do CDS em Vila Franca de Xira, e conselheira nacional. Foi para o CDS pela “área social e por ser católica, encontrou essa doutrina do CDS”. Acredita que são valores que “ainda hoje estão presentes no partido.”
Das mulheres do CDS destaca duas em particular: Assunção Cristas, antiga líder do partido e Orizia Roque, ex-deputada, que esteve na concelhia do CDS, “uma Senadora, uma figura histórica dos democratas-cristãos”.
A autarca dos democratas-cristãos em Vila Franca de Xira no 25 de abril tinha 20 anos, vivia em Castelo Branco tendo seguido profissionalmente a área da justiça. Fez carreira nos tribunais em Lisboa até ao topo, algo de que “se orgulha muito, trabalhou em alguns dos processos mais mediáticos como as FPS25, o caso dos hemofílicos ou de Costa Freire e Zezé Beleza, diz em entrevista no podcast “Mulheres reais” a vice-presidente da comissão política distrital do CDS.
Do tempo revolucionário recorda o “desbotar dos partidos políticos, não havia mulher nos tribunais “as mulheres deviam estar em casa a coser meias.”
Em Portugal “passou-se dos oito aos oitenta”, recorda que “havia um ambiente hostil na rua. Os partidos revolucionários perseguiam as pessoas que não aceitavam as ideias revolucionárias, um “ambiente sempre a subir”. Na rua Joaquim António Mourão, em Castelo Branco, tiraram a D. Júlia de casa. Fizeram ocupações selvagens.”
As mulheres em Castelo Branco gritavam: “os nossos filhos já não vão à guerra”. Com a mudança de vida para Lisboa, assistiu ao comício da juventude do CDS no teatro S. Luís em 4 de novembro de 1974 “em que os revolucionários cercaram o teatro e agrediram os jovens que saíram pela força.”
Filomena Rodrigues com carreira na Justiça como oficial de justiça tem memória do caso das FP25 com atentados em todo o pais, em Lisboa e no Porto. No tribunal de Monsanto ( Lisboa ) ouviu um dos criminosos dizer: “Eu matei com orgulho. Era tenebroso ouvir esses depoimentos em tribunal.”
Os criminosos das FPS25 foram mais tarde indultados pelo Presidente Mário Soares.
Governo de Sá Carneiro: a democracia “foi interrompida”
“Por nunca terem descoberto os criminosos a democracia ficou interrompida com a morte de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa em 1980, no acidente de avioneta de Lisboa para o Porto,” conta Filomena Rodrigues que à época era oficial de Justiça, tendo acompanhado de perto o processo da morte do primeiro-ministro, uma vez que trabalhava no 4º andar da Procuradoria da República junto do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa Judiciária, em entrevista ao Podcast “Mulheres reais”.
Da investigação recorda que apenas “apareceu um armário novo chapeado e guardaram lá o processo a que só uma pessoa tinha direito a abrir e fechar. Da investigação vi pouco. Não deram oportunidade e meios para que isso acontecesse. Isso é doloroso. Não existem crimes bem feitos existem é péssimas investigações.”
As investigações não deram em nada, acredita que “foi tudo muito abafado”. Sobre o processo de Sá Carneiro diz ainda: “Eu senti que não quiseram investigar. Tudo o que foi recolhido do acidente foi fechado num armário à chave, o processo esteve sempre lá. Nem sequer ia ao magistrado.”
Diz mesmo que “a instrução do processo não foi bem feita, foi quebrada, não queriam mexer no processo, parou no tempo, ouviram-se algumas pessoas mas mais nada. Só um funcionário tinha acesso ao processo”.
Transitou para o Palácio da Justiça onde fez o inventário de Francisco Sá Carneiro, Filomena Rodrigues foi citar o filho mais velho de Sá Carneiro na casa onde habitavam os filhos de Sá Carneiro na Av. D. João V. Do inventário constava a casa e os bens pessoais.
O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem absolveu em 2010 o Estado português no caso Camarate – relativo ao acidente de avião que, em 1980, matou o então primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro e o ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa.
Numa decisão publicada on-line o Tribunal considera “sem fundamento” uma queixa interposta por cinco familiares das vítimas do desastre de Camarate. Nessa queixa, argumentavam que, por “falta de diligência” das autoridades, o prazo para reabrir o processo já tinha prescrito em 1996, quando tentaram reabri-lo, teriam sido “omitidas” provas durante o processo em tribunal e teria havido “falhas na avaliação” de provas.
Considera que a ação governamental foi interrompida pelo assassinato de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, admite terem sido “dois grandes estadistas. Foi interrompida a democracia. Iam fazer do país um país grande, com muito desenvolvimento”.
A centrista trabalhou com magistradas de renome: Maria José Morgado, Francisca Van Dunem, Cândida Almeida.
Filomena Rodrigues revela que Maria José Morgado é a magistrada com quem mais gostou de trabalhar. “ É uma técnica, uma pessoa brilhante, não demorava a despachar. Muito consciente.”
Também trabalhou com Francisca Van Dunem de quem tem boa memória e com Cândida Almeida trabalhou no processo FPs25.
Assume que nunca sentiu descriminação por estar na política num partido como o CDS. “Os homens olham e a mulheres vêem” Nós sentimos a política,” conclui a centrista.