Os eleitores e os cidadãos, em geral, não se compadecem já da tática política, da estratégia de comunicação e da manobra de palco como a que foi a apresentação da moção de confiança, baseada na vitimização. À política exige-se, cada vez mais, que seja cada vez mais e melhor.
Luís Montenegro, agora em espiral ao contrário e em queda livre, ignorou três princípios fundamentais sobre a democracia, nomeadamente a nossa. O primeiro é o de que já não temos, na Europa e em Portugal, uma democracia infantil ou sequer juvenil. A democracia portuguesa, por exemplo, com mais de meio século, é um regime exigente a nível da ética governativa e recusa, já, ser tratada de modo pueril.
O segundo princípio é o de que as democracias modernas requerem cada vez mais devoção à causa pública e a portuguesa não é exceção. Quero com isto dizer que a entrada para a política pressupõe um pré-requisito – a consciência de que a esfera privada de quem exerce funções pode influenciar a esfera da ação executiva ou, pelo menos, ser percecionada como tal.
Neste sentido, todo o escrutínio não intrusivo é não só saudável, mas também expectável. Atualmente, não acredito que alguém que se candidata a funções políticas e públicas, vá, como se costuma dizer, “ao engano”.
Haverá quem acredite que um Primeiro-ministro, atualmente, desconhece a importância da perceção pública? Custa a crer que ainda haja alguém assim tão ingénuo. A confiança não dispensa raciocínio e espírito crítico, muito menos diálogo e escrutínio.
O terceiro princípio é o de que a cidadania, em democracia, é cada vez mais interventiva e exigente. Quando ouvi Montenegro a recusar que o país precisa de mais explicações suas, lembrei-me curiosamente de uma expressão usada uma vez pelo Dr. Passos Coelho. Quando confrontado, na crise, com o facto de o país não aguentar mais austeridade, respondeu: “Ai, aguenta, aguenta”. Foi algo parecido o que o parlamento disse ao líder do PSD: “Ai, precisa, precisa”. E porquê? Porque não pode haver opacidade nestas matérias. É da transparência que a confiança nas instituições se alimenta. E sem confiança, nada se aguenta.
Infelizmente, a incapacidade de interpretar a conjuntura de modo mais alargado, por parte da direita em Portugal, mantém-se. Os eleitores e os cidadãos, em geral, não se compadecem já da tática política, da estratégia de comunicação e da manobra de palco como a que foi a apresentação da moção de confiança, baseada na vitimização. À política exige-se, cada vez mais, que seja cada vez mais e melhor.
Em todo o mundo, há atualmente um ambiente de refundação ideológica a que devemos prestar atenção, pela incerteza que constitui. O economicismo e a intolerância populista vão ganhando espaço.
É por isso que é tão importante salvaguardar a confiança nas instituições democráticas. Em Portugal, há décadas que estamos a cimentar essa relação, mas é necessário perceber que isso se pode perder, por vezes, em meses apenas. Luís Montenegro e a sua AD estão a falhar, também aqui, redondamente.


